"Manifestações espontâneas" vão ter lugar em Luanda
Lusa | ar
14 de outubro de 2016
Ativistas angolanos anunciarm a intenção de realizar "manifestações espontâneas" em Luanda para reivindicar a libertação de 'Dago Nível Intelecto'.
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Ativistas angolanos anunciaram esta sexta-feira (14.10.) que pretendem realizar "manifestações espontâneas" na capital angolana, Luanda, para reivindicar a libertação de um outro jovem, detido há seis meses por ter gritado em tribunal que o mediático julgamento de 17 ativistas foi uma "palhaçada".
Em causa está o caso de Francisco Gomes 'Dago Nível Intelecto', considerado pela Amnistia Internacional como um "prisioneiro de consciência", detido desde 28 de março de 2016, a cumprir uma pena de oito meses de cadeia, apesar de os 17 ativistas condenados a penas de prisão de até oito anos e meio, por rebelião e associação de malfeitores, terem sido libertados no final de junho.
Numa carta entregue na quinta-feira (13.10.) ao governador da província de Luanda, general Higino Carneiro, os subscritores, incluindo o luso-angolano Luaty Beirão e o investigador Nuno Dala (ambos do grupo de 17 ativistas condenados naquele julgamento), recordam que aquele jovem "verbalizou" a sua indignação com "duas frases que lhe valeram uma condenação".
"Prolongada e desnecessária manutenção na cadeia”
Dizem não pretender argumentar sobre a "invalidade jurídica" da condenação, em julgamento sumário no próprio dia, no Tribunal de Luanda, mas que se pretendem contestar "a sua prolongada e desnecessária manutenção" na cadeia de Caquila (arredores da capital), "pois é também de lei que os cidadãos condenados possam usufruir de liberdade condicional ao atingiram metade da pena".
"Já lá vão 03 meses que se ultrapassou essa metade", observam na carta com a qual informam o governo da província de Luanda da intenção de "desencadear uma série de manifestações espontâneas".
"A qualquer hora, em qualquer dia e em qualquer local desta cidade, até que o nosso companheiro seja solto. Basta de prender pessoas por razoes políticas", escrevem.
Julgamento é uma "palhaçada”
O jovem ativista foi condenado em processo sumário minutos depois de conhecida a sentença aplicada então aos 17 ativistas, por ter gritado na sala de audiências que aquele julgamento era uma "palhaçada" e que os "palhaços estão bem identificados", criticando a forma como nomeadamente o juiz da causa, Januário Domingos, conduziu o process.
Os 17 ativistas, contestatários da governação em Angola, começaram no próprio dia da condenação a cumprir pena, mas foram libertados a 29 de junho por decisão do Tribunal Supremo, que deu provimento ao 'habeas corpus' apresentado pela defesa, pedindo que aguardassem em liberdade o resultado dos recursos da sentença da primeira instância.
Amnistia rejeitada
Acabaram por ser abrangidos por uma amnistia geral aprovada no Parlamento em julho último, mas alguns destes já manifestaram a intenção de a recusar, algo que não está previsto legalmente, segundo os advogados.
Em março, na última sessão do julgamento, o Ministério Público deixou cair a acusação de atos preparatórios para um atentado ao Presidente e outros governantes, apresentando uma nova, de associação de malfeitores, sobre a qual os ativistas não chegaram a apresentar defesa, um dos argumentos dos recursos da defesa.
Os ativistas garantiram em tribunal que defendiam ações pacíficas e que faziam uso dos direitos constitucionais de reunião e de associação, encontro durante os quais liam um livro sobre intervenção política.
"Este julgamento é uma palhaçada"
Presos desde junho de 2015, os 15 ativistas aguardam o desfecho do julgamento desde setembro. Recentemente, Nito Alves classificou o julgamento como uma "palhaçada", o que lhe valeu uma condenação a seis meses de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
"Este julgamento é uma palhaçada"
Depois de quase seis meses de julgamento, Manuel Nito Alves, um dos 15 ativistas detidos desde junho, afirmou que todo o processo era uma "palhaçada". A afirmação valeu-lhe uma condenação a seis meses de prisão. A Central Angola 7311 resolveu criar várias imagens, onde os ativistas surgem com maquilhagem de palhaço, para desmascarar o "circo" em que estão envolvidos.
Foto: Central Angola 7311
Reclusos do Zédu
No início do julgamento, a 16 de novembro do ano passado, os ativistas chegaram a tribunal com t-shirts onde tinham escritas frases de protesto. Luaty Beirão, um dos revus, afirmou na altura que "Vai acontecer o que o José Eduardo decidir. Tudo aqui é um teatro".
Foto: DW/P.B. Ndomba
#LiberdadeJa
Ao longo dos vários meses de processo, foram vários os protestos que aconteceram nas ruas de Luanda e de outras cidades. A Amnistia Internacional pede a liberdade dos prisioneiros de consciência, que se mostram bastante desgastados psicologicamente.
Foto: Reuters/H. Corarado
Prisão domiciliária desde dezembro
Em dezembro, o Tribunal Constitucional de Angola decretou o fim da prisão preventiva dos 15 ativistas. No acórdão era possível ler-se que "cabe ao juiz da causa determinar a medida de coação a aplicar nos termos da lei". A Procuradoria Geral da República propôs a alteração da medida de coação para prisão domiciliária.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
Prisão domiciliária sem fundamento
Em fevereiro, o Tribunal de Luanda decretou que os ativistas deveriam continuar em prisão domiciliária. Praticamente um mês depois, os revus continuam à espera das alegações finais. "Nós sabemos que não podemos esperar nada de bom disto, apenas uma condenação", disse António Kissanda, da Central Angola 7311, à DW.
Foto: Reuters/H. Corarado
"Os 15+2 estão a ser julgados por falar a verdade"
"Falar sobre as boas condições que José Eduardo dos Santos criou não é crime, mas dizer que não há luz, água potável, educação já é", diz António Kissanda. O 15+2 (Laurinda Gouveia, na foto, e Rosa Conde foram constituídas arguidas, mas aguardam julgamento em liberdade) estão a ser julgados porque "falaram a verdade".
Foto: Central Angola 7311
Ativistas usam greve de fome como forma de protesto
Em setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão (na imagem) e Sedrick de Carvalho declararam uma greve de fome contra a prisão preventiva, ilegal nessa altura, ao abrigo da Constituição angolana. Luaty Beirão manteve-se em greve de fome até ao final de outubro. Agora, é Nuno Dala quem usa a greve de fome como forma de protesto: tomou a decisão há seis dias (9.03).
Foto: Central Angola 7311
Julgamento sem fim à vista
Ontem (14.03), realizou-se mais uma sessão do julgamento dos 15+2. David Mendes (à esquerda na imagem), um dos advogados de defesa do grupo, recusa depor como declarante no processo. A sessão de ontem, prevista para as declarações finais, foi adiada para 21 de março, depois de o advogado ter sido impedido de exercer as suas funções como advogado de defesa.
Foto: DW/Nelson Sul d'Angola
"Isto é uma farsa que os levou à cadeia e os mantém na cadeia"
Para António Kissanda, da Central Angola 7311, este julgamento é uma farsa e lembra todos os outros ativistas que, ao longo dos 36 anos em que José Eduardo dos Santos está no poder, foram perseguidos e mortos. "Nós já estamos mortos, para dizer a verdade, só falta estarmos no caixão como prova disso", afirma. "Tal como em qualquer ditadura, é importante que não se criem mentalidades no povo".