Já é oficial, Manuel de Araújo é o candidato da RENAMO à presidência do Conselho Municipal de Quelimane. Anúncio foi feito esta sexta-feira pelo partido.
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Depois de renunciar ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o edil de Quelimane apresentou-se na manhã desta sexta-feira (20.07) na delegação provincial da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
No regresso ao partido onde começou, Manuel de Araújo referiu que o bom filho a casa torna e prometeu honrar o legado do antigo líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que faleceu em maio.
"Viemos aqui hoje para continuarmos com a luta do pai da democracia, o pai Dhlakama, que morreu sonhando com este dia. Lá onde está, está feliz, porque finalmente os seus filhos estão unidos, e juramos aqui que jamais entregaremos Quelimane", disse Araújo.
Manuel de Araújo será cabeça de lista da RENAMO
Cabeça de lista da RENAMO
Manuel de Araújo será o cabeça de lista da RENAMO no município de Quelimane, nas autárquicas agendadas para 10 de outubro.
"Analisámos os candidatos, o nosso filho está aqui e o povo pediu - e nós preferimos que o povo decida. Por isso é que ele está connosco, neste momento, nesta sala", anunciou o delegado da RENAMO em Quelimane, Latifo Charifo.
Esta sexta-feira, depois de ser apresentado na delegação da RENAMO, Araújo percorreu as avenidas da cidade de Quelimane com a bandeira do partido às costas, acompanhado por centenas de munícipes.
O atual edil de Quelimane garantiu à população que não tem medo das suas escolhas.
"Eu não tenho medo da morte, porque, se morrer, morrerei por causas justas e pelo bem-estar do meu país, morrerei pelos meus irmãos, porque estamos cansados de sofrer", afirmou.
Saída do MDM
Manuel de Araújo enviou esta semana uma carta de renúncia ao delegado do MDM em Quelimane, Listano Evaristo, afirmando que não iria concorrer como cabeça de lista do partido devido a "posicionamentos incoerentes" de alguns quadros e "acontecimentos ocorridos nas últimas sessões da Assembleia Municipal".
Com a saída de Araújo, o MDM está agora a reformular a sua estratégia para as autárquicas. Listano Evaristo, o delegado do partido em Quelimane, disse que o MDM se pronunciará no sábado sobre o que vai fazer agora.
A renúncia de Manuel de Araújo do MDM segue-se a uma outra saída de peso do partido, de Venâncio Mondlane. O ex-deputado do MDM recusou ser cabeça de lista em Maputo e foi apresentado esta semana como novo membro do maior partido da oposição em Moçambique.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.