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Malianos dizem esperar "vitória rápida" contra rebeldes islâmicos

15 de janeiro de 2013

Militantes radicais islâmicos dominaram o norte do Mali durante seis meses, expulsando antigos aliados tuaregues. População diz-se aliviada com intervenção militar franceesa, mas também há temores de conflito duradouro.

Oficial francês (dir.) fala com homólogo maliano em Bamaco, capital do país africano dominado por grupos radicais islâmicos no norte
Oficial francês (dir.) fala com homólogo maliano em Bamaco, capital do país africano dominado por grupos radicais islâmicos no norteFoto: Reuters

No norte do Mali, os militantes do grupo radical islâmico Ansar Dine invadiram a cidade de Gao no final de junho do ano passado. E expulsaram rapidamente os seus antigos aliados, os rebeldes independentistas tuaregues.

Na cidade, os militantes quiseram implementar a sua interpretação estrita da lei islâmica, a Sharia. Proibiram a música e a dança e cortavam as mãos aos ladrões.

Iniciada na última sexta-feira (11.01), a intervenção militar do Exército francês tinha como os primeiros alvos a atacar as zonas da cidade de Gao sob domínio dos rebeldes radicais islâmicos.

No domingo (13.01), os militares da ex-potência colonial bombardearam as posições islamitas pela primeira vez. O exército maliano disse esta segunda-feira que os militantes tiveram de bater em retirada depois dos bombardeamentos franceses.

Um dos residentes de Gao disse à DW África por telefone que "está mais descansado". Apesar de referir que os rebeldes ainda não se retiraram por completo, "agora, a cidade está mais calma. As pessoas vão para a rua e fumam sem problemas os seus cigarros. […] Alguns militantes ainda estão aqui, mas ficam nos carros e não andam a pé pela cidade. Até agora, todas as posições que foram bombardeadas ficavam fora da cidade", explicou o homem, que não se identificou "por motivos de segurança".

Intervenção militar francesa recebida com bons olhos no Mali

Oficiais militares de países da África Ocidental na capital maliana Bamako para planos para a força de intervenção da CEDEAOFoto: Reuters

Muitos malianos parecem estar satisfeitos com a súbita decisão da França de enviar soldados para combater no Mali. Há meses que as Nações Unidas, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Europeia discutiam uma possível intervenção militar. Agora, "graças à França, o Mali já pode respirar", escrevia esta segunda-feira o "Journal du Mali", num editorial.

O alívio também se sentia em Sévaré, mais ao sul, na fronteira do território que era até agora completamente controlado pelos militantes islamitas. Esta base militar do exército maliano é considerada importante, a nível estratégico. Se os rebeldes tivessem chegado até aqui, poderiam, depois, seguir pelo caminho mais rápido até à capital, Bamaco.

A ofensiva francesa contra os militantes islamitas começou a partir de Sévaré. Segundo o exército maliano, os rebeldes tiveram de recuar. "As pessoas estão aliviadas e satisfeitas. Depois do recuo dos militantes, muitos acreditam que a guerra vai acabar dentro de alguns dias", espera um habitante. "Mas os rebeldes são bons a esconder-se. Eles desaparecem na mata, evitam as cidades e, depois, reaparecem por vezes de súbito num outro local", pondera.

Terá sido isso que os habitantes de Diabali terão experienciado. A cidade fica 400 km a norte de Bamaco e, esta segunda-feira (14.01), tornou-se, de súbito, alvo dos rebeldes: "Os rebeldes conquistaram a área e controlam agora a cidade", disse um residente, que também não se quis identificar.

Segundo ele, até agora, os rebeldes deixaram a população em paz e ainda não há feridos. Mas reina o pânico: "Estamos presos em nossas casas. Eu vivo perto da estrada nacional e dois rebeldes invadiram a minha casa. Mas estas são pessoas que agem sem medo ou inibição. E dispararam contra um helicóptero da minha janela. Felizmente o helicóptero não respondeu ao fogo. Senão já estaria morto", afirmou, também por telefone.

Conflito gerou 230 mil deslocados desde março de 2012

De acordo com o exército maliano, a Força Aérea francesa também atingiu posições dos rebeldes em Diabali. Pelo menos cinco militantes islamitas terão sido mortos.

Entretanto, dezenas de milhares de pessoas já tiveram de deixar as suas casas por causa do conflito, evidenciado em março de 2012 quando o Mali foi palco de um golpe de Estado militar. Os soldados, que se consideravam "fracos" diante dos tuaregues armados que tinham atuado no conflito líbio de 2011 e voltaram para o Mali, acusavam o então governo de "incompetência" na luta contra a rebelião tuaregue e os grupos radicais islâmicos no norte do país

As Nações Unidas estimam que, desde o início da tensão no país africano, há já 230 mil deslocados internos. Quase 150 mil pessoas já fugiram do Mali para outros países.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR, teme que os confrontos obriguem mais pessoas a deixar as suas casas. Segundo o brasileiro Hugo Reichenberger, técnico de relações internacionais do ACNUR no Burkina Faso, esta agência local "está actualmente preparando um plano de contingência para receber mais refugiados aqui no país. Fora os mais de 38 mil refugiados que temos agora no momento, o plano de contingência está prevendo para 110 mil refugiados adicionais".

Militares franceses se preparam para atuar no Mali; intervenção começou em 11.01 para combater rebeldes islamitas no norte do paísFoto: Reuters

Apoio a François Hollande

Também nesta terça-feira (15.01), aeurodeputada socialista Ana Gomes defendeu, em Estrasburgo, que a União Europeia (UE) deve apoiar a operação militar francesa no Mali e apelou aos Estados-membros para que manifestem a sua solidariedade em "atos".

Segundo Gomes, citada pela agência noticiosa LUSA, a iniciativa francesa no Mali foi "desencadeada numa situação de emergência, para suprir uma falha" da UE: a "lentidão em pôr de pé" a missão de segurança e defesa, decidida pelos ministros europeus "há meses".

Ana Gomes disse ainda que apoia a atitude do presidente francês, François Hollande, de enviar tropas ao Mali. "Dou o meu inteiro apoio à atitude de François Hollande, como daria a quem quer que estivesse no lugar dele em idênticas circunstâncias", disse.

Para Ana Gomes, a UE deve ter uma atitude de "apoio" e "solidariedade" para com a França, as autoridades do Mali e da União Africana, "que há muito tempo vêm pedindo o apoio da Europa para combater os grupos terroristas".

Neste sentido, apelou aos Estados-membros para que traduzam a sua solidariedade "em atos concretos, e não apenas verbais, como, infelizmente, até agora estamos a ver".

Ainda de acordo com a LUSA, o Ministério da Defesa francês anunciou também nesta terça-feira que a França tenciona triplicar o número de tropas no Mali, apontando para uma força de 2.500 soldados, enquanto a Organização para a Cooperação Islâmica apelou a um cessar-fogo.

Este anúncio de Paris indica que o Governo de François Hollande está disposto a assumir um papel maior - e durante mais tempo - na campanha contra os grupos islamitas que querem tomar conta da sua antiga colónia africana. E que as tropas francesas deixarão o Mali quando o país africano estiver "seguro".

Autor: Peter Hille/Guilherme Correia da Silva/RK/LUSA
Edição: António Rocha

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