Mali retoma processo de transição que marginaliza primeiro-ministro
30 de julho de 2012 No discurso à nação proferido no fim-de-semana, Traoré considerou que o seu país se engajou numa corrida contra o relógio após o golpe de Estado militar de março deste ano, e que o momento agora é de "união".
O presidente do Mali não demitiu das funções o primeiro-ministro Diarra. Mas a anunciada criação pelo chefe de Estado de novos órgãos de transição reduz de forma considerável os poderes do chefe do Executivo, notam os analistas.
Em entrevista à DW África, o primeiro ministro Cheick Modibo Diarra afirmou que o discurso de Traoré foi "apaziguador" e que apelou ao patriotismo dos cidadãos do Mali. "Ao mesmo tempo, o presidente apresenta propostas concretas. Espera-se agora que a sociedade civil e os políticos confirmem, melhorem e apoiem essas propostas para podermos finalmente sair da crise o mais rápido possível", disse Diarra.
Assim sendo, o Alto Conselho de Estado será dirigido pelo próprio presidente interino Dioncounda Traoré, que será assistido por dois vice-presidentes. Um ficará encarregado das questões de defesa e segurança e o outro da gestão da crise no norte do país, ocupado desde finais de março por militantes radicais islâmicos ligados à rede terrorista internacional Al-Qaeda no Magreb islâmico (Aqmi).
Por outro lado, Traoré indicou que ele próprio vai formar o governo de união nacional exigido pelos vizinhos do Mali membros da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental).
Sem marginalização
Em entrevista à DW África, o primeiro-ministro maliano Cheik Modibo Diarra disse não compreender a informação que, segundo ele, circula atualmente nas rádios e que diria que ele está sendo marginalizado politicamente. "Que eu saiba, o presidente não me afastou. Devo lembrar que ficou decidido numa das reuniões realizadas em Ouagadougou (Burkina Faso) que seriam necessárias várias consultas para a formação do governo de união nacional. E o que acontece hoje são consultas visando a criação desse governo de união", explicou. "Sobre este governo, eu e o presidente falamos e chegamos a acordo que seria ele quem iria efectuar as consultas com os partidos políticos e a sociedade civil", afirmou.
Para o primeiro-ministro, esta ideia de que estaria colocado à margem do processo não ajuda a atual situação política no Mali, porque não seriam mais do que "rumores": "Temos assuntos muito mais importantes que devem ser resolvidos. No fim iremos ver se o primeiro-ministro foi ou não afastado do processo para a solução da crise maliana", disse.
Observadores notam que, teoricamente, o presidente tem até terça-feira (31.07) para formar este governo, mas a mediação do Burkina Faso na crise maliana indicou que este prazo poderá ser dilatado caso seja solicitado.
O novo governo de união nacional a ser formado terá a legitimidade suficiente para poder lançar, com o apoio da CEDEAO, uma contra-ofensiva no norte do Mali. Mas a CEDEAO quer, entretanto, um mandato do Conselho de Segurança da ONU para que possa concretizar a intervenção militar.
Astrofísico de renome internacional, Cheick Modibo Diarra, em funções desde 24.04, foi contestado por uma grande parte da classe política maliana, em particular pelo partido de Dioncounda Traoré, que chegou mesmo a exigir a sua demissão por "incompetência, amadorismo e falta de estartégia" na solução da crise no norte do Mali. Por outro lado, foi criticado por não ter oficialmente solicitado uma intervenção de uma força militar ocidental africana no Mali para combater os islamitas que ocupam o norte do país.
Autor: António Rocha
Edição: Renate Krieger