Malawi testa vacina mais avançada contra a malária
Lusa
23 de abril de 2019
O Malawi inicia esta terça-feira o primeiro grande teste da mais avançada vacina experimental contra a malária, doença que todos os anos mata centenas de milhares de pessoas em África.
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Resultante de mais de 30 anos de pesquisa e um investimento de mil milhões de dólares (888 milhões de euros), esta campanha pretende confirmar a eficácia desta vacina em crianças com menos de dois anos, os mais vulneráveis à doença.
A primeira etapa deste programa acontecerá num centro de saúde na capital do Malawi, Lilongwe, estando também previstas ações na próxima semana no Gana e no Quénia, dois outros países-piloto da iniciativa. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê vacinar 120.000 crianças em cada um dos três países até 2020.
Apelidada "Mosquirix", ou "RTS,S", esta vacina foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline e pela organização não-governamental Path, com financiamento pela GAVI, The Vaccine Aliance, Fundo Mundial de Luta Contra a Sida e Malária e pela UNICEF.
Os testes preliminares realizados entre 2009 e 2015 apontaram para uma redução de 39% do número de episódios de malária em crianças com idade compreendida entre 17 meses e cinco anos.
Apesar da sua eficácia relativa, os investigadores e as autoridades de saúde esperam que, aliada a vários meios de prevenção, esta possa reduzir o número de vítimas.
África, o continente mais afetado
De acordo com as estatísticas da OMS, África é o continente mais afetado pela malária, representando 90% das 435.000 pessoas que em 2017 morreram devido a esta doença transmitida por mosquitos. Crianças até cinco anos representam dois terços dos casos mortais.
"A malária pode matar uma criança em menos de 24 horas", referiu o médico Tisungane Mvalo, pediatra de Lilongwe e membro da equipa científica liderada pela Universidade do Carolina do Norte (UNC), em Chapel Hill, nos Estados Unidos.
Finalmente uma vacina contra a malária?
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"E mesmo que a criança sobreviva, a malária pode afetar qualquer um dos seus órgãos, causando danos no cérebro ou rins", disse o médico, citado pela agência France-Presse, acrescentando que "a prevenção é muito mais eficaz que o tratamento".
O programa de imunização representa uma etapa para concretizar os esforços iniciados na década de 1990 para a erradicação da malária.
Entre 2000 e 2015, o número de vítimas mortais pela malária diminuiu em 62%, mas o mosquito que transporta a doença tem desenvolvido uma maior resistência a inseticidas. "Apesar do progresso na última década, os esforços para controlar a malária estagnaram nos últimos anos", afirmou Jonathan Juliano, investigador da UNC.
Em certas regiões africanas, os casos de infeção aumentaram e são necessárias novas formas para continuar a avançar em direção à erradicação", acrescentou o investigador que acredita que "a avaliação de vacinas experimentais é um elemento essencial".
Atualmente, outras vacinas experimentais estão a ser testadas para controlar a doença que em 2015 infetou um total de 114 milhões de pessoas. Até 2030, a OMS pretende reduzir em 90% o número de mortos com malária face aos 429.000 registados em 2015.
Procura por vacina contra o ébola no Gabão
Lambarene no Gabão é famosa pelo Hospital Albert Schweitzer, nome do médico e Nobel da Paz que trabalhou aqui muitos anos. Nesta cidade estão agora reunidos investigadores que procuram uma vacina contra o vírus do ébola.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Pacata cidade de pescadores
Lambarene é uma cidade no Gabão, país que se situa na África ocidental. Uma grande parte dos seus 25 000 habitantes depende da pesca para a subsistência. Mas Lambarene é conhecida sobretudo por ser a sede do Hospital Albert Schweitzer.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Orçamento apertado
Schweitzer, que nasceu alemão, mas naturalizou-se francês, foi um filósofo, teólogo e musicólogo. Mais tarde formou-se em medicina e, em 1913, fundou um hospital em Lambarene, como reparação pelo colonialismo, que sentia como uma culpa europeia. Em 1952 foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz. O hospital ainda existe, embora o seu equipamento esteja completamente ultrapassado.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Combater o ébola através da investigação
Ao lado do Hospital Albert Schweitzer abriu um novo centro de pesquisa. Aqui, cientistas africanos e europeus preparam uma vacina contra o ébola. Produziram um vírus enfraquecido e geneticamente modificado, ao qual foi acrescentado uma proteína superficial. Os investigadores esperam que o sistema imunitário reaja ao vírus modificado, produzindo anticorpos.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Da Alemanha para o Gabão
O médico José Fernandes controla os testes com a nova vacina num grupo de 60 voluntários que não estão doentes. Nesta primeira sase dos testes é verificado apenas se a nova substância é segura. Fernandes interrompeu os seus estudos na Alemanha para se instalar no Gabão. “Foi uma decisão fácil. Encontrar uma vacina para esta doença é um dos desafios centrais da ciência médica”, explica.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Voluntários corajosos
Antoine Maganga Mombo é um dos voluntários. Desloca-se ao centro de pesquisa pelo menos uma vez por mês para fazer um teste de sangue. “É só para ver se está tudo bem”, diz o jovem de22 anos, que não parece preocupado com a possibilidade de sofrer efeitos secundários. “Assim posso ajudar as pessoas nas áreas atingidas pelo surto”, diz.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Pobreza apesar do petróleo
A família orgulha-se de Mombo. “É preciso muita coragem”, diz o tio. Mas também o dinheiro é importante para Mombo. Pela participação neste teste recebe o equivalente a 400 euros. Apesar de ser um país rico em recursos naturais, a maioria dos gabuneses vive na pobreza. Mombo trabalha numa posto de gasolina.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
OMS recolhe os dados dos testes
Paul Pitzinger, da Organização Mundial de Saúde (OMS), ocupa-se da recolha dos dados resultantes dos testes. Pitzinger, que estuda medicina na Universidade de Viena de Áustria, está a passar vários meses no Gabão. A OMS correlaciona os resultados no Gabão com outros obtidos em testes paralelos na Europa, nos Estados Unidos da América e noutras regiões de África.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Ainda não há data para a vacina
A segunda fase dos testes será para constatar a eficácia da vacina. Ela deverá ser iniciada nos países africanos afectados dentro em breve. Bettram Lell, coordenador do projeto em Lambarene, não sabe dizer quando ou se a vacina será aprovada pelos reguladores. Mas mantém o otimismo: “Coisas que normalmente levam anos, agora estão a ser feitas em poucos meses”, diz.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Schweitzer cada vez mais esquecido
“Não temos dinheiro para a modernização”, diz o director do hospital, Hansjörg Fotouri. “Nos últimos anos, os donativos recuaram drasticamente. E já há pouca gente que conheceu pessoalmente Albert Schweitzer”, acrescenta. Fotouri quer criar um centro para promover o diálogo entre as medicinas tradicional e ocidental.