Cabo-verdianos saem à rua por melhores condições laborais
Lusa | ms
10 de janeiro de 2020
A maior central sindical cabo-verdiana está dividida e cada uma das partes organiza a sua manifestação para exigir melhores condições laborais. A primeira é já no sábado. Governo acha que não há razões para os protestos.
Publicidade
A primeira manifestação está marcada para este sábado (11.01) e será organizada pela União Nacional dos Trabalhadores Cabo-verdianos - Central Sindical (UNTC-CS), a maior central sindical do país. Dois dias depois, 13 sindicatos - 12 deles filiados na UNTC-CS - vão também sair às ruas em todo o país, não só para chamarem atenção para a situação sócio laboral no país, mas também em discórdia com a maior central sindical.
A secretária-geral da UNTC-CS, Joaquina Almeida, informou que só na semana passada deu a indicação do dia da realização da manifestação, mas que já tinha convidado todos os sindicatos da ilha de Santiago para se reunirem e decidirem a ação reivindicativa em conjunto. Para a secretária-geral, todas as manifestações dos trabalhadores têm razão de existir e serão sempre apoiadas pela central sindical.
Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Financeiras (STIF) de Cabo Verde, Aníbal Borges, disse que a manifestação da UNTC-CS, onde é filiado, é uma "fuga em frente" e um "sinal de desespero" por parte da maior central sindical do país. O sindicalista, que anunciou a manifestação em dezembro, salientou ainda que a UNTC-CS "se sentiu ultrapassada e desautorizada" pela esmagadora maioria dos sindicatos nela filiados.
Mais poder de compra e menos desemprego
Reposição do poder de compra, despedimentos sem justa causa, promoções baseados em favores políticos e nepotismo, assédio nos locais de trabalho e incumprimento dos acordos rubricados na concertação social são alguns dos motivos que levam a UNTC-CS a sair à rua.
Os oito sindicatos de Santiago também exigem a "reposição imediata" do poder de compra, mas igualmente o cumprimento dos compromissos assumidos com os trabalhadores, e que constam do Programa do Governo, e redução de impostos.
Jovens cabo-verdianos já não querem ser engraxadores
02:39
Também querem a diminuição do desemprego, sobretudo jovem, reposição dos direitos retirados aos segurados, diminuição da idade da reforma dos trabalhadores marítimos para 60 anos, instalação urgente do Juízo do Trabalho em São Vicente e reforço e implementação da Inspeção Geral do Trabalho e da Direção Geral do Trabalho (DGT) em Santo Antão, Boavista e Fogo.
A manifestação da UNTC-CS será realizada na ilha de Santiago, com concentração final no largo do Estádio da Várzea, em frente ao Palácio do Governo. A UNT-CS, com mais de 40 anos, é a maior central sindical cabo-verdiana e junta 21 sindicatos, sendo três de âmbito nacional e mais de 35 mil membros inscritos.
A manifestação dos outros sindicatos tem âmbito nacional e, na ilha de Santiago, e vai percorrer algumas ruas, passando pelo Palácio do Governo. O protesto termina em frente à Assembleia Nacional, em Achada de Santo António, onde vai estar a decorrer a sessão solene comemorativa do do Dia da Liberdade e da Democracia.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, considerou que não há razões para as manifestações e apontou que o seu Governo tem criado para mais empregos, mais rendimento e tem melhorado as melhores condições de vida das famílias.
Quando a extração de areia é a única forma de sustento da família
A extração de areia para a construção está a permitir que centenas de pessoas fintem o desemprego em Nampula, norte de Moçambique. A atividade representa riscos para o ambiente quando exercida de forma descontrolada.
Fintar o desemprego
Apesar de praticada há bastante tempo, a extração de areia para a construção civil aumentou nos últimos anos em Nampula, norte de Moçambique, devido à crise económica que levou ao encerramento de várias empresas na região. A exploração e venda de areia tornou-se um “trabalho na moda” que ignora sexo e idades. Basta força e vontade de trabalhar.
Vender areia para pagar as despesas
Chama-se Margarida Martins e é uma adolescente de 17 anos que luta pela sobrevivência. É casada e mãe de um filho e o seu esposo é moto-taxista. Margarida contribui para o pagamento das despesas familiares com o dinheiro que ganha a carregar e vender areia. Esta jovem vai de obra em obra à procura de uma oportunidade de emprego para fornecer aquela matéria-prima.
Foto: DW/S. Lutxeque
Não é um trabalho de sonho
Quito Francisco é servente de obras de construção em moradias e outras infra-estruturas. Concluiu o ensino secundário há dois anos, mas ainda não teve o primeiro trabalho formal. Ser ajudante de obras não é o seu sonho, mas ainda não teve hipótese de entrar no Instituto de Formação de Professores. ‘‘Por falta de emprego optei por esta atividade. Consigo dinheiro para ajudar a minha família’’, diz.
Foto: DW/S. Lutxeque
Areia para produção de carvão vegetal
A areia serve de matéria-prima para construções, mas também é usada na produção de carvão vegetal. Faz-se uma cova onde se coloca lenha e capim seco. Por cima, deixa-se areia e espaço - pequenos furos - para libertar o fumo. Depois de alguns dias, logo que toda a lenha tenha sido consumida pelo fogo, obtém-se o carvão natural.
Foto: DW/S. Lutxeque
Devastação de extensas áreas de floresta
A extração de areia - tal como acontece com outros recursos naturais - carece de autorização governamental. Mas em Nampula essa atividade é pouco controlada. Os garimpeiros ignoram quaisquer formas de proteção do meio ambiente e desmatam florestas à procura da matéria-prima. A extração de areia de forma descontrolada junto de zonas residenciais deixa as habitações em risco de desabamento.
Foto: DW/S. Lutxeque
Ordenado superior ao de um funcionário público
Extrair areia não é fácil. "É preciso força", segundo Eugénio que trabalha como ‘‘areeiro’’ há cinco anos. ‘‘Fico feliz com este trabalho. Não o abandonarei enquanto não tiver um emprego melhor’’, garante. O jovem conta que por cada carga de areia ganha 900 a 1200 meticais. Se tiver muito material, pode fazer 6.000, o equivalente a 100 dólares, um valor acima do salário de um funcionário público.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mais solicitações, mais trabalho e mais dinheiro
Este local de extração e venda de areia, na zona do Ye-ye, arredores de Nampula, é um dos mais concorridos pelos camionistas devido à areia fina considerada de boa qualidade. Diariamente, estima-se que mais 50 viaturas ligeiras rumem ao local em busca de matéria-prima, porque segundo os garimpeiros “quanto maior forem as solicitações e trabalho, melhor é o rendimento’’.
Foto: DW/S. Lutxeque
Novos bairros em expansão em Nampula
Mesmo com a crise económica que abala Moçambique desde 2015, Nampula continua a crescer. Em algumas zonas arenosas muitos cidadãos preferem poupar dinheiro, abdicando dos “areeiros” e usando recursos do seu próprio pátio. É uma forma de ganhar dinheiro sem sair de casa, embora essa atividade acarrete riscos. Buracos nas imediações das habitações deixam as casas mais vulneráveis às intempéries.