Novos ataques na província de Manica atribuidos à RENAMO
Bernardo Jequete (Chimoio)
21 de dezembro de 2016
Na província de Manica um grupo de 10 a 15 homens armados vandalizou um complexo penitenciário, um centro de saúde, assim como uma filial da empresa "Companhia de Vanduzi". Também foram libertados 48 presos da cadeia.
Publicidade
A Polícia da República de Moçambique em Manica (PRM) confirmou que a ação teve lugar na madrugada de segunda-feira (19.12.2016) e que fora levada a cabo pelo braço armado da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO).
21.12. Violência Manica Vanduzi RENAMO - MP3-Mono
Na sequência do ataque a prisão no distrito de Bárue, os homens armados soltaram 48 reclusos que cumpriam suas penas naquela cadeia distrital. Os assaltantes apoderaram-se também de um número não identificado de fardas de guardas prisionais, assim como de várias algemas e de outro material da penitenciária.
No posto de saúde os autores recolheram diversos medicamentos que se encontravam naquela unidade hospitalar.
Na filial da empresa "Companhia de Vanduzi", os homens armados aterrorizaram vários trabalhadores e guardas que se encontravam a dormir, tendo saqueado diversos produtos alimentares, quatro motorizadas, assim como algum material informático, como computadores.
Polícia está no terreno, mas os resultados são parcos
Segundo a porta-voz do Comando Provincial da Policia da Republica de Moçambique em Manica, Elsídia Filipe, a corporação conseguiu, até agora, recapturar apenas seis reclusos dos 48 soltos pelos homens armados.
“Os assaltos tiveram lugar quando eram 4 horas e 20 minutos de segunda-feira. Tudo aconteceu no distrito de Bárue, localidade de Chiwala, povoado de Honde. Não registámos danos humanos, mas sim danos materiais significativos”, explicou Elsidia Filipe porta-voz da PRM em Manica. E adiantou: "Neste momento nós estamos a trabalhar. Estamos a fazer tudo para recapturar mais reclusos que foram soltos pelos homens da RENAMO. Os seis que conseguimos recapturar encontravam-se no distrito de Vanduzi."
Augusto Jaime, director corporativo da empresa Companhia de Vanduzi, deu a conhecer que um grupo de pessoas armadas vandalizou as instalações da sua empresa, tendo-se apoderado de vários bens, nomeadamente de material de escritório, computadores, motorizadas, televisores, alimentação e outros produtos.
“O que fizeram foi uma ação de vandalismo, de furto. Roubaram material de escritório, material que estava na casa do pessoal de gestão de campo. Os bandidos armados apoderaram-se de tudo, desde comida, televisores, motas, computadores. Ate agora é este o relatório preliminar. Felizmente não houve vítimas humanas e os bandidos puseram-se em fuga” disse o director corporativo da empresa "Companhia de Vanduzi".
A DW África contactou tentou contactar a RENAMO em Manica, mas ninguém - da parte do partido da perdiz - manifestou disponibilidade de comentar os ataques de segunda-feira.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.