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Manifestantes condenados em Angola autorizados a receber visitas

27 de setembro de 2011

As mães de dois dos jovens manifestantes presos estão preocupadas com as condições em que os filhos se encontram detidos.

Manifestação de angolanos contra o Presidente Eduardo dos Santos, em Londres, frente à embaixada de Angola, a 7 de marçoFoto: Huck

Dezoito jovens manifestantes foram condenados na sequência da manifestação autorizada de 3 de setembro, na qual protestaram contra o regime do Presidente Eduardo dos Santos. Cinco deles, considerados como o núcleo duro da organização do protesto, foram condenados a três meses de prisão efetiva – cada.

São eles Dionísio Casimiro, conhecido por "Carbono", Francisco César Jamba Kassaluka, Afonso Mayenda João Matias, Bernardo António Pascoal e Alexandre Dias dos Santos "Libertador". Estão a cumprir pena num estabelecimento prisional de nome Caboxa, na província do Bengo, perto da capital Caxito, a cerca de 50 km de Luanda.

Sem contato

Na prisão, chegaram a fazer greve de fome e foram impedidos até agora de receber visitas. Mas a 28.09, Noémia de Fátima vai poder visitar o seu "Libertador" condenado. É que “ontem (26.09) ligaram para mim a dizer que eles teriam visita a partir de ontem. Só que eu só vou lá amanhã (28.09), devido ao transporte”, conta Noémia de Fátima.

O acesso à prisão constitui um obstáculo às visitas, a partir de agora, aparentemente, autorizadas. Mas até então, nenhum dos detidos foi autorizado a receber visitas, e mesmo durante o julgamento, em Luanda, “no tribunal, nos três dias, não consegui conversar com ele”, lamenta a mãe de Alexandre “Libertador”.

Sinto-me “triste” e “desgastada”

Presidente angolano José Eduardo dos Santos foi o alvo das manifestações que conduziram à condenação de dezoito jovensFoto: picture-alliance / dpa

Noémia está preocupada com o estado de saúde do seu filho, pois “ele ficou doente”, “esteve mal mesmo, devido à surra que lhe deram”, desabafa. “Ele é o meu primeiro filho e ao vê-lo a sofrer assim fico triste”, lamenta a mãe.

Além de triste, Luísa Pires sente-se “desgastada” com o castigo atribuído ao seu filho, o rapper “Carbono” Casimiro. Está também revoltada pois “só pelo facto de ele ter participado na manifestação, está a ter esse castigo todo”, ou seja, três meses de pena efetiva. Também Noémia de Fátima ainda não compreende a condenação do seu filho, pois “a manifestação foi autorizada, tinham tudo assinado e até agora não sei explicar”.

Para Luísa, “Carbono” Casimiro “é um manifestante e acho que cada um que se sente desconfortável se pode manifestar e pode dizer o que acha”. No entanto, reconhece que “na nossa terra as pessoas não podem dizer o que acham e o que deixam de achar. A única «pessoa» que pode achar e que pode fazer é o partido no poder”.

Consternada com a situação em que o seu filho e outros jovens estão envolvidos, Luísa Pires considera que “quem faz são eles e quem pisa por cima da lei são eles [membros do partido no poder]”.

Sobre as condições em que o seu filho se encontra no estabelecimento prisional da Caboxa, Luísa diz que “nunca entrei lá dentro, não conheço as condições da prisão, mas aqui, tudo o que é prisão, não é nada que se possa ver como um lugar normal”.

Atenções internacionais

Os protestos dos últimos meses tornaram visíveis as ameaças, prisões e a intimidação. Os observadores nacionais e internacionais continuam atentos à situação e os mais ativos exigem às autoridades angolanas que respeitem os direitos humanos, consagrados na Constituição.

A organização de defesa dos direitos Humanos, Human Rights Watch, emitiu já um comunicado a alertar para a violação de direitos fundamentais. William Tonet, um dos advogados dos jovens prisioneiros, já pediu recurso ao Tribunal Supremo.

Autor: António Cascais
Edição: Glória Sousa / António Rocha

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