Após uma pausa de mais de um mês, opositores do regime togolês voltaram a convocar protestos no fim-de-semana. As tentativas de mediar a agitação no Togo parecem falhar.
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O jovem com uma toalha amarrada à cintura não faz ideia do que se está a passar em Lomé, no Togo. Acabou de tomar duche e parece ter entrado num filme de ação. Um camião acelera na esquina ao lado, agentes da polícia de intervenção sobem a uma parede e arrastam dois homens para fora de um prédio. "Não sabemos se eram ladrões ou só manifestantes", afirma o jovem.
Família há mais de 50 anos no poder
Grupos da oposição protestam regularmente contra o Governo togolês desde agosto de 2017. A família de Gnassingbé Eyadema, que assumiu o poder através de um golpe de Estado em 1967, governa o país há mais de meio século. Em 1992, Eyadema aprovou uma lei para limitar a dois os mandatos presidenciais Uma década depois, revogou-a para permanecer no cargo. Após a sua morte, em 2005, os militares ajudaram o seu filho, Fauré, a assumir a Presidência. É aí que ele se mantém até hoje após eleições controversas.
A oposição pede, no entanto, que o país volte a adotar a Constituição de 1992, que impede o Presidente de se candidatar a um terceiro mandato sucessivo de cinco anos. Desde agosto, já houve manifestações em que participaram mais de 100 mil pessoas, num país com menos de oito milhões de habitantes. Confrontos com a polícia são comuns. Dezenas de manifestantes foram presos e pelo menos onze foram mortos.
A onda de protestos foi interrompida em fevereiro, quando o chefe de Estado do vizinho Gana, Nana Akufo-Addo, interveio como mediador - houve conversações e prisioneiros foram libertados.
Mediação falhou?
A oposição convocou, no entanto, novos protestos, acusando o Governo de não estar disposto a fazer reformas sérias. Já o Executivo diz que as tentativas de mediação do Gana ainda não terminaram. Por isso, proibiu todas as manifestações no país. "Quem não aceitar, pode ir queixar-se ao tribunal", afirmou o ministro das Comunicações togolês, Guy Lorenzo. "Mas eles só querem protestar, e não aceitamos isso. Vivemos num Estado de direito."
As forças de segurança reprimiram duramente as manifestações do fim-de-semana - por exemplo, junto à casa do jovem que acabara de tomar de duche.
Crise política no Togo sem solução
"Só estava a passar, não fiz nada", gritava um dos homens arrastados pela polícia.
"Há cinquenta anos que nos tentamos livrar desta ditadura", disse outro homem que estava à beira da estrada - mas só depois de a polícia desaparecer de vista - acrescentando que é escandaloso que a população já nem possa protestar num país onde os "jovens não têm emprego".
Gás lacrimogéneo e barricadas
A poucos quilómetros de distância, representantes da aliança da oposição, formada por 14 partidos, barricaram-se na sede do partido Convenção Democrática dos Povos Africanos (CDPA). Soldados foram até ao local e lançaram gás lacrimogéneo contra as poucas pessoas que estavam à frente do edifício.
"Nem estamos a protestar, estamos apenas a reunir-nos na sede de um partido político", contou o opositor Dodji Apevon.
O Exército tem sido alvo de críticas devido à sua proximidade com o Presidente. "O Togo também é vosso", afirmou uma mulher mais velha, dirigindo-se aos soldados.
Mas, enquanto decorriam estes protestos e movimentações no fim-de-semana, o Presidente estava reunido com os líderes regionais numa zona vizinha. Fauré Gnassingbé é o atual presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e na agenda do encontro estava a crise política na Guiné-Bissau. Já a crise na própria casa de Gnassingbé não foi sequer mencionada.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.