Magufuli faz "limpeza" no setor público da Tanzânia
Gwendolin Hilse | Jan-Philipp Scholz | gs
16 de maio de 2017
10 mil funcionários públicos da Tanzânia tiveram até segunda-feira para abandonar os seus cargos, sob pena de serem penalizados ou irem para a prisão. A ação de limpeza no setor público gerou polémica.
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A decisão surgiu depois das investigações aos diplomas de cerca de 435 mil funcionários. Ficou provado que 10 mil apresentaram documentos falsos nas candidaturas e há ainda três mil funcionários suspensos, sob investigação. Alguns utilizaram documentos de familiares, outros falsificaram diplomas e outros nem sequer tinham documentação nos registos.
Os trabalhadores fraudulentos foram afastados, sob pena de enfrentarem uma penalização que pode ir até sete anos de cadeia caso se recusassem a abandonar os cargos. Até julho, o Governo pretende preencher 15 mil postos de trabalho com novos funcionários. O Governo manteve os salários e também um apertado controlo. Além disso, o Presidente John Magufuli, também conhecido como "Bulldozer", pediu aos meios de comunicação para publicarem os nomes dos funcionários incumpridores.
Benjamin Mkapa, antecessor de Magufuli, apoia "totalmente" a limpeza no setor público: "São falsos funcionários do Governo ou falsos aposentados que reclamavam salários em vez de pensões; devem ser demitidos", afirma. "Uma das perguntas que me fiz foi porque não me lembrei, eu próprio, de fazer esse tipo de inquéritos no meu tempo. Mas tinha outras questões para resolver. Para mim, o despedimento de funcionários não era prioridade."
Eficiência a todo o custo?
Depois da eleição, em outubro de 2015, o Presidente John Magufuli anunciou uma luta contra a corrupção e pela maior eficiência do setor público. No âmbito de uma campanha de disciplina, seis funcionários públicos estiveram sob custódia por se terem atrasado três horas para uma reunião.
Se por um lado Magufuli tem recebido elogios, por outro, o Presidente tem sido acusado de ser impulsivo e de ter um estilo de liderança autoritário.
Desde que assumiu o cargo, Magufuli já ordenou o encerramento de várias estações de rádio e dezenas de pessoas foram processadas criminalmente por comentários críticos nas redes sociais. Em janeiro, acusou dois jornais de porem em risco a segurança nacional e de incitamento contra o Presidente.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, Magufuli não tolera críticas. No relatório sobre a liberdade de imprensa 2017, a Tanzânia caiu 12 posições em relação ao ano anterior; está no lugar 83 entre 180 países.
Prevê-se mais despedimentos
A onda de despedimentos no setor público começou em março de 2016. O Governo tanzaniano descobriu mais de 19.700 trabalhadores fantasma na sua lista de ordenados. Até então, o Executivo gastava anualmente cerca de 107 milhões de dólares em pagamentos de salários de trabalhadores que não existiam.
Por isso, Benson Bana, professor de Política na Universidade de Dar es Salaam, acredita que os despedimentos não deverão ficar por aqui: "Acho que isto foi apenas a ponta do icebergue. Há informação de Ministérios que não foi revelada publicamente. Vamos aguardar, mas os números deverão subir bastante."
Magufuli faz "limpeza" no setor público da Tanzânia
As investigações continuam. E alguns críticos, como Tundu Lissu, presidente da Sociedade de Advogados da Tanzânia, estão de olhos no caso de Paul Makonda, governador da região de Dar es Salaam.
"Já há muito que se suspeita que Makonda utilizou um certificado de ensino secundário que não é dele e que, na verdade, não se chama Paul Makonda, mas Dawdi Bashite. Nós, enquanto Sociedade de Advogados da Tanzânia, respeitamos a lei e vamos pedir ao Procurador-Geral da República que investigue Dawdi Bashite", garante Lissu.
O politólogo Benson Bana entende que o Governo deve continuar a promover a eficácia do setor público, não só através de sistemas de gestão, mas também com a aposta na formação contínua dos funcionários.
As apanhadoras de algas de Zanzibar
Elas passam horas a fio com os pés enterrados em água do mar. Vivem ao ritmo das marés, expostas ao sol e ao vento: As apanhadoras de algas de Zanzibar.
Foto: DW/St. Duckstein
O seu futuro está no mar
Há quatro horas que Hamnipi Khamis pendura pequenas algas numa corda. Ela é uma de cerca de 15 mil mulheres que se dedicam à apanha de algas vermelhas, na ilha tanzaniana de Zanzibar. Esta planta é muito rica em valiosas substâncias utilizadas na indústria alimentar e cosmética, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, para onde são exportadas. Para Khamis, as algas são um meio de subsistência.
Foto: DW/St. Duckstein
Ao ritmo das marés
A vida de Khamis é determinada pelo ritmo das marés. Quando a maré está baixa ela avança, colhendo as algas que pode e plantando novas, antes que a maré volte a subir. Um trabalho nada fácil: por vezes, Khamis tem que permanecer mais de seis horas com os pés na água salgada. Ela não sabe nadar, mas ama o mar. Porque é o mar que a alimenta.
Foto: DW/St. Duckstein
O mar é a sua horta
Sandálias de pneu, um pau, um molho de cordas - são estes o equipamento e as ferramentas de Khamis. Todo o cuidado é pouco para não calcar um ouriço do mar. Também as conchas podem ser muito agudas e causar cortes dolorosos nos pés e nas mãos. A água salgada? Khamis, de 60 anos de idade e residente na aldeia de Kidoti, diz que já está habituada.
Foto: DW/St. Duckstein
Colheita no Mar Índico
Uma por uma - é assim que Khamis pendura as pequenas, mas valiosas algas, prestes a serem semeadas. A sua "plantação" tem uma área de cerca de 25 metros quadrados. Depois de serem "plantadas", as algas pequenas têm seis semanas para crescer. Depois é altura de colher. Com alguma sorte e também muita sabedoria, as mulheres obtêm ótimos resultados: algas dez vezes mais pesadas!
Foto: DW/St. Duckstein
Cottonii e eucheuma denticulatum
O mercado mundial prefere o tipo de algas "cotonii". Na ilha de Zanzibar existe ainda outro tipo: a "eucheuma". Medicamentos, pasta dentífrica, cremes cosméticos - as substâncias destas algas são imprescindíveis na produção desses produtos. As "carragenas", um ingrediente extraído das algas vermelhas com potencialidade de gelificação, na Europa são denominadas de E407.
Foto: DW/St. Duckstein
O peso das algas
Um saco de algas pesa cerca de 50 quilos. Mas as algas têm que ser secas antes de ser embaladas e, neste processo, voltam a perder bastante peso, passando a pesar cerca de metade. Khamis recebe 160 schillings tanzanianos (cerca de 0,07 euros) por cada quilo de algas secas. Os maiores clientes das algas de Khamis são fábricas em França, Dinamarca, China e Estados Unidos da América.
Foto: DW/St. Duckstein
Valor acrescentado
As algas reaparecem nas perfumarias europeias em forma de "sprays" e cremes para a revitalização da pele facial e outros produtos de luxo, muito procurados por clientes com elevado poder de compra. Assim, as algas aumentam consideravelmente o seu valor. Um creme à base de substancias extraídas de algas vermelhas pode custar 125 euros.
Foto: picture-alliance/dpa
Sabão de Zanzibar
Khamis esforça-se por aumentar o seu lucro: ela faz parte de uma cooperativa de 20 mulheres, fundada em 1995, com o nome "Tusife Mojo" ("Desistir, nunca!"). O objetivo é a produção de sabões à base de algas, canela e eucalipto, que vendem por cerca de 0,45 euros por unidade. Khamis recomenda esse sabão, dizendo a quem quiser ouvir: "a minha pele parece veludo!"
Foto: DW/St. Duckstein
Cravos, cardamomo, algas
A ilha de Zanzibar chegou a ser um dos maiores produtores de especiarias à base de cravos. Exportava também cardamomo, baunilha e canela. Hoje é o turismo que domina a economia. A apanha de algas também tem algum peso. Mais de 20 mil pessoas, sobretudo mulheres, dedicam-se, hoje em dia, ao cultivo de algas e outras plantas.
Foto: DW/St. Duckstein
Uma vida melhor
A atividade de apanha de algas não enriquece Khamis, é certo. Mas as batas escolares para os seus seis filhos foram compradas precisamente com o dinheiro que ela ganhou com as algas. O marido de Khamis é vendedor de peixe, uma atividade que pouco lucro dá. Khamis deseja ter muita saúde para poder continuar a fazer este trabalho que é árduo, mas que lhe dá também algum prazer.