Dois meses depois de as suas casas terem sido demolidas, 135 famílias continuam sem apoio do Governo angolano. Autoridades tinham prometido ajudar com materiais de construção e outros bens essenciais.
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Os populares do município da Baía Farta, a sul da província angolana de Benguela, que viram as suas casas demolidas em novembro passado continuam a viver ao relento e sem apoio. As famílias viviam no Bairro Atlântico, mais conhecido como Maboque, e acabaram por ser transferidas para zonas montanhosas em condições indignas.
Em novembro, o Governo provincial explicou que o desalojamento dessas famílias era para dar lugar a um investimento privado. O lugar onde habitavam pertencia a uma fábrica estatal de conservas, paralisada há mais de 30 anos. O problema é que o local onde os populares foram realojados não tem condições de habitabilidade.
À DW África, Afonso António, um dos desalojados, fala de uma situação dura. O morador denuncia que o Governo distribuiu tendas apenas para seis famílias. As restantes 129 ficaram ao relento.
"Você imagina, cento e trinta e cinco famílias com seis tendas. É complicado. E nós estamos aqui mesmo com a mão na cabeça como é que vamos organizar isto. Vai ser uma fase, às vezes, com o tempo irão nos apanhar mas não estamos a ver", afirma.
Daniel André, outro desalojado da Baía-Farta, diz-se bastante desapontado com a situação: "Estamos aqui a sofrer muito, não há solução nenhuma. Não estamos a trabalhar. Estamos aqui mesmo parados sem nada para fazer.”
Promessa não cumpridaAquando das demolições, em novembro, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, tinha garantido que, até dezembro, iria dar às famílias materiais de construção e outros bens essenciais. No entanto, a situação mantém-se.
Os desalojados dizem ainda que a presença das autoridades deixou de ser sentida. Daniel André, outro desajolado queixa-se que a vida naquela zona "está difícil”.
"No princípio nos apanhavam com água, (coisa que) agora já não temos água, é preciso mandar "caleluia” (motorizada) ir buscar a àgua muito distante. Até aqui não tem como. Prometeram-nos dar chapas, blocos, cimento, e até aqui nada. Não estamos a ver o que o senhor governador prometeu.”
Há quem tenha também perdido a esperança em dias melhores. "Ninguém está a resolver nada. Só estamos a olhar para ver o que irá acontecer. Até já não temos mais boca para falar. Vamos fazer mais como?", questiona Bernardo Nguli de 70 anos de idade.
Contatada pela DW África, a administradora municipal da Baía Farta, Maria João, recusou-se a falar sobre o assunto, alegando não ter autorização do Governador da província.
12.01.17 Benguela desalojados - MP3-Mono
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.