Manuel dos Santos do PAIGC convocado pelo MP guineense
Braima Darame (Bissau) | Lusa
16 de maio de 2017
Ministério Público da Guiné-Bissau quer esclarecimentos sobre “a iminência de um golpe de Estado”, segundo declarações feitas por Manuel dos Santos do PAIGC.
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O histórico comandante de artilharia do PAIGC na luta contra o exército colonial português pela independência da Guiné e Cabo Verde, Manuel Santos, mais conhecido por "Manecas”, foi notificado a comparecer no Ministério Publico (MP), em Bissau, na próxima quinta-feira, dia 18 do corrente, pelas 14h, para prestar mais esclarecimentos sobre as suas declarações a um jornal português, ao qual afirmou que "a Guiné-Bissau poderá estar na iminência de um golpe de Estado", devido a prolongada crise política e institucional.
Aos microfones da DW-Africa, "Manecas” dos Santos, afirma que "quem não deve não teme”, ou seja, está disposto a enfrentar a justiça.
"Sou uma pessoa que anda sempre dentro da lei. Nunca infringe a Lei. É a minha opinião sobre a atual situação... ou será que não posso ter uma opinião? Estou na reserva há 40 anos e tenho amigos militares". "Manecas” alega que a sua entrevista está a ser politizada e deturpada.
"As pessoas estão a confundir as coisas. Quando digo que a Guiné-Bissau poderá estar na iminência de um golpe de Estado é porque estou a alertar para um caso que poderá acontecer. Se quisesse que acontecesse um golpe de Estado não denunciava a situação”, sublinhou.
"José Mário Vaz é um traidor", diz "Manecas"
manecas
Nesta entrevista ao Diário de Noticias de Portugal, a 27 de abril, em Bissau, Manuel dos Santos disse que a PIDE (polícia política do regime de Salazar) foi responsável pelo assassinato de Amílcar Cabral, que o atual Presidente José Mário Vaz é "um traidor", e que a Guiné-Bissau espera por um golpe de Estado "bom", para que as eleições sejam realizadas rapidamente. Recorde-es que devido à crise política e institucional vigente na Guiné-Bissau, há dois anos que o Parlamento não funciona.
Cassamá pede encontro com José Mário Vaz
O presidente do Parlamento da Guiné-Bissau, Cipriano Cassamá, pediu um encontro ao chefe de Estado, José Mário Vaz, para analisar a aplicação do Acordo de Conacri, como exigido pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Segundo um comunicado da presidência do Parlamento guineenses, o encontro "visa criar um quadro prévio de desanuviamento do clima interinstitucional prevalecente de modo a permitir, com dignidade e responsabilidade subjacente à função dos titulares de órgãos de soberania, implementar o instrumento de Conacri, aceite e sufragado por todos, na firme convicção de consagrar soluções equilibradas, adequadas, inclusivas e duradouras para a estabilidade", acrescenta o comunicado.
O Acordo de Conacri, prevê a formação de um Governo consensual integrado por todos os partidos representados no Parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado. O prazo dado pela CEDEAO para o cumprimento do acordo termina no próximo dia 25 de maio.
Helicóptero desconhecidoDevido à fragilidade no sistema de controlo e vigilância no país, a situação parece estar a ser aproveitada pelos narcotraficantes para retomarem as suas atividades na Guiné-Bissau, referem os relatórios de instituições internacionais, nomeadamente a ONUDC (Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e o Crime organizado) e a Interpol (polícia internacional), que apontam o recrudescer de tráfico de droga nalgumas zonas do interior profundo e nas ilhas do arquipélago dos Bijagós, embora o Governo diga o contrário, citando dados recolhidos pela Polícia Judiciária guineense.
O caso de um helicóptero de proveniência desconhecida e que aterrou no interior da Guiné-Bissau domina atualidade nesta terça-feira (16.05). As autoridades anunciaram que estão a investigar a aterragem, no domingo (14.05.), do aparelho numa estrada no sul da Guiné-Bissau, como nos conta o administrador de Quebo, Braima Djaló.
"Fui informado que aterrou um helicóptero em Mampatá, no domingo, sem saber do que se tratava. Uma viatura estava a espera do aparelho que pousou numa estrada alegando levar combustível. O facto criou pânico no seio da população. Ainda estamos a investigar o caso, tentanto localizar a viatura”.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.