Em Moçambique, Manuel de Araújo, edil de Quelimane, tem sido acusado de ter deixado a RENAMO para integrar o partido Nova Democracia. "Aqueles que querem saber a verdade falam comigo", diz o autarca.
Publicidade
Manuel de Araújo, autarca da cidade moçambicana de Quelimane, tem sido, desde finais do mês passado, motivo de conversa nas redes sociais e em cafés, alegadamente por ter ingressado "silenciosamente" no partido Nova Democracia (ND).
As alegações começaram quando Araújo recebeu, em Quelimane, o líder do recém-criado partido, Salomão Muchanga, para uma passeata de bicicleta. O autarca diz que tem acompanhado os rumores, mas não está preocupado.
"Deixo que especulem à vontade, mas aqueles que querem saber a verdade falam comigo", sublinha.
Manuel de Araújo diz que a forma como recebeu Salomão Muchanga se baseia em "regras de boa educação".
"Quando recebemos uma visita, temos que mostrar a nossa casa. O presidente da Nova Democracia chegou à cidade de Quelimane e apresentou-se, ao contrário dos outros líderes que não se apresentam quando chegam. Trouxe o programa de trabalho, manifestou a sua solidariedade [para com as vítimas das inundações] e disse que gostaria de visitar os locais. Não podia deixar que ele fosse sozinho, por isso o acompanhei", esclarece.
"Não vou mudar de atitude"
Manuel de Araújo chegou à gestão do município de Quelimane em 2011, filiado no Movimento Democrático de Moçambique (MDM), partido que acabaria por abandonar em 2018, devido a conflitos internos. Agora, milita na RENAMO, principal partido da oposição no país.
Perante os rumores de uma nova "troca de camisola", Manuel de Araújo diz que continuará firme na coabitação política, a bem da democracia.
"Se vier o presidente do partido FRELIMO [Filipe Nyusi] e quiser visitar e solidarizar-se com os munícipes, vou acompanhá-lo de bom tom. O mesmo com o presidente do MDM, Lutero Simango, assim também com outros. Não vejo problema nenhum e não vou mudar de atitude", garante.
A Nova Democracia, criada a 4 de junho de 2019, participou nas últimas eleições presidenciais, em que a FRELIMO consolidou a sua governação.
O líder do partido, Salomão Muchanga, nega igualmente a entrada de Araújo na formação política.
"Manuel de Araújo é um amigo, combatente pela liberdade e democracia. Juntos decidimos visitar a cidade da qual ele é edil, portanto trata-se de uma cultura democrática que queremos fazer prosperar face à intolerância democrática que temos no país", justificou.
Moçambique: Voluntários fazem reflorestação de mangal destruído em Quelimane
No bairro de Icidua, em Quelimane, foi criada a Associação de Amigos e Naturais de Icidua para responder à pressão humana sobre os mangais e mitigar os danos à vegetação com ações de conservação e gestão sustentável.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Plantação de mangais no bairro Icidua, em Quelimane
A iniciativa, que também pretende preservar as espécies marinhas, é uma forma de evitar a erosão e travar inundações que fustigam zonas residenciais com maré alta. O grupo vai plantar 1000 árvores, conhecidas como salgueiros. Os trabalhos começaram há uma semana e deve abranger várias zonas do bairro mais populoso de Quelimane, o Icidua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Replantar para evitar o pior
O Icidua evidencia a realidade da tamanha pressão humana exercida sobre a natureza em Quelimane, com extensas áreas de mangal desertas. Os populares cortam os magais para fazer lenhas, carvão e até para a construção de casas em zonas proibidas -uma realidade que se repete em outras zonas da Zambézia. Há mais incidência em Sangarriveira, Janeiro e Torrone. A solução é a replantação.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Falta terreno para a construção de casas
Áreas de mangais em Quelimane estão ocupadas por habitações e de forma desordenada, embora o solo não seja o mais apropriado para a construção de casas. Os habitantes alegam que é difícil encontrar terrenos adequados para a construção de casas em Quelimane. Assumem os riscos de construir casas em terras húmidas, devastando a floresta de mangais.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Centro comercial do mangal abatido
O mercado de Ajante é o maior centro a nível de Quelimane, onde a população de renda baixa e média procede a compra e venda de material de construção de casas. A maior parte desses materiais é proveniente das plantas de mangal. As pessoas cortam mangais para vender e conseguir recursos para sobreviver.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Pequenas embarcações que transportam mangais
Para transportar mangais abatidos a outras regiões do interior e para o mercado no centro, utilizam as pequenas canoas. As espécies de mangais mais concorridas e que enchem sempre essas pequenas embarcações são Mucandhra e Mveze. O valor de Mucandhra é o dobro do preço de outras espécies, e ela é usada para a construção de casas. A venda a grosso, por canoa, custa cerca de 50 euros.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Destruir para sobreviver
Rodrigues Jacinto, de 47 anos, vive desta atividade desde quando era um adolescente. Jacinto conta à DW que esta é a sua única fonte de rendimento e assim sustenta a sua família. Ele passa noites a cortar mangais que chegam a três metros de comprimento e depois os transporta em canoas de Inhassunge até à feira - numa viagem de 24 horas.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Fecalismo a céu aberto é um risco às comunidades
Uma das práticas mais predominantes em bairros atravessados pelo mangal é o fecalismo. Muitos residentes que habitam naquelas zonas não possuem latrinas em suas casas.O conselho autárquico de Quelimane tem mobilizado recursos para a construção de latrinas, como forma de evitar que a população recorra aos mangais em caso das necessidades. Pelos vistos, entretanto, a prática ainda continua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Nené Ribeiro coordena a iniciativa
Nené Ribeiro, de 64 anos, é funcionário do Conselho Autárquico de Quelimane. Ele explica que muitos confundem a iniciativa com um ato político-partidário. Ele salienta, no entanto, que o objetivo é proteger o bairro de inundações e proteger a biodiversidade. A associação não tem financiamento externo, funciona à base de contribuições dos seus membros.