Mais de 800 famílias em situação de fome extrema no Cunene
Adolfo Guerra (Menongue)
28 de dezembro de 2021
Os gafanhotos já devastaram perto de 250 hectares no município de Namacunde, província angolana do Cunene, deixando 4.000 famílias em situação vulnerável. População pede apoio do executivo, que reconhece o drama vivido.
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Desde fevereiro de 2020 que a região centro e sul de Angola, mais concretamente as províncias de Benguela, Cunene, Huíla, Namibe e Cuando Cubango, tem-se debatido com a invasão de gafanhotos.
Na província do Cunene, as pragas foram registadas nos municípios do Curoca, Namacunde e Ombadja. Os gafanhotos devastaram perto de 250 hectares e a praga deixou mais de 800 famílias em situação extrema de fome.
Rodeth Peingoambili Mwehanawa, sensibilizadora da povoação Marco 16, comuna e município do Namacunde, diz que a situação é crítica. Explica que, para fugir da morte por fome, a população tem recorrido aos líderes tradicionais.
"Por causa da praga, temos muitas dificuldades de fome. Muitas pessoas tendem a ir para a república vizinha da Namíbia, mas como as fronteiras estão encerradas, então recorrem todos os dias aos sobas e seculus (reis)", conta à DW África. "Desde o início da praga na área do Marco 16 até ao momento registámos duas mortes por conta da fome", acrescenta a responsável.
Administração garante assistência
Simão Ndeshipanda Mutilifa, diretor municipal da Agricultura e Pesca em Namacunde, reconhece que a praga de gafanhotos devastou muitas culturas no município deixando a população em situação de fome, mas garante que a administração tem prestado assistência às famílias.
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"As culturas foram assoladas e não tiveram a colheita suficiente conforme se previa, mas a administração municipal de Namacunde adquiriu alguns produtos alimentares no sentido de assistir estas famílias assoladas pela praga de gafanhotos", diz.
"Também neste ano agrícola já estamos na fase distribuição de sementes para os produtores a nível do município, no sentido de alavancar a produção", adianta ainda Simão Mutilifa
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Situação pode agravar-se
Bonifácio Hecongelwa, soba e coordenador da brigada de contenção às pragas de gafanhotos na comuna de Ondjiva, diz que a comunidade regista o mesmo problema da fome.
Alerta que se a ajuda não chegar e a chuva não for consistente, a situação irá agravar-se. "Estes gafanhotos fizeram estragos e provocaram danos incalculáveis às lavras das populações e eles gritam por apoios, embora já tenham recebido há bastante tempo, mas já não têm mais o que comer", relata.
"Aqui a produção é do sistema sequeiro. Nós dependemos mais da chuva do que outra coisa. Se este ano não houver chuva suficiente, as culturas estão comprometidas", reconhece o diretor municipal da Agricultura.
Na sua mensagem ao país por ocasião das festividades do Natal, o Presidente da República, João Lourenço, dirigiu-se às populações afetadas: "Uma palavra de encorajamento e solidariedade para as populações do sul de Angola, do Cunene, do Namibe e da Huíla, vítimas diretas das alterações climáticas cujas consequências são no caso concreto dessas províncias, a seca severa e continuada que ameaça a vida das pessoas e do gado."
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.