Movimento Pan-Africano exige que Governo líbio investigue denúncias sobre venda de migrantes africanos. Embaixadora da Líbia no Uganda rejeita acusações e diz que maus-tratos a seres humanos são contra cultura do país.
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A indignação após as revelações da venda de migrantes africanos na Líbia continua a espalhar-se por África. Esta quinta-feira (07.12), o Movimento Pan-Africano no Uganda realizou uma manifestação pacífica e convidou a comunidade internacional a intervir.
A manifestação vem na sequência de relatos de abusos graves de direitos humanos, incluindo o leilão de migrantes africanos na Líbia. Nas ruas de Kampala, os manifestantes seguiram de forma pacífica em direção à embaixada da Líbia no país. Ao protesto juntaram-se motociclistas.
08.12.17 - Atualidade: Protesto no Uganda - Líbia - MP3-Mono
O chefe do grupo, Andrew Irumba, encontrou-se com a embaixadora da Líbia no Uganda, Naima Algihan. Irumba apresentou uma petição que convida o Governo líbio e a comunidade internacional a investigar as acusações.
"Exigimos a libertação de todos os imigrantes e refugiados africanos dos centros de detenção e o fim das detenções arbitrárias na Líbia. Pedimos também a investigação de todas as alegações de tortura e outros maus-tratos e a garantia que os perpetradores suspeitos sejam processados num julgamento transparente e justo para pôr fim ao círculo vicioso dos abusos", afirmou Andrew Irumba.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 20 mil refugiados e requerentes de asilo são mantidos ilegalmente em centros de detenção na Líbia e são alegadamente submetidos a tratamento desumano.
Embaixadora rejeita denúncias
Naima Algihan refutou essas acusações e disse que não existe venda de migrantes na Líbia. A embaixadora leu um documento do Ministério dos Negócios Estrangeiros líbio, dizendo que maus-tratos a seres humanos são contra a cultura do país.
Mercado de escravos na Líbia
02:02
"O ministério expressa sua rejeição de ações tão desumanas que são contrárias à cultura e património do povo da Líbia e confirma que o que foi publicado nos meios de comunicação a este respeito está a ser investigado pelas autoridades. Se algo for provado, os envolvidos serão punidos", declarou.
A embaixadora garantiu que a Líbia está a seguir regulamentos estipulados nas leis internacionais relativas aos refugiados e migrantes.
O Movimento Pan-Africano pretende apresentar mais petições a organismos internacionais, incluindo a União Europeia (UE) e as Nações Unidas, pedindo que as autoridades líbias permitam que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) se encarregue de todos os imigrantes na Líbia.
O leilão de africanos foi divulgado inicialmente pela rede de notícias norte-americana CNN. Segundo a reportagem da emissora de televisão, os migrantes eram vendidos por 400 dólares.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.