Malabo: Oposição na diáspora pede suspensão das eleições
Lusa
16 de novembro de 2022
Coligação da oposição equato-guineense na diáspora diz que Presidente "viola duas vezes a Constituição ao organizar eleições presidenciais antecipadas para reprimir o debate democrático". E pede a suspensão da votação.
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A Coligação da Oposição para a Restauração de um Estado Democrático (CORED) na República da Guiné Equatorial, que reúne 20 partidos e associações da oposição do país na diáspora, denunciou, esta quarta-feira (16.11), o que considera um "golpe de Estado" em curso sob a forma de eleições presidenciais "anticonstitucionais".
"O Presidente [Teodoro] Obiang Nguema Mbasogo viola duas vezes a Constituição, que é a nossa lei fundamental, ao organizar eleições presidenciais antecipadas para reprimir o debate democrático", acusa a organização.
A CORED, que reclama representar "250.000 refugiados políticos equato-guineenses forçados a um estatuto de emigrantes no exílio, que tiveram de deixar tudo para evitar serem presos, torturados e assassinados pela ditadura de Obiang, no poder ininterruptamente durante mais de 40 anos, denuncia perante a comunidade internacional o golpe de Estado do Presidente em exercício para renovar o seu mandato", de acordo com o comunicado.
A coligação recorda que Obiang violou no passado a Constituição do país, que o impedia de concorrer ao cargo mais de duas vezes, modificando a Lei Fundamental "para poder permanecer no poder durante quase meio século", e agora, sustenta a CORED, volta "a violar" a Magna Carta duplamente, "precipitando" as presidenciais sem respeitar os prazos constitucionalmente estabelecidos, e convocando os eleitores a escolherem no "mesmo boletim de voto" o Presidente, mas também senadores, deputados e presidentes de câmara.
"O mais pequeno adversário que se manifesta é preso, ou mesmo morto, como 15 foram recentemente, somando-se aos 310 que contabilizámos há mais tempo e esse número aos milhares, que dormem em valas comuns", acusa a coligação.
A CORED "solicita solenemente" à comunidade internacional, que "peça ao Presidente Obiang para suspender a organização destas eleições. Insta ainda os chefes de Estado e de governo a exigirem ao poder em Malabo a "realização de eleições livres e transparentes com a presença de todos os partidos da oposição, incluindo os exilados".
A organização conclui que, tendo em conta a violação da Constituição equato-guineense e as condições em que se realizam estas eleições, se as mesmas se mantiverem, os seus resultados "devem ser considerados como nulos".
O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, no poder desde 1979, há mais tempo do que qualquer outro chefe de Estado em todo o mundo, recandidata-se a um sexto mandato de sete anos pelo Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE), que nunca obteve menos de 90% dos votos em qualquer eleição até hoje.
Nas anteriores eleições presidenciais, em 2016, Teodoro Obiang foi reeleito com mais de 95% dos votos, mas a oposição e observadores internacionais acusaram o partido no poder de fraude contra a oposição.
Mais uma vez Obiang enfrenta o seu aliado crónico, Buenaventura Monsuy Asumu, líder do Partido da Coligação Social Democrata (PCSD), que se candidata pela quinta vez às presidenciais do país.
Pela primeira vez este ano, e não obstante o partido que dirige - Convergência para a Social Democracia (CPDS) - ter sido fundado no início da década de 90, candidata-se ainda à presidência Andrés Esono Ondo, líder do único partido da oposição legalmente ativo.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.