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Promotores das manifestações denunciam ameaças de morte

Nelson Camuto (Malanje)
10 de setembro de 2022

Promotores das manifestações de repúdio aos resultados eleitorais angolanas que deram vitória ao MPLA e membros do Movimento Cívico Mudei – dizem estar a sofrer ameaças de morte, na província de Malanje.

Angola I Protest zur Erhöhung der Lebenshaltungskosten in Luanda
Foto: Osvaldo Silva/AFP/Getty Images

As ameaças segundo os visados começaram depois do Tribunal Constitucional ter rejeitado o recurso da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o principal partido da oposição angola, que exigia a comparação das atas sínteses da votação.

Hermenegildo Victor, coordenador provincial do Movimento Cívico "MUDEI”, denuncia que está a ser perseguido por elementos do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINCE)  e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), na província de Malanje. 

O jovem de 27 anos, encabeçou a contagem paralela dos votos e atas síntese do pleito eleitoral de 24 de agosto de 2022, naquela região angolana. Mas, nos últimos dias, não pára de receber mensagens ameaçadoras.

"Tenho recebido fortes ameaças de morte contra a minha família. Seu arruaceiro, já estás bem identificado e localizado”, denuncia Victor.

O ativista cívico diz receber entre três a quatro mensagens e ligações telefónicas por dia, com o tom ameaçador vindas do mesmo remetente, cujo nome é Marcos António. 

"És um vagabundo desempregado, ao invés de ficares a usar as redes sociais para apelar as pessoas a fazerem arruaças e terrorismo, devias é te preocupar em arranjar emprego para sustentares as tuas filhas, Tamara e Nélida que abandonaste, eu pessoalmente vou cuidar de você”, indica mais uma mensagem que a DW teve acesso.   

"Não tenho medo"

Basílio da Fonseca de 33 anos, é promotor das temíveis manifestações em Malanje afeto ao Grupo cívico Resistência Malanjina. Também receia pela sua vida por receber incessantes ameaças de mortes via telefónica. 

Basílio da Fonseca do Grupo cívico Resistência MalanjinaFoto: Nelson Camuto/DW

De acordo com da Fonseca, as ameaças já duram desde 2017.  Mas, depois das eleições de 24 de agosto, todos os dias recebe intimidações de várias pessoas.

O ativista acredita que os autores das intimidades a si proferidas, sejam os mesmos que andam a intimidar outros elementos da sociedade civil na província.

"Quem tem este hábito é o MPLA e todos sabemos, não dei participação na polícia porque não tenho a certeza que possa resolver o caso, ao contrário, aumentariam ainda mais as ameaças”, conta Basílio da Fonseca.  

O também mototaxista , diz que nas suas intervenções denuncia os problemas sociais de Malanje e garante continuar.

"Desistir não. Essas ameaças nos fortificam ainda mais”, realça o jovem ativista acrescentando que, "isso significa que a árvore está dando bons frutos”.

"Não tenho medo. Quem treme são folhas, quem não deve não teme, porquê ter medo? Conheço alguns que até descobri a me tirarem fotos em clandestina”, conclui.

Queixa-crime

Israel da Silva - advogadoFoto: Nelson Camuto/DW

O advogado Israel da Silva, acredita que há espaço para responsabilização criminal dos suspeitos, por isso que incentiva os visados a avançarem com uma queixa crime.

"O que devem fazer é mesmo apresentar uma queixa junto o Serviço de Investigação Criminal (SIC), ou ao ministério público”, aconselha o jurista, para quem os queixosos devem se fazer representar por um advogado.

Por outro lado, Israel da Silva diz que mesmo que "não confiemos nas instituições de justiça, precisamos apresentar queixa como uma forma de dissuadir o opressor”.

A DW África em Malanje tentou contactar um dos responsáveis do MPLA na província, mas não obteve nenhuma reação.  

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