Mais 326 guerrilheiros da RENAMO entregam as armas
Lusa
13 de outubro de 2020
Mais 326 antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) vão entregar as armas até novembro, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração do braço armado do partido.
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"Eles vão ser desmobilizados, o que significa que estão a deixar a parte armada de lado e vão estar integrados na vida civil. Vão poder fazer as suas atividades na comunidade e com a esperança de que as pessoas na comunidade vão recebê-los como deve ser", declarou o secretário-geral da RENAMO.
André Magibire falava à margem do arranque das inscrições para obtenção de documentos pessoais do grupo de 326 antigos guerrilheiros da RENAMO em Gorongosa, na província de Sofala, centro de Moçambique.
Secretário-geral da RENAMO diz que DDR está no bom caminho
02:11
Trata-se da quarta fase do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do principal partido de oposição, no âmbito dos entendimentos alcançados com o acordo de pazassinado em agosto de 2019 pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e pelo presidente da RENAMO, Ossufo Momade.
Depois de um arranque simbólico no ano passado, o DDR esteve paralisado durante vários meses, tendo sido retomado em 4 de junho.
Mais de mil já foram abrangidos pelo DDR
De um total de 5.000 elementos da RENAMO que se espera que entreguem as armas, segundo dados oficiais, 1.075 ex-guerrilheiros já foram abrangidos pelo DDR.
Apesar de progressos registados no processo, um grupo dissidente da RENAMO (autoproclamado como Junta Militar) contesta a liderança do partido e o acordo de paz, sendo acusado de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estradas da região centro do país.
A autoproclamada Junta Militar da RENAMO é liderada por Mariano Nhongo, um antigo dirigente de guerrilha, que exige melhores condições de reintegração e a demissão do atual presidente do partido, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado o processo negocial dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico que morreu em maio de 2018.
Os ataques armados no centro de Moçambique têm afetado as províncias de Manica e Sofala e já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto do ano passado, em estradas e povoações locais.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.