Madeira ilegal transformada em carteiras em Moçambique
Sitoi Lutxeque (Nampula)
30 de novembro de 2017
Em Nampula, mais de metade dos alunos do primário e secundário estudam sentados no chão por falta de carteiras. Mas o Governo já começou a distribuir carteiras feitas com madeira ilegal, confiscada na "Operação Tronco".
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Sania Salvador, de 7 anos, frequenta a 2ª classe na Escola Primária de Muthita, na cidade de Nampula. É um dos vários estabelecimentos de ensino da província mais populosa de Moçambique que enfrenta problemas sérios de falta de carteiras.
''Na nossa escola não tem muitas carteiras, costumamos sentar-nos na capulana [estendida no chão]'', disse.
Neste ano letivo, que estás prestes a terminar, já em dezembro, inscreveram-se mais de um milhão de alunos nas escolas primárias e secundárias de Nampula, mas mais de metade estuda sentada no chão.
O Governo moçambicano está a tentar solucionar o problema. E já começou a distribuir em todo o país carteiras escolares, feitas a partir de madeira apreendida na ''Operação Tronco'' - campanha lançada em março pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural.
Mais carteiras graças a madeira ilícita
No último sábado (25.11), o governador provincial Víctor Borges entregou mais de 500 carteiras às escolas de Nampula e assegurou o seguinte: ''Através deste programa de produção e distribuição de carteiras, vamos até finais deste ano 10 mil carteiras. No próximo ano vamos receber 80 mil carteiras, oito vezes mais a quantidades deste ano.''
Madeira ilegal transformada em carteiras em Moçambique
Mariana Atumane, mãe e encarregada de educação, elogia o programa de produção e distribuição de carteiras.
''Com esta iniciativa reduzir-se-á significativamente o número de crianças que estudam sentadas no chão, facto que poderá contribuir para a melhoria da qualidade de ensino e o bem estar dos nossos filhos'', afirmou.
O governador da província, Vítor Borges, prometeu que, em breve, o problema da falta de carteiras será coisa do passado: ''Em 2019 vamos receber 58.500 carteiras, ou seja, até 2019, Nampula vai receber 148.500 carteiras, isso vai permitir que nenhum aluno a partir de até 2019 estude sentado no chão. Mas não basta produzir e distribuir carteiras, queremos pedir aos pais e encarregados de educação, aos alunos e a toda a sociedade para conservar essas carteiras.''
Os ciclistas do carvão de Sofala
Produzem-se diariamente mais de 15 toneladas de carvão vegetal em Sofala. Este é transportado de bicicleta para os clientes, percorrendo longas distâncias. O abate descontrolado de madeira está a causar desertificação.
Foto: Gerald Henzinger
Um ciclista de carvão
De distâncias que perfazem até cem quilómetros é transportado carvão de madeira, do interior, para segunda maior cidade moçambicana, a Beira. Este ciclista transporta cerca de 120 quilos de carvão que poderá vender por 650 Meticais (20 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
A caminho
Os cerca de meio milhão de habitantes da Beira queimam diariamente 15 toneladas de carvão de madeira. O carvão vegetal é produzido no interior da província de Sofala e transportado de bicicleta até os clientes, o que representa um enorme esforço físico.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas sobrecarregadas
Normalmente as bicicletas não oferecem lugar para mais de três sacos, se se quiser pedalar. Este transportador colocou seis sacos, ou seja cerca de 300 quilos de carvão, e empurra a bicicleta por detrás, guiando-a com duas cordas amarradas ao volante.
Foto: Gerald Henzinger
Pequenas reparações
As bicicletas usadas em Moçambique vêm habitualmente da Índia e têm uma qualidade duvidosa. Sob o peso do carvão as varetas das rodas partem com facilidade. As distâncias são muitas vezes tão grandes que dificilmente se fazem num dia, os ciclistas dormem por isso na berma da estrada.
Foto: Gerald Henzinger
Paisagem devastada
Não existe um verdadeiro controlo do desmatamento. No interior da Beira já quase não existem árvores. Quase todas elas foram abatidas e transformadas em carvão vegetal. O Governo, em colaboração com as autarquias, tenta travar a destruição ambiental. Agora cada aldeia tem uma cooperativa que distribui concessões aos produtores.
Foto: Gerald Henzinger
Desmatamento avança
Poucos produtores respeitam no entanto as normas. A erosão dos solos e a desertificação são as consequências do abate descontrolado.Torna-se cada vez mais difícil obter madeira para a produção. Não apenas devido aos pequenos produtores do negócio do carvão. Grandes empresas nacionais e internacionais, sobretudo chinesas, derrubam árvores e exportam os troncos.
Foto: Gerald Henzinger
Padre Emílio em Chissunguwe
O padre brasileiro Emílio Moreira defende os interesses dos produtores de carvão vegetal. A sua paróquia abrange as comunidades de Chissunguwe, Njangulo, Nhangau e Casa Partida. Estas comunidades situam-se entre 30 a 40 quilómetros da Beira. A imagem mostra uma visita do sacerdote à comunidade de Chissunguwe, na qual ele procura introduzir a plantação de legumes como alternativa ao carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Lenha para carvão
Em lugares como Chissunguwe produz-se o carvão utilizado na Beira. Este monte de lenha arde já há alguns dias e deverá produzir três a quatro sacos de carvão, pesando 50 quilos. A lenha é recolhida a grande distância porque em Chissunguwe há anos que deixou de existir.
Foto: Gerald Henzinger
Nando - Produtor de carvão
Na localidade vizinha Njangulo ainda existe um pouco de floresta. Ali Nando produz o seu carvão vegetal. Desta pilha de lenha poderão resultar cerca de dez sacos de carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha ardidas
Estas pilhas já arderam na totalidade e o proprietário aperta o último saco de carvão, que de imediato transportará de bicicleta para a Beira. A capital da província de Sofala é a maior cidade do centro de Moçambique e o maior mercado regional para o carvão vegetal.
Foto: Gerald Henzinger
A caminho dos clientes
Fontes de energia alternativas como gás ou electricidade não são acessíveis à maioria dos moçambicanos e, por isso, os produtores de carvão continuam a ter muita procura. Botijas de gás para cozinhar têm de ser importadas da África do Sul, isto apesar de Moçambique exportar gás para o país vizinho.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha nas serrarias chinesas
Desde o escândalo em torno da exportação de troncos inteiros por empresas chinesas, as mesmas começaram a trabalhar a matéria-prima em Moçambique. Desta forma, podem continuar a abater árvores e a exportar madeira. Os restos das serrarias são aproveitados pelos locais para a produção de carvão.