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"Mali continua aberto ao diálogo com a CEDEAO"

mjp | com agências | Mahamadou Kane
11 de janeiro de 2022

Sanções impostas pela CEDEAO já se fazem sentir no Mali. Presidente de transição, Assimi Goïta, lamenta a "natureza ilegítima de certas decisões", mas garante que continua disponível para dialogar.

Coronel Assimi Goïta
Foto: Annie Risemberg/AFP

Esta segunda-feira (10.01), companhias aéreas dos países vizinhos, incluindo a Costa do Marfim e o Senegal, cancelaram voos para o Mali, após o bloco regional ter decretado o encerramento das fronteiras malianas aos países-membros. Fora da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Air France também já anunciou que não poderá garantir voos para Bamako "devido a tensões geopolíticas regionais".

As sanções foram impostas no domingo na sequência do prolongamento da transição política, proposto pela junta militar no poder. Incluem ainda a suspensão da ajuda financeira ao Mali, bem como a sua retirada dos mercados financeiros regionais e do comércio de bens não-essenciais, e o congelamento de ativos malianos nos bancos centrais dos Estados-membros.

Em menos de um ano, o Mali foi palco de dois golpes militaresFoto: Nicolas Remene/Le Pictorium/MAXPPP/dpa/picture alliance

Ainda assim, num discurso à nação transmitido na televisão estatal, o Presidente de transição, coronel Assimi Goïta, mostrou-se disponível para continuar a dialogar.

"Mesmo que lamentemos a natureza ilegítima, ilegal e desumana de certas decisões, o Mali continua aberto ao diálogo com a CEDEAO para encontrar um consenso entre os interesses superiores do povo maliano e o respeito pelos princípios fundamentais da organização", afirmou Goïta.

O líder militar não anunciou quaisquer medidas de retaliação, mas também não apresentou novas propostas para pôr fim à crise política: "Peço-vos que permaneçam calmos e serenos porque fizemos a escolha de forjar o nosso próprio caminho. A CEDEAO assumiu as suas responsabilidades, nós faremos o mesmo".

Críticas à CEDEAO

As novas sanções são uma resposta à intenção do Governo do Mali de prolongar o período de transição até cinco anos, o que significa adiar a data das eleições acordadas entre o poder em Bamako e a organização regional africana para o próximo mês de fevereiro, consideradas um marco na recuperação da legitimidade constitucional após os dois golpes militares em agosto de 2020 e maio de 2021.

O Governo maliano prometeu que vai tentar garantir o fornecimento normal de bens ao público, mas as sanções deverão abalar a economia deste que é um dos países mais pobres do mundo.

Conselho de Segurança da ONU deverá debater a situação no Mali esta terça-feiraFoto: Loey Felipe/UN Photo/Xinhua/picture alliance

Nos mercados de Bamako, no entanto, comerciantes ouvidos pela DW não estão preocupados: "Não tenho quaisquer receios sobre as sanções. Não vejo por que nos devemos preocupar, se os nossos bens podem passar pela Argélia ou Mauritânia. Penso que é agora ou nunca para o Mali deixar a CEDEAO para sempre", afirmou um vendedor.

As críticas à organização regional multiplicam-se: "Criámos a CEDEAO para a compreensão, para uma comunidade homogénea, mas ela age como um clube que trabalha contra o povo da África Ocidental. Não concordamos com estas decisões", disse um residente da capital maliana.

"São sanções muito duras. Isto não nos ajuda a sair da crise", frisou outro.

Esta terça-feira (11.01), a situação no Mali deverá ser debatida no Conselho de Segurança da ONU. O enviado das Nações Unidas para a África Ocidental e o Sahel, Mahamat Saleh Annadif, já "felicitou a CEDEAO pelo seu envolvimento ativo" na crise.

França, por sua vez, manifestou na ONU o seu total apoio às sanções impostas no domingo, enquanto a Rússia pediu compreensão para a junta militar no poder em Bamako.

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