Mais bases norte-americanas em África para combater o terrorismo
15 de junho de 2012 Antes do encontro, de dois dias, o presidente Barack Obama apresentou a nova estratégia do país em África, que visa, na sua opinião, reforçar a segurança e a democracia no continente. A estratégia da Casa Branca foca quatro pontos pincipais: reforço das instituições democráticas, estímulo ao investimento, dar prioridade à segurança e à paz e promover o desenvolvimento.
Mas o que mais chamou a atenção dos meios de comunicação foi a notícia, do jornal americano Washington Post, sobre os planos de expansão das bases aéreas norte-americanas em África. De acordo com o jornal, os Estados Unidos estão a utilizar bases no Burkina Faso, Mauritânia, Djibouti, Etiópia, Quénia, ilhas Seychelles e planeiam abrir uma outra no Sudão do Sul.
Bronwyn Bruton, especialista em África e vice-diretora do centro de investigação Atlantic Council, considera que as operações de vigilância não são nada de novo, já que têm ocorrido desde 2007.
Bruton reconhece que as operações de espionagem e de estabelecimento de bases aéreas estão a expandir-se devido à “perceção geral, entre os analistas de segurança, de que a África será a próxima frente na guerra mundial contra o terrorismo. As pessoas têm a ideia de que a Al-Qaeda quando for expulsa do Iémen vai atravessar o Golfo. Já está na Somália e agora há o medo que comece a interagir com o grupo Boko Haram”, que atua na Nigéria.
A especialista do Atlantic Council considera que, com base nessa justificação, os Estados Unidos pretendem adotar uma ação preventiva, envolvendo alguns países africanos.
As bases no Burkina Faso e na Mauritânea são utilizadas para espionar o grupo radical islâmico Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), enquanto as bases no Uganda são utilizadas para tentar deter membros do Exército da Resistância do Senhor e o seu líder Joseph Kony.
Por outro lado, os aviões que partem de Djibuti, da Etiópia, do Quénia e das ilhas Seychelles são utilizados para espionar a milícia somali Al-Shebab.
De acordo com David Shinn, ex-embaixador norte-americano na Etiópia e atual professor de Estudos Internacionais na Universidade George Washington, as operações dos Estados Unidos são todas “exceto a de Djibuti, muito pequenas. E quase todas são missões de supervisão, ao contrário do que acontece no Iémen, que tem capacidade de atacar mísseis”.
David Shinn garante que em África “as atividades de espionagem aumentaram bastante mas são bem diferentes do que temos visto no Médio Oriente”.
Espionagem dos EUA como forma de ajudar governos africanos
Na opinião de Bronwyn Bruton, os Estados Unidos querem deixar claro que querem reduzir a sua presença no continente, no futuro, não só por medo de desencadear uma ação adversa pela sua presença no terreno, mas também devido aos custos.
De acordo com Bronwyn Bruton, “a prioridade da administração Obama para o Comando Norte-Americano em África (AFRICOM) é que, sempre que possível, ajudem os militares locais. Acho que não há vontade de militarizar a política africana ou de ter uma grande presença militar no continente. Penso que deve ser entendido como um ação de defesa dos Estados Unidos”.
Sob esse ponto de vista, a especialista do Atlantic Council acredita que deve haver um esforço para utilizar informação gerada por este programa de espionagem para ajudar os governos africanos a manterem o contolo dos seus territórios.
Mas, de acordo com o professor universitário Davis Shinn, há que “distinguir entre a forma como o governo vê estas atividades e como a população as encara. Talvez haja uma divergência, não sei. Mas penso que há uma grande desconfiança e hostilidade”.
Para Shinn, os governos africanos vão reagir positivamente, se essas atividades de espionagem tiverem em conta os seus próprios interesses, ou seja, em termos de reduzir os seus potenciais inimigos e de desenvolver uma forte relação com os Estados Unidos.
Num comunicado por escrito, Nicole Dalrymple (do departamento de comunicação do Comando Norte-Americano em África, AFRICOM) disse que os Estados Unidos trabalham diariamente com nações parceiras para averiguar eventuais ameaças à segurança reginal e à estabilidade em África. E confirmou que, além das instalações em Djibuti, o AFRICOM têm uma presença de pessoal em diferentes bases no continente.
Autor: Abebe Feleke / Glória Sousa
Edição: António Rocha