Maioria dos professores recém-graduados sem emprego
Bernardo Jequete (Chimoio)
20 de dezembro de 2017
Milhares de jovens acabam de se formar para dar aulas no ensino básico, em Moçambique. Mas, Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano diz que não tem dinheiro para contratar todos. Docentes não se dão por vencidos.
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Os professores dizem estar preparados para o que der e vier. E prometem dar luta, depois do Ministério da Educação anunciar que não tem dinheiro para contratar novos docentes.
Eugénio Francisco, por exemplo, acaba de se graduar na província de Manica, para dar aulas no ensino básico. Garante que não vai baixar os braços até ser contratado.
"Enfrentarei essa batalha do emprego, pois - se calhar e se selecionarem pelas médias - eu poderei ser uma das pessoas a serem escolhidas, pois a minha média é considerável. Eu aposto para servir a sociedade sendo um bom futuro professor, pois aprendi tantas metodologias de modo a alavancar a Educação, ensinando as crianças, usando o material didático. Dizer que a sociedade pode esperar por um bom professor", diz.
Filomena Óscar, outra recém-graduada, também lamenta a falta de vagas para os novos docentes - sobretudo, porque é preciso apostar na Educação.
"Com todas as forças, vou dar o meu máximo para conseguir enquadrar-me. Trabalhar com muita força para acabar com o analfabetismo e dar o meu melhor para superar todos os problemas", afirma.
Falta de professores em Manica - MP3-Stereo
Falta dinheiro
Tal como Eugénio Francisco e Filomena Óscar, acabam de se graduar em Moçambique oito mil novos docentes. Mas, segundo o diretor nacional para Alfabetização e Educação de Adultos, Laurindo Nhacune, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano só tem dinheiro para contratar dois mil profissionais.
"Para o próximo, 2018, em princípio, nós precisaríamos de todos os professores formados. Porém, isso não vai acontecer assim, por causa das limitações económicas ou financeiras que neste momento o país atravessa", conta.
"Há um número indicativo que é de dois mil professores a serem contratados. Nós precisaríamos de 8.500 professores, que é o número que temos contratado anualmente. Mas o próximo ano, 2018, vai ser um ano atípico, assim podemos considerar, porque não vai ser possível a contratação de todos", explica.
Ainda segundo Nhacune, uma alternativa é esperar que as vagas fiquem disponíveis.
"O fato de que anualmente temos tido algumas vagas de professores que por diversas razões desistem - ou por motivos naturais, por morte. Então, essas vagas serão cobertas pelos atuais graduados", revela o diretor nacional para Alfabetização e Educação de Adultos.
Outra alternativa é esperar pelo próximo ano.
O projeto educacional da FRELIMO no exílio
Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique em Dar Es Salaam, no exílio na Tanzânia, surgiu a escola da FRELIMO em Bagamoyo. A partir da escola a FRELIMO planeou a independência de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Lembranças dos tempos coloniais alemães
De 1888 a 1891, Bagamoyo foi capital da colónia África Oriental Alemã, atual Tanzânia. Ainda hoje, os edifícios coloniais – como o da foto – lembram aquela época. Em 1916, a colónia alemã tornou-se britânica e, em 1961, conquistou a independência como Tanganica. Pouco depois, começaram as primeiras ambições independentistas no vizinho Moçambique, então colónia portuguesa.
Foto: Gerald Henzinger
A casa do primeiro presidente
O primeiro presidente de Moçambique após a independência, Samora Machel, morou nesta casa. Tanganica apoiava o movimento moçambicano pela independência. Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, hoje no poder) em Dar Es Salaam, na Tanzânia, surgiu a escola do movimento em Bagamoyo. As instalações ficam a cerca de 5 km a sul de Bagamoyo.
Foto: Gerald Henzinger
Educação para uma nova sociedade
A partir de Bagamoyo, a FRELIMO planeou a independência de Moçambique, ex-colónia portuguesa. Um dos pilares da nova sociedade moçambicana deveria ser a educação. Na altura da independência, em 1975, grande parte da população moçambicana não sabia nem ler, nem escrever. Cinco anos depois, em 1980, a ONU ainda contava 73% de analfabetos. Em 2009, a taxa caiu para 45%.
Foto: Gerald Henzinger
Ajuda da Tanzânia
Placas apontam para a história do edifício da escola da FRELIMO – esta diz que o prédio da foto era um dormitório para combatentes pela libertação moçambicana. Durante as lutas pela independência de Portugal, a FRELIMO obteve ajuda da Tanzânia, já independente, e pôde estabelecer bases neste país vizinho, a norte de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Celeiro de dirigentes
Importantes personalidades atuavam no projeto educacional da FRELIMO no exílio, como nesta sala de aulas, em Bagamoyo. Um exemplo destas personalidades é a ex-vice-diretora da escola da FRELIMO no local, Graça Machel, viúva de Samora Machel. Posteriormente, ela tornou-se ministra da Educação de Moçambique e ficou conhecida como a atual esposa do antigo presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Foto: Gerald Henzinger
Sobras dos potenciais intelectuais
Esta casa de lata costumava ser uma sala de estudos. Mais tarde, uma biblioteca. Agora, as instalações estão vazias. Muitos dos antigos alunos da escola da FRELIMO em Bagamoyo acabaram por ocupar cargos importantes em Moçambique, como em ministérios. Atualmente, muitos também trabalham nas universidades do país.
Foto: Gerald Henzinger
A Kaole High School
Depois da independência de Moçambique, os combatentes da FRELIMO saíram de Bagamoyo. Entre 1975 e 2011, a "Kaole High School" (escola secundária Kaole) passou a funcionar no local. Para que os alunos pudessem encurtar o caminho até a sala de aula, as autoridades educacionais tanzanianas construíram uma escola no centro de Bagamoyo. Na foto, um antigo dormitório.
Foto: Gerald Henzinger
Decadência
Poucos meses depois do fechamento da "Kaole High School", as condições dos edifícios era catastrófica. Os bancos de madeira estão sujos, cabras defecam nas antigas salas de aula, janelas e portas estão demolidas.
Foto: Gerald Henzinger
Descaso das autoridades?
As autoridades escolares da Tanzânia praticamente desistiram dos edifícios da antiga escola da FRELIMO. O governo moçambicano também não agiu para preservar a área – um dos pilares da história do país.