Mali dá 72 horas a militares para deixarem aeroporto
Lusa
2 de agosto de 2022
O Mali deu 72 horas às "forças estrangeiras" que se encontram no aeroporto de Bamaco para deixarem o local. A sua presença, consideram as autoridades, "cria riscos para a segurança interna e externa" do país.
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Todas as "forças estrangeiras" presentes na base da empresa Sahel Aviation Services (SAS) no recinto do aeroporto de Bamaco, devem deixá-la "dentro de 72 horas", lê-se numa carta oficial dos Aeroportos do Mali à SAS, datada de segunda-feira, citada pela agência France-Presse.
"O alojamento e acolhimento" de militares estrangeiros na base "cria riscos para a segurança interna e externa" do Mali, consideram os Aeroportos do Mali, e não estavam previstos no acordo de utilização do espaço referido assinado em 2018.
Contactada, a SAS, companhia aérea privada que opera voos na região do Sahel, não respondeu.
A base da SAS no aeroporto de Bamaco serve como "base logística" para vários parceiros internacionais do Mali, incluindo militares costa-marfinenses, mas também soldados alemães, austríacos, belgas, suecos e até paquistaneses destacados em missões internacionais, em particular a ONU, disse em meados de julho o Estado-Maior General costa-marfinense.
Mali: a busca por laços mais fortes com Moscovo
02:07
Em meados de julho, o Ministério da Defesa alemão disse que a base da SAS no aeroporto era protegida por militares da Costa do Marfim.
Soldados detidos
A detenção em 10 de julho de 49 desses militares no aeroporto de Bamaco, que, segundo Abidjan, integravam um procedimento da ONU de apoio aos seus contingentes, mas para o Mali tratavam-se de "mercenários", desencadeou uma crise diplomática entre Bamaco, Abidjan e a ONU.
O porta-voz da missão da ONU no Mali foi expulso após ser acusado por Bamaco de ter publicado "informações falsas" sobre este caso em 11 de julho.
A verdadeira missão dos militares detidos continua incerta: segundo Abidjan, eles eram Elementos de Apoio Nacional, um procedimento da ONU que permite que os contingentes de missões de paz chamem prestadores de serviços externos para apoio logístico.
Mas, além de um acordo assinado em julho de 2019 entre Abidjan e a ONU sobre a sua presença no Mali, outro contrato de "prestação de serviços" foi assinado com a SAS, segundo o Estado-Maior General costa-marfinense.
O Togo está a mediar este incidente entre Bamaco e Abidjan, procurando "encontrar uma solução rápida" para o impasse.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.