Malawi: Cinco condenados a perpétua por morte de albino
Mirriam Kaliza
30 de junho de 2022
No Malawi, uma juíza do Supremo Tribunal de Recurso condenou pela primeira vez na história do país cinco pessoas a prisão perpétua e trabalhos forçados por assassinarem McDonald Masambuka, um jovem com albinismo.
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O julgamento envolveu várias pessoas e pelo menos 12 cidadãos acabaram condenados a várias penas pelo assassinato de MacDonald Masambuka, de 22 anos. Cinco dessas pessoas foram mesmo condenadas a prisão perpétua.
Três semanas depois do desaparecimento de MacDonald Masambuka a 9 de março de 2018, no Malawi, o seu corpo foi encontrado mutilado. Mais tarde, descobriu-se que um padre que foi condenado a 30 anos de cadeia pretendia vender partes do corpo – em particular os seus ossos – para exercícios de bruxaria.
"Perdemos o nosso querido amigo. Mas estamos felizes por ter sido feita justiça. Realmente foi muito duro, mas esperemos que isto sirva de lição. As pessoas lá em casa também ficarão felizes com a notícia judicial", comentou Byson Makolopa, representante da Associação de Pessoas com Albinismo do Malawi (APAM).
Repressão dos albinos
Desde 2014, o Malawi tem assistido a uma violenta onda de agressões contra albinos, cujas partes do corpo são utilizadas em rituais de bruxaria na crença supersticiosa de que dão riqueza e sorte.
O advogado estatal Pilirani Masanjala considera que a Justiça deu um passo importante com esta sentença.
"A forma como os tribunais processaram a sentença garante que todas as pessoas encontradas, acusadas e condenadas por este tipo de crimes hediondos enfrentarão a justiça", referiu.
"É um bom sinal para nós como agências de aplicação da lei", acrescentou.
No entanto, o advogado de defesa dos condenados, Masauko Chamkakala, informou que os seus clientes podem recorrer da decisão.
"Temos de estudar a sentença e a decisão dos tribunais e consultar os nossos clientes e, em seguida, vamos tomar a decisão de avançar ou não com o recurso no Supremo Tribunal", esclareceu.
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Enganado pela família
MacDonald Masambuka foi enganado pelo irmão e por outros homens que lhe garantiram que tinham encontrado uma esposa para que ele pudesse casar. Foi o seu irmão Cassim que o conduziu à morte. MacDonald Masambuka foi torturado durante a noite no cemitério e o seu corpo foi encontrado enterrado num jardim.
A Tanzânia, o Malawi, o Quénia, a África do Sul e também Moçambique são países com casos preocupantes de repressão de pessoas com albinismo em África.
O albinismo é uma doença genética hereditária, que não é contagiosa e que se caracteriza pela ausência de pigmento na pele, cabelo e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina.
Albinos em África: "Não se escondam!"
São ostracizados, ameaçados e perseguidos. Para muitos africanos com albinismo, o dia-a-dia pode ser um pesadelo. Algo que é preciso mudar, dizem albinos que diariamente lutam contra o preconceito. Conheça alguns deles.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Moda contra o preconceito
Thando Hopa é uma advogada sul-africana de 20 anos. Cresceu com muito protector solar, roupas compridas e complexos. Sempre escondida na sombra, recorda. Agora, Hopa luta abertamente contra os preconceitos enfrentados pelos albinos em África - também como modelo nas passarelas.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Vencer complexos nas passarelas
Thando Hopa foi descoberta há quatro anos num centro comercial pelo designer sul-africano Gert-Johan Coetzee, que surge atrás da modelo nesta foto. Hoje, ela é uma das modelos mais conhecidas na África do Sul. Há muitas fotos suas publicadas nas principais revistas de moda. Em 2013, por exemplo, Hopa foi capa da primeira edição da Forbes Life Africa.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Quebrar mitos
Muitos africanos acreditam que os albinos não são seres vivos, mas fantasmas, e que partes do seu corpo podem trazer sorte e prosperidade. O albinismo é uma doença genética caracterizada por falta de pigmentação na pele. Uma em cada 20 mil pessoas no mundo nasce com este distúrbio congénito. O albinismo é muito comum no leste e no sul de África – tal como a superstição.
Foto: Getty Images/AFP/O. Andersen
Superstição mortal
Os criminosos caçam albinos, matam-nos e vendem os seus corpos a curandeiros tradicionais, que acreditam que estes têm propriedades mágicas. Segundo a ONU, o corpo de um albino pode valer mais de 60 mil euros no mercado negro. Uma perna pode ser vendida por cerca de 2.000 euros. A Tanzânia já proibiu os curandeiros tradicionais não registados. Mas outros países, como o vizinho Malawi, ainda não.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Viver com medo
Dorothy Mausen, da província de Machinga, no Malawi, diz que nunca se sente segura. Há cerca de 10 mil albinos neste país do sudeste africano. De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 18 albinos foram assassinados no último ano e meio. A polícia do Malawi registou mais de 60 ataques violentos contra albinos. Mas calcula-se que o número real de ataques seja muito maior.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Proteção constante
Razik Jaffalie nunca deixa os seus filhos fora de vista. Teve de deixar o emprego para proteger Cassim, de três anos. Os malawianos têm orgulho da sua reputação de pessoas gentis e pacíficas. Mas após os ataques mais recentes contra albinos, o Presidente do Malawi, Peter Mutharika, disse estar "envergonhado" pelos assassinatos no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Uma canção para Mandela
Salif Keita é uma das estrelas mais conhecida da música pop africana. Nasceu no Mali e sabe bem o quanto pode ser difícil crescer com albinismo em África. O músico mudou-se para Paris em 1984 e tornou-se famoso quando se apresentou no Estádio de Wembley, em Londres, em 11 de junho de 1988, no concerto para celebrar o 70º aniversário de Nelson Mandela, que na altura ainda estava preso.
Foto: Imago/CHROMORANGE
Afirmação do orgulho albino
Um festival na República Democrática do Congo em 2015 iniciou uma pequena revolução. "Fièrement Ndundu" - "Orgulho de ser albino", que decorre durante três dias em Kinshasa, é uma plataforma para partilhar experiências, desafiar estereótipos e criar autoconfiança. Algo que muitos africanos também já fazem online - por exemplo, no Twitter com a hashtag #AlbinismIsJustAColor.
Foto: DW/S. Mwanamilongo
Cuidado com o sol
O albinismo não é "apenas" uma questão de cor de pele. Quem é afetado pela falta de melanina na pele tem de proteger o corpo dos raios solares. Esta deficiência significa que os albinos correm sérios riscos de desenvolver cancro da pele. Muitos também têm problemas de visão por causa da falta de melanina nos olhos. O uso de protector solar é essencial para a sua sobrevivência.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Chutar o preconceito
Na capital da Tanzânia, Dar es Salaam, os treinos de Said Seremani e da sua equipa "Albino United" só começam quando o sol se começa a pôr. Só têm um campo pequeno e empoeirado, mas os seus sonhos são grandes. Querem ser estrelas do futebol internacional e provar que os albinos podem jogar tão bem como os ídolos Didier Drogba ou Pierre-Emerick Aubameyang.