Mali conta os votos da segunda volta das presidenciais
13 de agosto de 2018No geral, o ato eleitoral foi mais pacífico que o do passado dia 29 de julho, mas não deixou de haver incidentes no norte do país. Em Arkodia, sudoeste de Timbuktu, o presidente da assembleia de voto foi morto a tiro por homens armados. Os agressores espancaram ainda outras quatro pessoas.
Também em Kiname, a 120 quilómetros de Timbuktu, homens armados impediram a realização da segunda volta da eleição, depois de terem incendiado todos os materiais de voto.
Al Housseini, editor-chefe da rádio Kledu, em Timbuktu, descreve o ambiente de medo que se vive na região. "As pessoas estão cheias de medo, estão escondidas em casa. Não querem sair para não terem de enfrentar qualquer ato de represália [destes grupos armados] que não querem que eles votem", conta.
Quase 36 mil soldados do Mali, mais seis mil do que na primeira volta, foram mobilizados para garantir a segurança durante o ato eleitoral. No entanto, segundo os observadores eleitorais, algumas mesas de voto voltaram a não abrir por razões de segurança.
Presidente alerta contra "manobras"
À saída da assembleia onde votou, em Bamako, Ibrahim Boubacar Keïta apelou à paz neste dia de eleições, e exortou os seus apoiantes para que não "respondessem a provocações" da oposição. "É hora do povo do Mali redefinir o que quer para o futuro. seja qual for a decisão, vamos assumi-la, com calma, serenidade e confiança, afirmou Keïta, deixando ainda um alerta: "Há manobras que estão em curso para fazer acreditar que estamos numa lógica de fraude. Mas como poderíamos encenar uma fraude quando temos a garantia do apoio do povo? Para quê tentar enganar?"
Ao atual Presidente, considerado favorito nestas eleições, é apontado o dedo por não ter conseguido reduzir a onda de violência jihadista e étnica no país.
A oposição acusa também Ibrahim Boubacar Keïta de fraude eleitoral. Uma posição que o candidato Soumaila Cissé voltou a reforçar no dia das eleições."Encontramos em todo o lado um desejo forte de mudança. O povo do Mali quer mudar, quer ter um futuro diferente", declarou. "Mas, infelizmente, encontrámos elementos de fraude em Bamako. Mas nós vamos ganhar porque estamos no caminho da verdade e da esperança."
Eleitores só querem paz
À saída das urnas, muitos eleitores pediam apenas estabilidade para o seu país. "Aquele que ganhar esta segunda volta, deve ser aceite por todos. Talvez Deus queira assim, que aceitemos o resultado para a paz", disse um residente na capital, Bamako.
"O que o novo presidente deve fazer é estabilizar e acelerar o nosso desenvolvimento, para que possamos esquecer a crise e garantir que todos os malianos se sintam seguros em casa e no exterior. É o maior desafio do Presidente", afirmou outro eleitor.
Dados do Centro de Observação Cidadã do Mali dão conta que a afluência às urnas foi fraca. Uma realidade explicada pelo clima de tensão em algumas partes do país, mas também pelas chuvas fortes que se fizeram sentir.
As primeiras sondagens, logo após o encerramento das urnas, davam conta de que só tinham votado 22% dos mais de 8,4 milhões de cidadãos chamados às urnas - 19% em Mopti, 35% em Timbuktu e 24% em Bamako.