Mais de 100 magistrados participaram de protesto no sábado (13.04) em apoio aos manifestantes. Sociedade civil alerta para o endurecimento da repressão policial.
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Os magistrados da Argélia, que desempenham um papel fundamental na supervisão das eleições do país, disseram este sábado (13.04) que boicotariam a eleição presidencial de 4 de julho em apoio ao movimento de protesto.
Mais de 100 magistrados participaram de um protesto em frente ao Ministério da Justiça em resposta a uma iniciativa do Clube dos Magistrados - um grupo emergente criado como uma alternativa ao Sindicato Nacional de Magistrados do regime.
"O Clube dos Magistrados decidiu boicotar a tarefa de supervisionar a eleição presidencial", disse Saad Eddine Merzoug, um juiz de El Oued, no sudeste do país.
Merzoug afirmou que o novo órgão tem membros em todos os tribunais do país, sem especificar números.
Segundo a Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos, vários ativistas foram presos no sábado, enquanto se preparavam para voltar ao principal local de protestos na capital, condenando a ação.
Said Salhi, vice-presidente da Liga, observou que o clima era diferente em comparação à sexta-feira (12.04).
"Geralmente [as manifestações] começam alegremente, mas havia um desejo por parte das autoridades de limpar a área", disse, acrescentando que o ponto de virada aconteceu dias antes, quando a polícia tentou pela primeira vez dispersar uma manifestação estudantil em Argel com gás lacrimogêneo e canhão de água.
Os manifestantes prometeram continuar com os protestos contra o Governo interino de e as eleições planejadas para 4 de julho, argumentando que os líderes que emergiram do "sistema" Bouteflika não podem garantir votações livres e justas.
Aumento da repressão
Os protestos inicialmente calmos da passada sexta-feira (12.04), no centro de Argel, deterioraram-se e transformaram-se na pior violência de rua desde que as manifestações começaram em meados de fevereiro, exigindo o fim do mandato de 20 anos do então Presidente Abdelaziz Bouteflika, que renunciou em 2 de abril.
A polícia disparou jatos de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes que, por sua vez, lançaram pedras e garrafas, incendiaram pelo menos um carro da polícia e transformaram grandes lixeiras em barricadas.
Foram relatados ferimentos por ambos os lados e ativistas levantaram temores de que o impasse tenha entrado em uma nova fase.
"A mobilização de sexta-feira foi diferente por causa da escala da repressão," segundo a vice-presidente da Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos.
A cientista política Cherif Driss avalia que, enquanto as manifestações continuaram inabaláveis, "a polícia está a reduzir o espaço público para expressão".
Driss disse ainda, no entanto, que "a resposta permanece moderada e profissional. Não há repressão brutal".
Presos e feridos
A polícia atribuiu a violência de sexta-feira a "delinquentes" infiltrados na multidão e disse que 108 pessoas haviam sido presas, enquanto alguns manifestantes também responsabilizaram "arruaceiros" pelos confrontos.
A Direção Geral de Segurança Nacional informou que 83 policiais haviam sofrido ferimentos, mas negou ter recorrido a táticas repressivas e disse que estava apenas a manter a ordem pública.
Vários manifestantes também foram feridos e pelo menos um foi atingido no peito pelo que parecia ser uma bala de borracha, segundo um fotógrafo da AFP.
Grupos de ativistas enfatizaram seu compromisso com a não-violência, embora algumas lojas e propriedades tenham sido danificadas após os protestos nos primeiros dias do movimento.
"Os manifestantes estão muito comprometidos com a continuação do movimento em sua forma pacífica", disse Abdelwahab Ferfaoui do grupo cívico Youth Action Rally. "Esta é a chave do sucesso,“ afirmou.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.