Pretória: Uma centena de detidos em protestos anti-imigração
Milton Maluleque (Joanesburgo)
24 de fevereiro de 2017
Polícia sul-africana disparou granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar confrontos em marcha anti-imigração. Desta vez, emigrantes respondem aos ataques dos nacionais. Não há vítimas a registar.
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Cerca de 500 pessoas aderiram à marcha anti-imigração na capital sul-africana, alguns empunhando paus, depois de o Presidente do país, Jacob Zuma, ter condenado a violência xenófoba das últimas semanas.
Foram já detidas mais de 130 pessoas em Pretória devido a ataques contra estrangeiros. A maioria das detenções teve lugar esta sexta-feira (24.02) ao longo da marcha organizada pelo Grupo dos residentes preocupados de Mamelodi.
Em conferência de imprensa, o Comissário Nacional da Polícia da África do Sul, Khomotso Phahlane, não especificou o número de nacionais e estrangeiros detidos devido a violência.
Os nacionais saíram à rua para, entre outras reivindicações, mostrarem a sua insatisfação face ao fluxo de estrangeiros no país, que, defendem, ocupam postos de trabalho criados para sul-africanos.
Marcha sem vítimas
Ao contrário de outros anos, desta vez, os emigrantes responderam aos ataques dos nacionais. A polícia criou um cordão no meio de duas comunidades prontas para o confronto. Os agentes dispararam balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os confrontos.
Não há registo de vítimas, mas a polícia reforçou a segurança.
O ministro sul-africano dos Assuntos Internos, Malusi Gigaba, disse que se tinha encontrado com os organizadores da marcha a quem pediu para "se expressarem de uma forma responsável”. Algo que acabou por não acontecer.
Para além do caos, lojas pertencentes a imigrantes foram saqueadas.
Recorde-se que em 2015, protestos anti-imigração na cidade de Durban e arredores resultaram em, pelo menos, seis mortos. Em 2008, cerca de 60 pessoas morreram em situações semelhantes.
Incertezas entre moçambicanos
Mais de uma centena de detidos nos protestos anti-imigração em Pretória
A reportagem da DW-África, contactou jovens emigrantes moçambicanos residentes em Mamelodi, o maior bairro residencial de negros a leste da cidade de Pretória, e que alberga uma grande comunidade moçambicana. Segundo Lucas Sitoé, quando saiu de manhã, "estava tudo normal”.
"Os que não vieram [ao trabalho] foram os da zona de Atteridgeville e Pretória West, onde esta manhã a situação estava mal. Para dizer a verdade, todos querem saber o que vai acontecer mais logo. Depois da marcha não sabemos o que pode vir a acontecer”, acrescenta Elias Guambe.
Os ataques contra imigrantes na África do Sul são recorrentes. O país acolhe um grande número de estrangeiros, num contexto social marcado pelo desemprego - superior a 25% - e pela criminalidade violenta.
Pilhagens e destruição
Na última semana, registaram-se pilhagens e destruição de casas arrendadas por nigerianos nos bairros de Joanesburgo e Pretória, alegadamente contra a venda de drogas e prostituição.
Para a Amnistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos, este tipo de reivindicações são constantemente reportadas à polícia, mas esta tem fracassado na implementação das leis e ordem do país.
David Matsinhe, pesquisador moçambicano junto da Amnistia Internacional em Joanesburgo, apela a uma mudança de comportamento do Governo sul-africano.
"Depois de vitimizar algumas pessoas, os perpetradores podem ser conhecidos, mas a polícia e o sistema judicial nunca agiram contra essas pessoas. Nunca agem para responsabilizar os culpados. Então, este ciclo vicioso continua sempre e sempre e nunca muda”, defende.
Muitos emigrantes na África do Sul são considerados refugiados económicos que procuram melhores condições de vida, disputando oportunidades com os sul-africanos nos centros urbanos e nas comunidades.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
Foto: AP
O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
Foto: Getty Images
Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
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Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
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Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
Foto: AP
Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
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Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
Foto: AP
Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.