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Mali dissolve partidos e agrava isolamento democrático

Mahamadou Kane | Martina Schwikowski | af | DW (Deutsche Welle)
16 de maio de 2025

A dissolução de todos os partidos políticos no Mali pela junta militar agrava o isolamento democrático do país e levanta sérias preocupações internacionais sobre o futuro da liberdade política.

Mali Bamako 2025 | Demonstrationen pro und contra Regierungsjunta nach Aufhebung der Parteiencharta
Foto: AFP

A decisão da junta militar que governa o Mali desde 2020 de dissolver todos os partidos políticos e organizações associadas, invocando alegadas "razões de ordem pública”, continua a gerar fortes preocupações na comunidade internacional.

A medida foi anunciada pelo governo liderado pelo coronel Assimi Goita dias após uma manifestação pró-democracia em Bamako, a capital. Desde então, vários ativistas desapareceram em circunstâncias misteriosas.

Em declarações à DW, Paul Melly, consultor do think tank britânico Chatham House, considera que o país está a regredir gravemente em termos democráticos. "Os acontecimentos no Mali são um retrocesso dramático para a democracia. É um país com uma longa história de eleições, apesar dos golpes. Mas neste momento, a liberdade de expressão e a política eleita foram encerradas", comentou.

Também o advogado maliano Toumany Oumar Diallo alerta que, na ausência de um novo quadro legal, qualquer forma de expressão política organizada passa a ser considerada ilegal.

Assimi Goita assumiu o poder após os golpes de Estado de 2020 e 2021, tendo prometido realizar eleições em fevereiro de 2024. No entanto, o sufrágio foi adiado por "motivos técnicos” e, até hoje, não foi anunciada uma nova data. Em abril, o governo recomendou o prolongamento do mandato presidencial de Goita até 2030.

Assimi Goita assumiu o poder após os golpes de Estado de 2020 e 2021Foto: OUSMANE MAKAVELI/AFP/Getty Images

Para Ulf Laessing, diretor do programa para o Sahel da Fundação Konrad Adenauer, esta decisão representa um sério revés. "É certamente um passo atrás e uma desilusão para as pessoas que esperavam eleições este ano. Espero que este não seja o fim da democracia nos países do Sahel", referiu.

Apesar da repressão, a resistência persiste nas redes sociais. O Coletivo de Jovens para o Respeito da Constituição continua ativo na defesa dos princípios democráticos. Aissata Ly, ativista e membro do movimento, garante que não vai desistir, apesar das intimidações constantes: "Recebemos ameaças todos os dias. Mas esta é uma batalha de longo prazo. Estamos do lado da verdade, do lado da lei."

A repressão estende-se também aos meios de comunicação. Sem partidos políticos, os debates nas rádios e televisões perderam pluralidade. As grelhas de programação e as linhas editoriais foram ajustadas, como explica Issa Kaba, diretor-adjunto da estação privada Renouveau Télévision: "Reorientámos o nosso debate, convidando sociólogos e professores universitários. Os debates já não são contraditórios. E abordamos temas menos polémicos."

Até os órgãos de comunicação exclusivamente digitais foram afetados pelo decreto presidencial que suspende a atividade política. O webjornalista Boubacar Bocoum relata as dificuldades enfrentadas: "Ficámos dois dias sem emitir. Agora falamos de cultura, inteligência artificial e cinema. Vamos explorar muitos outros temas enquanto esperamos que os atores políticos, que são os nossos principais interlocutores, voltem a estar disponíveis." 

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