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Mali: Junta Militar suspende atividade de partidos políticos

DW (Deutsche Welle) | Martina Schwikowski
9 de maio de 2025

As autoridades do Mali suspenderam as atividades dos partidos políticos. Cinco anos após assumir o poder, a Junta Militar dá sinais claros de que pretende permanecer no poder muito mais tempo, até 2030, sem eleições.

Assimi Goita, líder da junta no poder no Mali, assiste a uma parada militar em Bamako, Mali
Assimi Goïta (ao centro) e os governantes militares do Mali parecem determinados a retirar o poder político aos partidosFoto: AP Photo/picture alliance

O anúncio da suspensão das atividades dos partidos políticos no Mali não surpreendeu os partidos. De acordo com Abdina Karembé, do partido ASMA CFP do antigo primeiro-ministro Soumeylou Boubèye Maïga, a centena de partidos políticos que integram a iniciativa partidária IPAC vai reajustar a sua estratégia de acordo com a nova realidade, respeitando as leis.

"Toda a luta que estamos a travar é para preservar as conquistas democráticas e respeitar as leis da República. Agora, se a própria República decide suspender as atividades dos partidos políticos, enquanto legalistas, só nos resta tomar nota", sublinha Maïga.

Ibrahima Tamega, membro do Coletivo dos Jovens para a Democracia, classificou a medida como "ilegal e injusta". Considera que a mobilização dos partidos políticos para o regresso à ordem constitucional ultrapassa o simples quadro dos partidos políticos.

Tamega afirma que, apesar da suspensão das atividades dos partidos políticos, a mobilização não vai esmorecer. "São os malianos que não aguentam mais. São os malianos que exigem estabilidade", frisou.

Assimi Goïta no poder até 2030?

O general Assimi Goïta, atual presidente de transição, poderá continuar no poder até 2030, sem realizar eleições. A decisão foi aprovada numa conferência nacional organizada pela própria Junta e boicotada pelas principais forças de oposição.

Entre as decisões, está a revogação da lei que regula os partidos políticos, aprovada em 2005.  Também foram aprovadas novas regras para a formação, financiamento e direção dos partidos políticos. Por exemplo, fundar um novo partido, serão exigidos 100 milhões de francos CFA  (equivalente a cerca de 150 mil euros).

CEDEAO sem o Mali, Níger e Burkina Faso?

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A oposição reage com indignação. Acusa a Junta Militar de tentar eliminar a democracia e ignorar a Constituição do país.

Nouhoum Togo, líder do partido União para a Salvagarda da República (USR), lembra que o Mali tem uma Constituição que protege o multipartidarismo  e que exigir milhões para fundar um partido é inédito no mundo.

A conferência de Bamako realizada eesta semana propôs limitar a cinco o número de partidos autorizados no Mali. Também foi proposto um montante de 250 milhões de francos CFA, cerca de 380 mil euros, para a candidatura às eleições presidenciais. 

Para o ex-ministro Mohamed Salia Touré, trata-se de um "erro histórico”. Por seu turno, Hamidou Doumbia, também da oposição, afirma que a proposta fere a Constituição aprovada em 2023. "Há uma intenção política que consiste em esvaziar seu papel dos partidos políticos na vida pública", diz.

Limitação de direitos políticos

A Amnistia Internacional, condena todas as tentativas de limitar os direitos políticos no Mali. "Estamos diante de uma tentativa clara de silenciar a oposição e bloquear o caminho para aqueles que estão se preparando", afirma Ousmane Diallo, investigador da organização.

Desde abril de 2024, todas as atividades políticas estão proibidas no Mali. A Junta Militar também quer acabar com o que chama de "nomadismo político", ou seja, a mudança de filiação partidária durante um mandato.

Boulan Baro, membro do CNID-Faso Yiriwa Ton, partido do antigo ministro Mountaga Tall, fala de uma tentativa de manipulação: "É como se fosse criado um vazio jurídico que já não favorece a organização, o funcionamento e as atividades dos partidos políticos".

Todas as propostas serão analisadas pelo Conselho Nacional de Transição, criado e controlado pelos militares, após os golpes de Estado de 2020 e 2021. Muitos críticos temem que o Mali esteja caminhando para o fim da democracia conquistada com tanto esforço após a revolução de 1991.

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