Mali: solução para conflitos deve incluir a sociedade
Yaya Konaté
1 de fevereiro de 2019
Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz de Estocolmo lançou um trabalho que pretende dar voz ao povo maliano na elaboração das medidas de segurança para o país.
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A solução para o Mali tem de incluir a sociedade civil. É esta a visão do Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI) que lançou, na capital Bamako, um trabalho que pretende dar voz ao povo maliano na elaboração das medidas de segurança para o país. O chamado "Livro Branco sobre a Paz e a Segurança no Mali” é o resultado de centenas de entrevistas com cidadãos, que pedem um maior envolvimento das mulheres nos processos de implementação da paz e o fortalecimento dos laços de confiança entre as populações e as forças de segurança.
Annelies Hickendorff é especialista do SIPRI no Sahel. À DW, ela frisa que um dos objectivos da investigação foi servir os interesses da população."A nossa investigação e as entrevistas com a população deixaram claro que as pessoas não se sentem suficientemente ouvidas nem representadas nas respostas que têm sido dadas. Acreditamos que não é possível criar uma situação de estabilidade se as pessoas não se sentirem seguras”, afirma.
O SIPRI, em colaboração com várias associações do Mali, ouviu centenas de pessoas por todo o país, o que permitiu ao instituto entender as "dinâmicas locais” de cada região. O livro conta com recomendações de soluções específicas para norte, centro e sul.
"No Mali, há um problema de governança geral e, portanto, há a necessidade de fazer uma espécie de releitura da governança e colocar no centro a segurança humana e não apenas a segurança militar. É isso que tentamos propor com recomendações específicas para cada região porque mesmo o sul não tem sido levado em conta pela política. E é preciso estar atento para evitar que amanhã seja este o novo foco de insegurança", explica Brema Ely Dicko, coordenador científico da investigação.
Anseios por Governo eficazA instabilidade no Mali começou em 2012 após um golpe militar. Grupos radicais islâmicos e outros grupos rebeldes tomaram o controlo de várias cidades do norte do país. Uma situação que viu melhorias, em 2013, com a intervenção militar francesa. No entanto, os ataques continuam a ser frequentes. Nesta região do país, e segundo esta investigação, a população quer que o governo se torne eficaz e participe no financiamento dos serviços básicos. Já no centro do país, os habitantes clamam por mais informação contra "notícias falsas". E no sul, o governo tem entre outros desafios, o desenvolvimento de vias de comunicação e o combate aos pequenos crimes.
Mali: solução para conflitos deve incluir a sociedade, avalia SIPRI
"Propomos que [o Governo] vá às populações e que tente trabalhar em parceria com os líderes locais que ainda têm legitimidade junto às pessoas. Oiça o que têm para dizer. E que não se foque apenas em dar uma resposta à questão da segurança, mas que também apoie as populações no acesso a serviços básicos, como são a saúde, educação e justiça", aconselha Brema Ely Dicko.
Arte africana à espera de ser devolvida
Museus europeus mostram-se muitas vezes relutantes em devolver obras de arte africanas roubadas durante o tempo colonial. Presidente francês Emmanuel Macron anunciou que a França irá devolver 26 peças ao Benim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Glaubitz
Estátuas roubadas
Estes três totens - meio humanos, meio animais - fazem parte da coleção do Museu do Quai Branly, em Paris. São originários do reino do Daomé, onde fica hoje a República do Benim. A antiga colónia francesa declarou que os artefactos foram saqueados e, em 2016, pediu a sua devolução. A França negou. No entanto, voltou atrás na decisão: 26 peças do museu deverão ser agora devolvidas ao Benim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Glaubitz
Máscaras dos Dogon
Estas máscaras do povo Dogon também estão no Musée du Quai Branly, em Paris. São originárias de uma região onde está hoje o atual Mali e foram levadas para França na sequência de uma expedição nos anos 30. Máscaras como estas serviram de inspiração a pintores como Pablo Picasso ou Georg Baselitz. Documentos da altura detalham a crueldade com que os "exploradores" enganaram a população local.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Kaiser
Afugentador de colonizadores
De olhos bem abertos e com pregos cravados no corpo, esta Mangaaka é uma figura de poder do Congo usada por volta de 1880 para proteger uma aldeia africana contra as forças coloniais. Em todo o mundo, há apenas 17 figuras destas. Uma delas está no Museu Etnológico de Berlim. Estima-se que 90% da herança cultural africana foi levada para a Europa.
Foto: Imago/ZUMA Press
Deus Gu
O general francês Alfred Amédée Dodds desempenhou um papel preponderante na colonização da África Ocidental. Em 1892, os seus homens saquearam o Palácio do rei Béhanzin em Abomei, a capital do reino do Daomé. Um dos objetos saqueados foi a estátua do deus Gu, em bronze.
Foto: Imago/UIG/W. Forman
Rei Ghezo
O general Dodds também levou tronos e portas com relevos para a Exposição Universal de Paris, em 1878, no Palácio de Trocadéro. São bens que o Benim também exige de volta.
Foto: Imago/United Archives International
Bens confiscados
O general francês Louis Archinard conquistou, em 1890, a cidade de Segu, a capital do reino de Toucouleur. Os bens saqueados na altura - jóias, armas e manuscritos - estão hoje em exibição nas cidades de Paris e Le Havre. Desde 1994 que os descendentes do fundador do Império 'Umar Tall pedem a devolução dos objetos. A região pertence hoje ao Mali.
Foto: picture-alliance/akg-images
Não foi só em África
Os saques não ficaram por aqui. Os europeus também roubaram muitas peças de outros continentes. Por exemplo, em 1880, o navegador norueguês Johan Adrian Jacobsen foi a mando do Museu Etnológico de Berlim à América do Norte, à procura de objetos de culturas indígenas. As peças saqueadas em túmulos do Alasca foram devolvidas em 2018.