Até agora, o projeto "Reencontro Familiar" conseguiu localizar em Moçambique cerca de 50 pais que viveram e trabalharam na antiga Alemanha de Leste e mais de 60 filhos que eles deixaram na Alemanha.
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O "Reencontro Familiar" é um projeto criado há mais de dez anos por ex-trabalhadores da antiga República Democrática Alemã (RDA), chamados madgermanes.
Até agora, facilitou o encontro de cerca de 50 pais que viveram e trabalharam na Alemanha com mais de 60 filhos que estão a viver na Europa.
Juntos 24 anos depois
Fernando Ali, 54 anos de idade, reencontrou o filho no ano passado graças à iniciativa. Quando voltou para Moçambique, após a reunificação da Alemanha em 1990, Ali deixou o filho Kevin no país. Mas em 2017, o jovem, que completa 24 anos este ano, viajou a Moçambique para reencontrar o pai.
A reaproximar famílias de madgermanes há mais de uma década
Os dois passaram nove meses juntos a relembrar o passado. Kevin gostaria de ficar com o pai em Moçambique, mas acabou por voltar. "O país atravessa muitas dificuldades. Teve de voltar para a Alemanha. É muito doloroso, porque não queríamos ficar separados. Foram tantos anos sem comunicação. Ele procurava por mim e eu por ele. Durante 24 anos, não conseguimos nos localizar, até ao ano passado", contou o pai em entrevista à DW.
Emocionado, Fernando Ali acrescentou que, neste momento, seria muito difícil voltar a viver na Alemanha, com Kevin e com a mãe dele. Hoje, Fernando Ali tem outra família em Moçambique: "A minha atual esposa respondeu que eu poderia ir, desde que trabalhasse e mandasse dinheiro", revelou. Mas o moçambicano acredita que, com a sua idade, seria difícil arranjar emprego na Alemanha.
Mais reencontros
Também Júlio Armando, de 57 anos, trabalhou na antiga Alemanha de Leste. Não deixou uma família para trás, mas ajudou uma menina a encontrar o pai em Moçambique. "Ela esteve cá em julho de 2017 e conseguiu localizar o pai, que agora está na África do Sul. Aproveitou a oportunidade para visitar Inhambane, a terra natal do seu pai", relatou.
Segundo Armando, a menina disse que gostaria de levar a mãe para viver em Moçambique.
Como tudo começou
O responsável pela iniciativa "Reencontro Familiar" é Zeca Cossa. Este madgermane lembra que tudo começou quando uma menina na Alemanha insistiu em conhecer o pai em Moçambique. Isso foi em 2005. Cossa passou, então, a usar a lista dos madgermanes que tinha em todo o país e começou a dedicar-se ao assunto. "Quem é, onde vive, a sua tribo. E foi a partir daí que comecei a trabalhar com isso", explica.
Zeca Cossa conta agora com a ajuda da menina que localizou o pai na cidade da Beira, no centro de Moçambique. Ela, na Alemanha, procura pelos filhos de moçambicanos com mais de 25 anos de idade. "Eu disse que ela deveria procurar outros mulatinhos, cujos pais são de origem moçambicana e que nunca os viram. Ela aceitou o desafio. E, desde 2005, procura por essas pessoas. Só ela já conseguiu ajudar três famílias a reencontrarem-se".
Moçambique: as pedrinhas de Chimoio
É uma tradição forçada pela necessidade: os habitantes mais desfavorecidos de Chimoio aproveitam as obras na EN6 para apanhar pedras que, vendidas, são ajuda preciosa ou, muitas vezes, única fonte de sobrevivência.
Foto: DW/Bernardo Jequete
As pedras que valem a vida
É com estas pedrinhas que alguns moçambicanos sobrevivem, em Manica. Os populares madrugam para se deslocarem ao local visando retira-las e amontoá-las ao longo da via em construção. A rotina é diária porque quem consegue retirar maiores quantidades consegue também maior valor. Uma carrada ou uma tonelada e meia chega a custar mil e quinhentos meticais ( cerca de 20 euros).
Foto: DW/Bernardo Jequete
As obras não podem terminar
Os populares que vivem da atividade de retirar as pedrinhas para a sua sustentabilidade no quotidiano ao longo da EN6 em Manica, estão a torcer pela demora do término da obra para continuarem a ter o negócio. Eles dizem que caso termine não terão mais outra atividade que lhes possibilite a ter dinheiro.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Sustento dos filhos e olho no investimento
A adolescente na imagem tem 18 anos de idade e dois filhos. Também se dedica à recolha de areia grossa para a venda visando sustentar os seus filhos, uma vez que o seu marido nada faz. Ela disse estar a fazer o trabalho para obter fundos, visando investir em negócio de venda de tomate em mercados.
Foto: DW/B. Jequete
Exclusivamente à mão
É uma tarefa extra, quando aparece um cliente que necessita de mais de uma tonelada de pedrinhas. Elas buscam com baldes para colocá-las no carro. Não utilizam pás, enxadas nem picareta, para tornar mais fácil o trabalho de baldeamento das pedrinhas.
Foto: DW/B. Jequete
Pedra a pedra
Na vida nem tudo aparece sem sacrifício. Mesmo apanhando as pedrinhas ao longo da via, levam muito tempo para obter 20 quilogramas. Na imagem, pedra a pedra, as envolvidas em actividades de recolha vão enchendo o balde de 10 quilogramas. Acabam amontoando toneladas de pedrinhas, cujo produto da venda serve para se alimentarem.
Foto: DW/B. Jequete
Único sustento da casa
Duas senhoras uniram-se para apanhar as pedrinhas, como forma de apoiar os seus maridos que também não trabalham. Disseram ter vendido mais de três toneladas desde que ingressaram naquela atividade de apanhar pedrinhas, amontoa-las e vende-las. Com a venda já obtiveram cinco mil meticais (cerca de 55 euros). Confessaram ter comprado alguns utensílios domésticos, sapatos para filhos e comida.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Fonte de rendimento, fonte de alimentação
Algumas mães e pais obrigam os seus filhos a deambularem pela via à procura das pedrinhas, porque quanto maior for o número de agregados na recolha das pedrinhas, maior é o produto. Virgínia Amossua (na imagem) vai com a mãe para aquele local, para reforçar a comida em casa.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Pedras por livros
A adolescente na imagem chama-se Laura Vicente Mbanzo. Ela diz estar a apanhar pedrinhas ao longo da berma da EN6 para vender e comprar material escolar, visto que seus pais não trabalham e a mãe obrigou-a a esta atividade.
Foto: DW/B. Jequete
Horas de trabalho
Pela escassez das pedrinhas nas bermas da via, já se leva horas para encher uma bacia de 10 quilogramas. É dolorosa a atividade que os populares da província de Manica vêm desenvolvendo.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Enquanto os carros passam...
Anabela Sabão, 48 anos, retirando as pedrinhas da placa central da estrada nacional 6, na cidade de Chimoio. A pedra que está sendo retirada tem como destino a venda. Anabela alega não ter condições para se alimentar em casa.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de emprego obriga ao sacrifício
Elisa Tomon alega praticar a atividade pela falta de emprego. Diz ter a 12ª classe, mas pela ausência de trabalho viu-se obrigada a fazer parte da atividade de recolha de pedrinhas ao longo da berma da EN6.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Local de recolha, local de comércio
Ao longo da EN6, não constituem novidade os entulhos de pedras colocadas em sacos. As pessoas interessadas contactam os proprietários que ficam bem próximo das amostras.