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Manuel de Araújo: "Poderemos estar a enterrarmo-nos"

10 de dezembro de 2024

"Estamos bastante preocupados com a atual situação prevalecente em Moçambique", expressa o edil de Quelimane, Manuel de Araújo, membro do partido RENAMO.

GMF2021 | orador Manuel de Araujo, edil de Quelimane
“Parece-me que na província de Nampula estamos já com cerca de 50 mortos”, diz Manuel de Araújo, preocupado com o clima de tensão que se vive em Moçambique depois do anúncio dos resultados das eleições gerais de 9 de outubroFoto: Quelimane Municipality

A violência nos protestos que se registam em Moçambique, no período pós-eleitoral, tem estado a atingir dimensões alarmantes. Manuel de Araújo, edil de Quelimane e membro do partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) manifesta preocupação face à situação e alerta para os efeitos na economia e na vida dos moçambicanos. "Se não tivermos cuidado, podemos enterrar-nos a nós próprios, a nossa economia e o nosso país", avisa.

Em entrevista à DW, Manuel de Araújo receia mesmo um desfecho trágico, "que o mapa do país se possa alterar com a convulsão e o aproveitamento" do atual contexto político. O político moçambicano também defende a relevância de se salvaguardar o setor privado, sob o risco de se afundar a economia.

Esta quarta-feira (11.12), termina mais uma fase de protestos convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, denominada "four by four", para exigir a verdade eleitoral.

DW África: Está a terminar mais uma fase de manifestações, o que tem a dizer sobre o desenrolar delas?

Manuel de Araújo (MA): Estamos bastante preocupados com a atual situação prevalecente em Moçambique, onde parece-nos que, literalmente nalgumas regiões, nalguns distritos e até nalgumas cidades, incluindo a cidade de Maputo, há indícios de que, de facto, o poder está na rua, como por exemplo, vemos militares e polícias a submeter-se à vontade dos manifestantes. É o que eu acho ser, de alguma forma, uma atitude sábia para evitar conflitos e mortes. Preocupam-nos também o número de mortes.

DW África: Os protestos estão a ser fortemente marcados pela violência descontrolada também.

MA: Por exemplo, parece-me que na província de Nampula estamos já com cerca de 50 mortos. Na província da Zambézia, houve um escalar da situação nos distritos de Milanje, onde a fronteira ficou encerrada por algumas horas, alguns dias. Também tivemos uma situação em Namacurra, onde a Estrada Nacional número 1 foi encerrada em três pontos. Um é em Namacurra, o outro foi em Alto Molócue, e também tivemos a situação preocupante em Morrumbala, onde, por exemplo, a sede do Partido FRELIMO foi incendiada.

Manuel Araújo destaca que o país já vive confrontado com o conflito armado na província de Cabo DelgadoFoto: Marcelino Mueia/DW

O tribunal foi também saqueado, [bem como] a casa do comandante da Polícia da República de Moçambique e outras infraestruturas. Portanto, estamos a ver que estamos a atingir um pico.

DW África: O setor privado, um dos maiores prejudicados nos protestos, pediu ontem ao Presidente da República soluções políticas para a crise. A sua derrocada seria um golpe duro para a frágil economia local, não é?

MA: Nós não nos podemos esquecer de que a economia de qualquer país tem como fundamento, tem como base o setor privado. O setor privado é o nosso aliado fundamental. Ora, se nós destruirmos propriedade privada, nós estaremos a atacar a nossa economia.

Vamos criar mais desemprego e também essas empresas vão acabar fechando, e se fecham, não vão pagar imposto ao Estado. Ora, quantos anos vamos levar para recuperar?

Nós, em 1975, declaramos o escangalhamento do aparelho do Estado colonial. Até hoje, volvidos 50 anos, ainda não conseguimos reconstruir esse Estado que nós escangalhamos e nem conseguimos construir o nosso próprio Estado. Depois tivemos a Guerra dos 16 Anos, que também destruiu infraestruturas privada e pública.

Até hoje, nós ainda não conseguimos recuperar essa infraestrutura. E agora parece que estamos na terceira fase do escangalhamento do nosso Estado.

DW África: Com base nos elementos disponíveis, que cenários antevê para o futuro do seu país?

MA: Se não tivermos cuidado, poderemos estar a enterrarmo-nos a nós próprios, a nossa economia e o nosso país. O meu medo é que Moçambique, assim como é este mapa de Moçambique, que nós temos, pode alterar-se com a convulsão e o aproveitamento.

Tensão pós eleitoral: Populares na rua por Manuel de Araújo

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Não nos esqueçamos que já temos um conflito armado na província de Cabo Delgado, e aquilo pode ser uma forma de convidar jovens, especialmente das zonas islamizadas, que já estão frustrados com os resultados das eleições

locais de 11 de outubro de 2023, e agora estão, pela segunda vez, frustrados com as eleições do dia 9 de outubro de 2024. Portanto, é preciso que tenhamos muita atenção, porque podemos correr o risco de deixarmos de ter Moçambique como é.