Mais um membro da RENAMO assassinado em Moçambique
Sitoi Lutxeque (Nampula) | Lusa
30 de dezembro de 2016
Um membro sénior do principal partido da oposição moçambicana foi morto a tiro por desconhecidos, quinta-feira, em Nampula. A família diz que o responsável da RENAMO queixava-se há dias de perseguição e ameaças de morte.
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Mais um membro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) foi morto a tiro por homens desconhecidos. Trata-se de José Naitele, de 47 anos. O caso ocorreu por volta das 14 horas de quinta-feira (29.12), no segundo dia da trégua temporária declarada pelo maior partido da oposição.
O membro sénior do maior partido da oposição em foi atingido dentro da sua viatura, a escassos metros da casa, na cidade de Nampula, no norte.
Custura Momade, esposa de José Naitele, conta que o marido saiu de casa para ir trabalhar, mas não voltou, porque foi interpelado por um grupo de desconhecidos, que o mataram.
Há dois dias, o marido tinha-lhe dito que estava a ser perseguido. E "não se sentia seguro" quando saía de casa para o trabalho e vice-versa. "Na noite anterior chegaram aqui pessoas estranhas com catanas, mas nós não as conhecemos", disse.
José Naitele trabalhava na sede da delegação provincial da RENAMO em Nampula. Segundo a família, também já tinha trabalhado para o partido de Afonso Dhlakama em Mogincual, a sua terra natal.
Família em choque
Alfredo Naitele, filho do membro da RENAMO assassinado e também ele trabalhador do partido em Nampula, não quer acreditar no que aconteceu. "Saiu de casa de manhã e disse: 'meus filhos já vou para o serviço'. Depois não sei o que aconteceu", conta.
José Naitele deixa oito filhos. A esposa Custara Momade estranha as motivações dos assassinos. "Ele não tinha problemas com ninguém", referiu.
Mais um membro da RENAMO assassinado em Moçambique
A polícia esteve no local do crime. Contactado pela DW África, Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, limitou-se a confirmar a ocorrência e prometeu mais detalhes durante uma conferência de imprensa agendada para esta sexta-feira (30.12).
A DW tentou contactar a RENAMO, mas as portas da sede do partido em Nampula estavam fechadas. Também não foi possível obter uma reacção por telefone. Entretanto, o porta-voz da força política, António Muchanga, citado pela agência Lusa, disse que o crime foi cometido com "o mesmo modo de atuação" dos esquadrões da morte que a RENAMO alega estarem a operar no centro e norte de Moçambique, visando a eliminação de dirigentes do partido.
"As informações que vêm do terreno indicam isso, a não ser que a polícia traga as pessoas que fizeram o crime", disse o porta-voz sobre a possibilidade de motivações políticas para o homicídio. Muchanga não quis, porém, estabelecer uma relação entre o caso e a trégua de uma semana.
Este é o segundo caso de morte a tiro de um membro da RENAMO, por desconhecidos, neste mês. O primeiro foi José Murevete, membro da Assembleia provincial do partido. Até agora, a polícia ainda não esclareceu o caso.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.