Manica: Polícia apela à denúncia de abusos sexuais
Bernardo Jequete (Manica)
26 de fevereiro de 2018
Em 2017, foram reportados 120 casos de abuso sexual em Manica. No entanto, a polícia afirma que muitos outros são abafados no seio familiar. Organizações de defesa das vítimas pedem uma mudança de mentalidades.
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A polícia moçambicana está a apelar aos cidadãos para quebrarem o silêncio e denunciarem casos de abuso sexual. O pedido surgiu após a uma denúncia de uma menor de 12 anos, que disse ter sido abusada sexualmente pelo avô, infetado com o vírus da SIDA.
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique, Mateus Avelino Mindú, agradeceu aos pais por fazerem a denúncia publicamente. "Queremos aproveitar, deste modo, para saudar o comportamento dos progenitores da menor ao se dirigirem ao gabinete de atendimento, para denunciar esse tipo de acto, porque casos similares têm acontecido noutras regiões e os familiares resolvem-nos a nível familiar", explica.
A menor está sob cuidados médicos. O avô, de 63 anos de idade, está detido a aguardar julgamento, mas nega as acusações.
No ano passado, na província central de Manica, foram reportados 120 casos de abuso sexual. Mas as autoridades temem que o número seja bastante superior - por falta de denúncias.
"LeMuSiCa" apoia
Anchia Camal Mulima Anaiva, coordenadora da organização "LeMuSiCa" (que quer dizer "Levante-se Mulher e Siga o seu Caminho"), pede uma mudança de atitudes. "A mudança de comportamento que queremos é ver o homem a olhar para a mulher como se fosse um ser humano e não um instrumento de prazer, um instrumento de resolver os seus problemas, quando se trata da rapariga, ou resolver os seus problemas no saneamento da pobreza dentro das próprias famílias", afirma.
A "LeMuSiCa" opera em cinco distritos da província de Manica, difundindo mensagens de sensibilização nas comunidades. A organização, com mais de 450 membros, cuida neste momento de 17 crianças.
Manica: Polícia apela à denúncia de abusos sexuais
"Temos recebidos casos de raparigas violadas sexualmente, outras forçadas a casamentos prematuros", afirma a responsável, acrescentando que "há meninas que vêm infetadas com HIV".
Nesta área da violência, a "LeMuSiCa" tem trabalhado em vários aspetos: "capacitamos, sensibilizamos, divulgamos e fazemos o acompanhamento das vítimas de violência a instâncias jurídicas e hospitalares", explica Anchia Camal Mulima Anaiva. Desde o início do ano, as autoridades de Manica receberam denúncias de dois casos de abusos sexuais. Os suspeitos estão detidos.
O dia a dia dos reclusos de Manica
A Penitenciária Regional Centro, na província moçambicana de Manica, é temida por quem passa por aqui. No entanto, os reclusos aprendem vários ofícios para facilitar a sua integração na sociedade após cumprirem as penas.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Estabelecimento exemplar
A Penitenciária Regional Centro de Manica, também conhecida por "Cabeça do Velho", é considerada uma das melhores do país. E é temida por quem passa por aqui. Tentativas de fuga não têm sido bem sucedidas devido ao forte esquema de segurança. Também a disciplina é uma das regras entre os reclusos. Os "frutos amargos do desacato" recaem sobre os próprios infratores, contam.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Tempo para estudar
Os reclusos têm direito a continuaros seus estudos na prisão. E para quem nunca frequentou uma sala de aula há programas de alfabetização e educação de adultos. A oferta vai desde a alfabetização até ao nível básico do primeiro ciclo. Alguns presidiários contam que, ao serem presos, tinham apenas a 5ª ou a 6ª classe. Agora, muitos deles já concluíram a 10ª classe.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Aprender para empreender
A penitenciária promove diversos cursos de curta duração. O objectivo é passar conhecimentos sólidos para que, em liberdade, os detidos possam integrar-se na sociedade e não voltem a cometer outros crimes.
Foto: DW/Bernardo Jequete
A arte da cestaria
Os trabalhos de cestaria e tapeçaria são os mais visíveis na cadeia de Manica. Em pouco tempo, os jovens aprendem rapidamente a fazer ou trançar chapéus, cestos, tapetes e outras peças. Os reclusos que beneficiaram dos cursos profissionalizantes costumam ter bastante trabalho para se ocupar.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Trabalho bem feito
Este conjunto de mesa e cadeiras foi produzido pelos reclusos. Os detidos afirmam que estão preparados para enfrentar os desafios do ramo de empreendedorismo, quando forem libertados depois do cumprimento da pena.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Viagens garantidas após libertação
O dinheiro conseguido com a venda de móveis e outros produtos serve para custear as despesas de viagem quando os presidiários regressam às suas zonas de origem. O gesto, segundo eles, é bastante gratificante. Antigamente, não tinham como regressar às suas províncias depois do cumprimento da pena.
Foto: DW/Bernardo Jequete
"Somos especialistas"
Os jovens reclusos já se sentem especialistas no ofício da carpintaria. E dizem-se lisonjeados pela oportunidade que lhes foi dada. Garantem que, depois de serem soltos, não vão abandonar a profissão.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Bons carpinteiros
Alguns reclusos encaram as capacitações com seriedade. Já existem bons carpinteiros que estão apenas a aguardar a liberdade para prosseguircom a formação. Dizem que, apesar de terem cometido um crime, o Governo sai a ganhar com a prisão. Porque eles constrOem, produzem a comida na machamba e fazem outras atividades em prol da penitenciária.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Cozinhar as próprias refeições
Os reclusos também cozinham as suas refeições. Há uma escala a ser seguida na cozinha. Segundo os detidos, a comida fica boa quando é feita por eles. O Estado gasta mais de dois milhões de meticais por mês só para a alimentar os cerca de dois mil reclusos.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Refeição especial
Aos doentes, é oferecida uma refeição diferente da que é servida aos restantes reclusos: sopa de esparguete com tomate, óleo, cebola e outros temperos. Para os saudáveis, a comida basta ter "água e sal, não há problemas", conta um dos detidos.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Hora de distração
Para além dos trabalhos desenvolvidos na penitenciária, os reclusos também têm direito a momentos de distração - uma forma de respeitar os direitos humanos. No entanto, dizem que se trata de "um refrescamento de memória". Muitos aproveitam a oportunidade para respirar ar puro, tomar banho de sol e até dançar.