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Mais de 5 mil camaroneses buscam refúgio na Nigéria

Reuters
1 de novembro de 2017

Segundo o ACNUR, há pessoas escondidas nas florestas aguardando uma chance para cruzar a fronteira e fugir da violência contra a minoria anglófona. O fluxo de refugiados deve piorar crise humanitária no Lago Chade.

Centenas de camaroneses foram presos nos protestos pró-independência de 1 de outubroFoto: Getty Images/AFP/STRINGER

"O meu filho seguiu por uma estrada e levou um tiro no estômago. Ele tentou correr, mas levou outro tiro na perna. Estão a matar inocentes. O meu filho nem estava entre os manifestantes. Ele foi morto na vizinhança".

O lamento de Helene Mekem, de Kumba, no sudoeste dos Camarões, resume a violência generalizada sofrida pela comunidade anglófona desde que camaroneses das regiões noroeste e sudoeste do país fizeram uma declaração simbólica de independência da maioria francófona a 1 de outubro.

Nos protestos, pelo menos 17 pessoas foram mortas pelas forças de segurança camaronesas e centenas foram presas, relatou a Amnistia Internacional.

Mais de 5 mil camaroneses buscam refúgio na Nigéria

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Esta terça-feira (31.10), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) divulgou que dois mil refugiados dos Camarões fugiram para a Nigéria e outros três mil aguardam por ser registrados. Muitos camaroneses de regiões anglófonas estão escondidos nas florestas aguardando uma chance de cruzar a fronteira com o estado de Cross River, no sudeste nigeriano.

Kits de emergência com comida, equipamentos de cozinha e itens de higiene estão a ser distribuídos. O fluxo de refugiados dos Camarões aumenta o desafio humanitário na região do Lago Chade, onde mais 2,5 milhões de pessoas estão deslocadas devido à violência do grupo extremista Boko Haram.

Romain Desclous, porta-voz do ACNUR para o Oeste Africano, disse à DW África que a situação é muito preocupante. Junto com o Governo da Nigéria, a agência da ONU elaborou um plano contigencial para receber até 40 mil refugiados vindos dos Camarões.

"A situação é devastadora. Eles precisam de assistência. Se o fluxo de camaroneses permanecer por um longo período requerendo o mesmo nível de assistência, isso trará um peso adicional, já que estamos a providenciar uma ampla ajuda a um grande número de pessoas na região. É isso o que nos preocupa", afirma Romain Desclous. 

"Ambazónia"

Amabo Cecilia Binwi é chefe de direitos humanos do Movimento Conselho de Governação da Ambazónia (AGC). A organização formada em 2013 é um dos vários movimentos pró-independência que declararam a criação do Estado independente, que leva o nome "Ambazónia".

"Todos esses movimentos estão a trabalhar juntos para defender a população e resgatar os que foram presos de forma arbitrária. Nos últimos 66 anos, sul-camaroneses estão a ser marginalizados pela República dos Camarões. Já dissemos que éramos irmãos, unidos, mas isso nunca aconteceu. Nós refutamos o posicionamento do Governo e estamos a lutar por nós mesmos", sublinha. 

Presidente dos Camarões, Paul Biya, alertou que desafiar autoridades não é caminho para o diálogoFoto: imago/Xinhua Afrika

Depois das indepedências coloniais dos setores francês, em 1960, e britânico, em 1961, as duas regiões formaram, depois de plebiscitos organizados pelas Nações Unidas, a República Federal dos Camarões, mas mantendo autonomia. Em 1966, o então presidente Ahmadou Ahidjo proibiu todos os partidos políticos, exceto o partido no poder.

Mais tarde, mudou a Constituição para tornar a federação num Estado unitário. Desde então, as regiões anglófonas alegam ser excluídas e marginalizadas. Os protestos pró-independência de 1 de outubro desencadearam, então, um dos capítulos mais violentos da história dos Camarões.

"A maioria dos jovens não está nem a dormir em casa. Estão a se esconder no mato. As forças de segurança estão a invadir as casas, a prender os jovens ilegalmente e a atirar nas pernas das pessoas. Querem silenciar manifestantes pacíficos de uma forma brutal", critica Amabo Cecilia Binwi. 

Os cidadãos anglófonos, concentrados no noroeste e sudoeste do país, representam cerca de 20% da população. Em visita aos Camarões, na semana passada, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a organização vai avaliar a situação da comunidade anglófona no país.

O presidente camaronês, Paul Biya, declarou que condena todos os atos de violência, mas alertou que desafiar as autoridades não é um caminho para alcançar o diálogo.   

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