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Manica: Operadores denunciam corrupção na venda de madeira

Bernardo Jequete (Manica)
16 de dezembro de 2020

Os operadores florestais da província moçambicana de Manica acusam as autoridades locais de corrupção e violação das normais por serem alegadamente aliciados pelos chineses. E pedem uma intervenção rápida do Governo.

Holz, Manica, Mosambik
Foto: Bernardo Jaquete/DW

Os operadores florestais licenciados da província central de Manica estão de costas voltadas com o setor florestal que deliberou a entrada de chineses para a compra de madeira na boca da fonte. Queixam-se ainda que a medida tem estado a originar o baixo preço do produto no mercado.

Entendem que os chineses, por serem estrangeiros, não têm o direito de efetuar compra do produto nas florestas, mas sim através dos operadores licenciados, que pagam impostos e cumprem com as exigências emanadas no plano de maneio, como por exemplo a responsabilidade social e reflorestamento.

"É uma questão grave quando vemos a presença dos chineses com documentos para a compra da madeira e aliciam os líderes comunitários com valores altíssimos para devastarem, delapidarem as nossas florestas", lamenta à DW África Omar Bachoo, operador florestal licenciado em Manica.

Bachoo acusa o setor florestal e autoridades comunitárias de terem sido corrompidos pelos chineses, daí permitirem a sua entrada e consequentemente o corte indiscriminado de vários tipos de espécies madeireiras. "Quando o Governo vem às áreas devastadas pensam que somos nós, enquanto são chineses que vêm fazer desmandos aqui no nosso território", denuncia o operador. "A maior parte das viaturas com madeira que saem daqui não pertencem os operadores florestais locais, mas sim a chineses que vem adquiri-la na boca da fonte", acrescenta.

"Os chineses não pagam impostos”

Lucília Mausse, outra operadora florestal em Manica, disse que com a presença dos chineses nas áreas de corte, a carrada de madeira perdeu o seu valor, pelo facto de o comprador conhecer as áreas de corte do produto.

Operadores florestais reuniram-se com o Governo provincial para manifestar a sua preocupaçãoFoto: Bernardo Jaquete/DW

"Nós temos as finanças por pagar, segurança social e outras obrigações, mas vem outros que só tiram a madeira e vão", lamenta. "Esse é um problema que estamos a pedir socorro e gostaríamos que se resolvesse o problema. Se hoje eles tiram 50 camiões ou 100 camiões por dia, daqui há cinco anos os nossos filhos e netos não terão nada para comer porque toda madeira estão a acabar hoje", apela Lucília Mausse.

Os operadores florestais em Manica também se queixam da má atuação dos fiscais florestais que escalam as suas empresas sem um pré-aviso. Omar Bachoo explica que os fiscais fazem visitas surpresa, sem margem para o operador contactar o gestor da conta, organizar os relatórios e outros documentos. "E não tem modo de atendimento, apenas optam por arrogância e aplicam multas", conta.

Problema não é de hoje

Maquias Chiutano, chefe do departamento de florestas e plantações agroflorestais nos serviços provinciais de Ambiente, reconhece que o problema é sensível e dura há já três anos. "É um problema estrutural. O problema de futricagem e corte indiscriminado sempre aconteceu", admite.

Edson Macuacua, secretário do Estado em Manica, disse que a exploração dos recursos florestais deve ser racional e sustentável, promovendo assim o desenvolvimento do distrito, província e do país, respeitando-se a lei.

A DW África tentou contactar, mas sem sucesso, alguns estaleiros chineses. Os gestores dizem não ter autorização para prestar declarações à imprensa. Também as autoridades comunitárias de algumas regiões recusaram-se igualmente a falar.

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