Pelo menos 12 civis foram mortos no Mali por presumíveis jihadistas que atraíram vítimas para um atentado à bomba. Dezenas deixaram as suas casas em Ouakan para se refugiarem nas aldeias vizinhas neste sábado.
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Pelo menos 12 civis foram mortos no Mali por alegados jihadistas que atraíram vítimas para um atentado à bomba, segundo disseram funcionários e uma fonte da polícia neste sábado.
"Os jihadistas mataram primeiro dois civis em Ouakan (uma cidade próxima ao centro do Mali) antes de manipularem os seus corpos com explosivos", disse à AFP um funcionário eleito de uma cidade próxima, sob condição de anonimato.
"Quando os pais e familiares dos mortos vieram à procura dos corpos, houve uma explosão e pelo menos dez outras pessoas foram mortas", disse.
Outro funcionário confirmou os relatos do ataque de sexta-feira, dizendo que "vários outros civis estão atualmente desaparecidos em Ouakan".
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Jihadistas
"Os corpos dos dois civis foram manipulados pelos jihadistas", disse o funcionário. "Explodiram quando os seus pais e familiares vieram à procura dos dois corpos - há pelo menos uma dúzia de mortos".
Neste sábado, dezenas de civis de Ouakan deixaram as suas casas para se refugiarem nas aldeias vizinhas, temendo novos ataques, disseram várias testemunhas à AFP.
Um funcionário da polícia regional disse à AFP "estão a ser tomadas medidas para garantir a segurança da população local" e que seriam postas em prática a partir de hoje.
"Os jihadistas estão a utilizar cada vez mais métodos criminosos", prosseguiu ele. "Eles manipularam corpos em Ouakan, que mais tarde foram rebentados".
O Mali, epicentro de uma sangrenta campanha jihadista de 10 anos em toda a região, sofreu golpes em agosto de 2020 e maio de 2021, o que culminou numa crise política e de segurança.
Conflito no Mali: Dogon refugiam-se em terra ancestral
Com a escalada do conflito no centro do Mali, o povo Dogon fugiu da região de Mopti, que foi a sua casa durante cerca de 700 anos, para "Mande", a sua terra ancestral.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma nova vida na terra ancestral
Tal como milhares de outros Dogon, Isaie Dignau deixou a região de Bandiagara, no centro do Mali, por causa da insegurança. Ele e a família refugiaram-se em Nana Kenieba, uma aldeia a cerca de 150 quilómetros a sudeste da capital Bamako. De acordo com Isaie, os contadores de histórias Dogon previram esta migração para terras outrora chamadas "Mande" há centenas de anos.
Foto: Udo Lucio Borga
A profecia do regresso a casa cumpriu-se
Segundo a lenda, os Dogon são originalmente de "Mande", a região do povo Malinke. Entre os séculos XI e XIII, foram forçados a partir face à islamização da África Ocidental. Após uma longa migração, instalaram-se em torno da famosa falésia de Bandiagara, no que é hoje a região de Mopti. Agora, devido à ameaça jihadista, estão a regressar a casa.
Foto: Udo Lucio Borga
Mali, um conflito sem fim
Os caçadores de Dan Na Ambassagou são a principal milícia Dogon em Mopti. O conflito no Mali começou em 2012 e em 2016 alastrou-se para o centro do país. À medida que as tensões entre grupos étnicos aumentavam, formaram-se milícias de autodefesa. A violência é causada pela falta de terras férteis e de água numa área afetada pelo jihadismo.
Foto: Ugo Lucio Borga
As consequências do conflito
O Mali está a enfrentar uma grave crise humanitária em regiões já subdesenvolvidas. A insegurança alimentar afeta 1,3 milhões de pessoas. Cerca de 347.000 pessoas foram forçadas a fugir das suas terras. Muitas procuraram refúgio em países vizinhos, mas a maioria está deslocada internamente e refugiada no sul do Mali e em campos de refugiados próximos de áreas urbanas.
Foto: Ugo Lucio Borga
Os Dogon no conflito do Mali
Muitos Dogon estão diretamente envolvidos no conflito. Seidu Doungo lutou contra os Dan Na Ambassagou na região de Koro. Em 2020, abandonou as armas. A sua família foi ameaçada por jihadistas e ele já não conseguia uma fonte de rendimento. Quando Seidu ouviu falar de Nana Kenieba, decidiu deixar Koro para encontrar a paz em "Mande".
Foto: Ugo Lucio Borga
A hospitalidade local
Os Malinke são o grupo étnico maioritário em Nana Kenieba. Segou Keita é o chefe da aldeia e acolheu os Dogon que regressaram de acordo com a antiga profecia. A comunidade apoia-os financeiramente e inclui-os na tomada de decisões.
Foto: Udo Lucio Borga
Distribuição justa da terra
No alojamento principal de Nana Kenieba, Isaie Dignau mostra a alguns habitantes um mapa das parcelas de terreno. Desde 2016, cerca de 400 famílias Dogon, principalmente de Mopti, instalaram-se aqui. Cada família recebeu dois hectares de terra e alimentos.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma comunidade secular
Os Dogon são uma comunidade secular, onde as pessoas são livres de professar o islamismo, o cristianismo ou crenças ancestrais. A aldeia tem duas mesquitas e duas igrejas, com correspondentes escolas corânicas e aulas de catecismo, sinal de um novo tempo de abertura.
Foto: Udo Lucio Borga
O medo ainda existe
O ambiente pacífico de "Mande" parece muito longe do conflito no Mali. Mas a comunidade vive com medo de que os jihadistas possam chegar e iniciar um conflito. Em Nana Kenieba, os habitantes organizaram patrulhas que mantêm os bandidos afastados por agora.