Manifestantes pedem demissão do chefe de gabinete de JLo
Lusa
3 de outubro de 2020
Cerca de cem pessoas manifestaram-se este sábado (03.10) em Luanda, exigindo a demissão do chefe de gabinete do Presidente angolano. Edeltrudes Costa alegadamente terá sido beneficiado em contratos públicos.
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Os manifestantes concentraram-se perto das 11:00 no Largo das Heroínas e saíram às 13h em direção à Mutamba, numa marcha acompanhada de apitos e palavras de ordem contestando Edeltrudes Costa e com recados ao Presidente e o partido do poder, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
À cabeça do desfile, os manifestantes empunhavam uma faixa com os dizeres "Edeltrudes Fora", além de cartazes improvisados. "J-LO queremos o nosso gatuno", lia-se num deles, numa alusão ao Presidente da República. "Angola continua amordaçada", contestava outro.
A manifestação foi organizada para pressionar o Presidente da República a demitir o seu chefe de gabinete, disse à Lusa Dito Dali, um dos organizadores.
"O senhor Edeltrudes está a ser acusado de ter desviado avultadas somas de dinheiro de Angola para o exterior, dinheiro que serviu para comprar casas em Cascais, apartamentos e carros topo de gama. Não podemos aceitar que um gestor público no exercício das suas funções e neste momento de crise pegue o dinheiro e o leve para o exterior, quando há angolanos a morrer por falta de medicamentos dos hospitais e por falta de comida", criticou.
Luanda: Angolanos pedem a demissão de Edeltrudes Costa
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Combate à corrupção
Dito Dali destacou que o combate à corrupção foi a bandeira do Presidente e que este tem de dar o exemplo: "A Presidência da República não pode ser um abrigo para corruptos. É bom que o Presidente estenda a luta contra a corrupção a todas as esferas, sejam seus filhos, amigos próximos ou compadres, devem ser responsabilizados".
Dito e outros ativistas estão a recolher assinaturas para uma petição pública para mostrarem que "os angolanos estão atentos e vão acompanhando as ações dos gestores públicos", pretendendo remeter depois o manifesto para a Presidência.
"Vamos até ao fim para ver o senhor Edeltrudes Costa fora da Presidência da República. A partir de hoje, vamos transformar as ruas de Luanda nos nossos escritórios", prometeu Dito Dali, reclamando uma revisão da Constituição da República.
Quanto à luta contra a corrupção, "tudo depende do Presidente da República", afirmou. "Se demitir Edeltrudes, esse 'slogan' de luta contra a corrupção vai se manter, mas se não o tirar significa que o combate a corrupção fracassou e é pena porque o Presidente vai perder credibilidade", a nível interno e externo.
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Também a ativista social Laura Macedo se juntou ao protesto, destacando a luta contra a corrupção. "Ainda não conseguimos perceber o que o Governo quer com este tipo de luta contra a corrupção, achamos que não estão a combater nada, as acusações não passam de brincadeira", disse à agência de notícias Lusa.
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Outros casos
Laura Macedo apontou o caso de Augusto Tomás, ex-ministro dos Transportes "que está na cadeia, mas continua a ser um homem rico" e do empresário Jean Claude Bastos de Morais com quem o Governo angolano "fez um pacto de não agressão" como maus exemplos. "Agora temos João Lourenço a decretar contratos com os seus auxiliares, não pode ser", criticou.
"Este é o mote que me traz aqui, não estou preocupada com os Edeltrudes que a vida nos traz, estou preocupada é com a forma como o Presidente Joao Lourenço está a governar o país", destacou a ativista.
"Não há milionário nenhum aqui -- e não são poucos -- que tenha trabalhado para esse dinheiro", rematou a ativista social, defendendo que todo o Governo se devia demitir, por que "o problema está no próprio Presidente da República".
A marcha parou na zona da Mutamba onde um cordão policial travou os manifestantes e impediu que se aproximassem da Cidade Alta, centro do poder político em Luanda, que alberga o Palácio Presidencial.
O caso que envolve o chefe de gabinete de João Lourenço foi noticiado recentemente pela estação televisiva TVI e envolve a contratação de uma empresa de consultoria de Edeltrudes Costa num negócio que tinha como objetivo a modernização dos aeroportos angolanos e terá rendido vários milhões de euros em contratos públicos que foram autorizados pelo chefe de Estado angolano.
Sancionar os corruptos
Após a votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção", a ONG Transparência Internacional selecionou e anunciou esta quarta-feira (10.02) os 9 casos que passaram para a "Fase de Sanção Social".
Foto: picture alliance / AP Photo
Isabel dos Santos
Depois da votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção" da Transparência Internacional, 9 casos foram destacados pela organização. A filha mais velha do Presidente angolano não faz parte, apesar dos 1418 votos. Segundo a TI, a seleção dos 9 foi baseada não só nos votos, mas também no impacto nos direitos humanos e na necessidade de destacar o lado menos visível da corrupção.
Foto: Nélio dos Santos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, o segundo Vice-Presidente da República. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza. Teodoro somou apenas 82 votos e - como Isabel dos Santos - não foi nomeado para a fase de sanção social.
Foto: DW/R. Graça
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do BES (Banco Espírito Santo) começaram quando o grupo financeiro português entrou em bancarrota em 2014. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança. O BES somou 193 votos e também não passou aos 9 maiores casos de grande corrupção do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak somou 207 votos e encontra-se agora preso. Mesmo assim, não aparece na lista dos casos de grande corrupção que a Transparência Internacional quer sancionar socialmente. Também o comércio de jade do Myanmar e a China Communication Construction Company ficaram de fora com 47 e 43 votos, respetivamente.
Foto: picture-alliance/AP
Transparência Internacional
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparência Internacional que após receber 383 submissões, nomeou os 15 casos mais simbólicos de corrupção. Após receberem mais de 170 mil votos, reduziram os 15 para 9 casos. A Transparency International quer promover uma campanha mundial para aplicar sanções sociais e políticas nestes exemplos de corrupção. A DW África mostra-lhe os 9 casos nomeados.
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está entre os 9 casos mais simbólicos de corrupção. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo" pela possibilidades que oferece às empresas. Somou 107 votos. "Está na hora da justiça e das pessoas mostrarem o poder das multidões", afirmou em comunicado de imprensa José Ugaz da Transparência Internacional.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
Com 152 votos está o ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011. É acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de protestos nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe.
Foto: picture-alliance/dpa
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov tem como fim o desenvolvimento social e económico da Chechénia. Mas é acusada de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes a estrelas de Hollywood e para o benefício de Ramzan Kadyrov (na foto), presidente da região russa da Chechénia e filho do falecido Akhmad Kadyrov. Segundo a TI, Ramzan Kadyrov usou as verbas para comprar jogadores de futebol. Reuniu 194 votos.
Foto: imago/ITAR-TASS/Y. Afonina
Sistema político do Líbano
Com 606 votos, o sistema político no Líbano, nomeadamante o Governo, as autoridades e as instituições, encontram-se também na lista da Transparência Internacional. Segundo a filial libanesa da TI, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. Considera o Líbano um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA - Federação Internacional de Futebol
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Há suspeitas que várias eleições de países anfitriões de mundiais de futebol foram manipuladaa. Conta 1844 votos.
O senador da República Dominicana conta 9786 votações. Foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já esteve em tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Ricardo Martinelli terminou com 10166 votos e possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Petrobras
A petrolífera Petrobras, empresa semi-estatal brasileira, ficou em segundo lugar com 11900 votos. As acusações de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de mais de dois mil milhões de euros, conduziram, alegadamente, o Brasil a uma profunda crise política. O caso envolve mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já protestou várias vezes nas ruas para exigir justiça.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Viktor Yanukovych
O ex-Presidente da Ucrânia foi o mais votado. Acumulou 13210 acusações e é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares.