Malawi repatria refugiados moçambicanos e ruandeses
George Muhango
2 de julho de 2019
Refugiados provenientes de Moçambique e do Ruanda, que se encontram nos campos de Dzaleka e Luwani, começaram a ser repatriados, numa altura em que duplicou o número de refugiados no Malawi.
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O Governo do Malawi e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estão encarregados de implementar o processo de repatriamento.
No último ano, duplicou o número de refugiados no país, passando de 12 mil para 25 mil. Esse número poderá aumentar por causa dos conflitos em curso na República Democrática do Congo (RDC), na Etiópia, na Somália e no Sudão.
No entanto, o Governo do Malawi diz que não pode atender a mais refugiados tendo em conta as limitações orçamentais nos campos de Dzaleka e Luwani.
James Bulamatanga, um ativista dos direitos humanos, disse à DW que está a trabalhar com o Governo do Malawi sobre como repatriar ou realojar os refugiados para reduzir os custos nos campos de acolhimento.
Refugiados Malawi - MP3-Stereo
"O campo de Dzaleka é de alguma forma uma solução temporária para os refugiados. A ideia em conjunto com o Governo do Malawi e o ACNUR, numa iniciativa com o Ministério do Interior e várias outras ONGs de desenvolvimento, é transferí-los para uma área mais proeminente, onde os refugiados possam tornar-se autossuficientes," diz o ativista.
Desejo é ficar
Soube a DW que muitos dos refugiados não querem regressar aos seus países de origem, depois de muitos anos a viver no campo de refugiados que agora chamam de lar e numa altura em que se fala na possibilidade de que alguns serão transferidos de Dzaleka, em Dowa, na região central do Malaui, para Karonga, um distrito próximo à Tanzânia.
"Porque eu deveria voltar para o meu país, quando tudo é perfeito aqui no Malawi? Tenho uma fazenda e sou casado aqui. Tenho cinco filhos. Isso [ter que retornar] é ruim. Não entendo. Estamos sendo forçados a nos mudar para Karonga," relata Peter Kagata e questiona: "Porque não podemos simplesmente ser naturalizados por meio de procedimentos formais?".
Muitos são os refugiados que também manifestaram o desejo de continuar no campo de Dzaleka, alegando ter melhores condições de vida e mais segurança.
"Quando saímos de Karonga para Dzaleka sabíamos que era um bom lugar, que tem mais proteção. Tenho apenas 22 anos e quero viver aqui onde temos boa qualidade de água", afirma Grace Bizimungo.
"Vivo neste campo. Também sou um refugiado como todo mundo que está aqui. Gostaria de continuar neste acampamento que tem muitos refugiados," apela o jovem Cédric.
Congoleses em fuga de Angola: RDC promete retaliação
Mais de 270 mil congoleses foram obrigados a abandonar Angola. Em retaliação, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês deu dois meses aos angolanos ilegais para abandonarem a RDC. ACNUR teme nova crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Ao ritmo de 1.000 imigrantes por hora
Imigrantes congoleses chegam à localidade fronteiriça de Kamako, já do lado da República Democrática do Congo (RDC), ao ritmo de 1.000 pessoas por hora. Mais de 270 mil imigrantes ilegais congoleses foram obrigados a abandonar Angola, após um decreto do Presidente João Lourenço que visa acabar com a imigração ilegal no país, sobretudo nas regiões diamantíferas das Lundas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
RDC promete retaliação
O Governo em Kinshasa utiliza o termo "expulsos" quando se refere aos imigrantes que Angola diz estarem a "sair de forma voluntária" do país. Como represália, o ministro dos Negócios Estrangeiros congolês definiu um prazo de dois meses para que todos os angolanos em situação irregular saiam da RDC. A tensão levou os Governos e representações diplomáticas dos dois países a iniciarem conversações.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Detidos com documentos angolanos falsos
Em colaboração com o ACNUR e com organizações não-governamentais, as autoridades congolesas estão a vigiar a pente fino as entradas no país. Entre os cidadãos obrigados a abandonar Angola, há portadores de documentação da nação vizinha. Porém, o porta-voz da "Operação Transparência" anunciou a detenção de imigrantes com "documentos angolanos falsos" que serão julgados em Luanda.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Congoleses dedicavam-se ao garimpo ilegal
O comandante da Polícia Nacional de Angola, António Bernardo, garante que os imigrantes que estão a abandonar o país "não se coíbem de dizer" que se deslocaram para Angola "para ganhar dinheiro na exploração ilegal de diamantes". Com o encerramento das cooperativas e casas ilegais de venda e compra de pedras preciosas, "os imigrantes decidiram voluntariamente sair do país", diz o responsável.
Foto: Reuters/G. Paravicini
ACNUR não confirma mortes
Apesar das denúncias de mortes e maus-tratos perpetrados por agentes da Polícia Nacional de Angola, no âmbito da "Operação Transparência", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não confirma essas informações "por falta de dados". Philippa Candler, representante do ACNUR em Angola, diz que os imigrantes estão a sair de Angola pelo próprio pé, mas sob pressão do Governo.
Foto: Omotola Akindipe
Cerca de 35 mil refugiados legais em Angola
Dados do ACNUR indicam que há 35 mil refugiados legais em Angola. Estão, sobretudo, na Lunda Norte, inseridos num assentamento em Lóvua ou distribuídos pelas povoações. No entanto, a ONU denunciou a expulsão de 50 migrantes com estatuto de refugiados. O ACNUR está a verificar a informação. A escalada do conflito tribal no Kasai levou milhares de congoleses a procurar refúgio fora de portas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
A pé ou à boleia de motorizadas e bicicletas
Os migrantes congoleses que estão em viagem de regresso ao país de origem escolheram vários meios para fazê-lo. Alguns aceitaram a ajuda do Governo angolano que disponibilizou camiões para transportar os congoleses até à fonteira. Outros preferem fazê-lo pelo próprio pé ou socorrendo-se de bicicletas e motorizadas. Consigo carregam os seus pertences.
Foto: Reuters/G. Paravicini
De regresso às antigas rotinas
Ainda em viagem, mulheres e crianças lavam roupas nas margens do rio junto à localidade de Kamako, na província de Kasai. O objetivo é regressarem às suas povoações outrora ameaçadas ou reiniciarem uma nova vida longe da sua última morada na RDC. No entanto, a situação nesta província congolesa é instável. A falta de infraestruturas está também a preocupar as Nações Unidas.
Foto: Reuters/G. Paravicini
Nova crise humanitária iminente
A ONU expressou preocupação sobre a saída forçada de Angola nas últimas semanas de centenas de milhares de cidadãos. Para as Nações Unidas, as "expulsões em massa" são "contrárias às obrigações" da Carta Africana e, por isso, exortou os Governos em Luanda e em Kinshasa a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro e evitarem uma nova crise humanitária.