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Manuel Pinto da Costa será presidente de São Tomé e Príncipe pela segunda vez

8 de agosto de 2011

Da oposição, primeiro presidente do arquipélago independente venceu segunda volta com 53% dos votos, contra 47% de Evaristo Carvalho, sustentado por agremiação do Primeiro ministro Patrice Trovoada. Ouça análise.

Crianças diante de escola em São Tomé. Alguns eleitores ouvidos pela DW esperam que o país "arranque de vez"
Crianças diante de escola em São Tomé. Alguns eleitores ouvidos pela DW esperam que o país "arranque de vez"Foto: picture-alliance / dpa

Vinte e um anos depois de ter deixado o poder, Manuel Pinto da Costa venceu o segundo turno das eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe e será novamente presidente do arquipélago ocidental africano no Golfo da Guiné. O resultado – ainda provisório, até ser validado pelo Tribunal Constitucional – de 52,88% foi anunciado na manhã desta segunda-feira (8/8), pelo presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), Vítor Correia, um dia depois do pleito.

Pinto da Costa obteve 35.112 votos, contra 31.287 votos no atual presidente da Assembleia Nacional, Evaristo Carvalho (47,12%). Segundo a agência noticiosa Lusa, na diáspora, Pinto da Costa também venceu em três dos quatro círculos (Angola, Guiné Equatorial e Portugal). No Gabão, venceu Evaristo Carvalho. Pinto da Costa foi igualmente vitorioso na ilha do Príncipe.

Manuel Pinto da Costa venceu a segunda volta com margem mais apertada que no primeiro turno, realizado em 17/7. Na altura, ele recebeu 36% dos votos, contra 22% de Evaristo Carvalho, que ficou em segundo e passou também ao segundo turno.

As eleições foram monitorizadas por cerca de 30 observadores internacionais. Pouco mais de 94 mil eleitores em São Tomé e Príncipe e na diáspora foram chamados a escolher o novo presidente.

Manuel Pinto da Costa quer estimular economia do país; muitos trabalhadores, como os da foto, não encontraram mais trabalho desde a independência, em 1975Foto: DW

“Dívida com os são-tomenses”

Se os resultados forem confirmados, Manuel Pinto da Costa deverá ser empossado no dia 3 de setembro para um mandato de 5 anos. É a segunda vez que ele dirige a antiga colônia portuguesa, classificada entre os países mais pobres do mundo.

Segundo a imprensa internacional, o arquipélago vive uma crise financeira permanente e 80% do orçamento do Estado são financiados por ajuda internacional. As duas ilhas são um dos raros países do Golfo da Guiné a não exportar petróleo. Porém, de acordo com fontes econômicas e diplomáticas citadas pela agência noticiosa Afp, a produção poderia começar em 2014.

Eleitores do novo presidente ouvidos na madrugada desta segunda-feira pela Deutsche Welle disseram acreditar que o país deverá mudar. “Eu sinto imensa satisfação de ver o doutor Pinto da Costa subir ao Palácio Cor de Rosa”, disse um eleitor. “Porque eu sei – como muitos dizem – que ele, quando entrou, estragou [o primeiro mandato]. Mas eu sei que, se ele estragou, de certeza que ele vai consertar”, afirmou.

O eleitor talvez tenha feito referência ao primeiro mandato de Manuel Pinto da Costa, o primeiro presidente são-tomense no período comunista de partido único (1975 – 1990). O herói da independência foi um dos membros fundadores do MLSTP, e também do comité de libertação do país que o antecedeu, o CLSTP. O MLSTP assumiu o poder após a independência das ilhas, em 1975. Manuel Pinto da Costa instaurou então um regime de partido único. Em 1979, reprimiu um movimento de revolta nas cidades de Trindade e de Santana, que boicotavam um recenseamento geral.

Durante a campanha, Pinto da Costa afirmou que, “por causa do meu passado, tenho uma dívida com os são-tomenses. Quero pagar sendo eleito presidente no dia 7 de agosto. Farei tudo para colocar o país no caminho do desenvolvimento, vencendo a instabilidade, a pobreza, a corrupção”, prometeu.

Manuel Pinto da Costa prometeu trazer "estabilidade" ao arquipélago governado por 18 Primeiros ministros em 21 anos de multipartidarismo

Patrice Trovoada, maior derrotado nas eleições?

Ao início da madrugada em São Tomé, dezenas de carros e motos desfilaram na capital são-tomense na festa de Pinto da Costa.

O novo presidente concorreu ao cargo mais alto do país com uma candidatura suprapartidária, embora apoiada pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata (MLSTP/PSD) e pelo Partido da Convergência Democrática – ambos na oposição.

O candidato derrotado, Evaristo Carvalho, era apoiado pela Ação Democrática Independente (ADI), liderada pelo atual Primeiro ministro, Patrice Trovoada.

Segundo informações da Lusa, Trovoada seria o principal derrotado com a eleição do antigo chefe de Estado Manuel Pinto da Costa, porque se envolveu pessoalmente na campanha e transformou a corrida presidencial num plebiscito ao seu governo, formado há cerca de um ano.

Por outro lado, ainda segundo a Lusa, Evaristo Carvalho – que já foi Primeiro ministro duas vezes, a primeira delas sob Miguel Trovoada (pai do atual Primeiro ministro) – só passou ao segundo turno por causa da participação de Patrice Trovoada na campanha eleitoral – um feito em que “muito poucos acreditavam”.

Já a vitória de Manuel Pinto da Costa representaria um ajuste de contas nunca assumido depois das derrotas que sofreu nas duas ocasiões anteriores em que concorreu ao cadeirão presidencial. Em 1996, perdeu para Miguel Trovoada (pai do atual Primeiro ministro); em 2001, foi derrotado pelo atual presidente Fradique de Menezes, que não pode concorrer a um terceiro mandato consecutivo.

Cacau é um dos pilares da economia são-tomense. Nos últimos anos, busca por petróleo foi pouco conclusivaFoto: DW

Segundo turno leva mais eleitores às urnas

Segundo a CEN, a abstenção na eleição presidencial neste domingo em São Tomé caiu desde a primeira volta, de 32,11% para 26%.

A Deutsche Welle apurou que, no período da manhã, a ida dos eleitores para exercer o seu direito de voto foi a conta-gotas, particularmente nos distritos de Água Grande, Mé-Zóchi e Cantagalo, os mais populosos do país.

Em comparação com a primeira volta, no passado dia 17, quando houve longas filas no período da manhã (nomeadamente nas assembleias de voto circundantes dos bairros da classe média local), desta vez estavam vazias, apesar dos apelos da Comissão Eleitoral Nacional.

Depois de votar e antes de saber que havia sido derrotado nas urnas, Evaristo Carvalho manifestou-se confiante na vitória: “Como em qualquer desafio, sou um dos jogadores, espero ganhar”. Ele voltou a insistir para que os eleitores fossem votar: “Espero que, nesta segunda volta, haja menos abstenções”, disse.

Já Manuel Pinto da Costa considerou que o atual figurino constitucional dá margem de manobra suficiente para a atuação do presidente. Além disso, reiterou a necessidade de diálogo entre as diferentes instâncias políticas do país, uma das principais marcas da campanha: “Creio que a primeira coisa a fazer é criar um espaço de diálogo entre todas as forças políticas e não só com a sociedade civil”, afirmou.

À Deutsche Welle, Pinto da Costa destacou ainda que, na sua opinião, “a sociedade civil em São Tomé e Príncipe não está ainda suficientemente desenvolvida e deve ser uma preocupação nossa ajudar a sociedade civil a se organizar, para ter um papel mais importante, mais decisivo nas tomadas das grandes decisões que dizem respeito ao desenvolvimento do país”.

Incidentes

Alguns incidentes marcaram o domingo de eleições. Um segurança do secretário de Estado da Juventude e Desporto, Abnildo Oliveira, baleou um cidadão na perna, depois de o ter agredido, por causa de uma manobra no trânsito, em Mé-Zóchi (centro).

Um outro acidente de viação envolveu uma viatura em que estavam observadores da Comunidade de Países de de Língua Portuguesa (CPLP) na capital. O condutor de um jeep que circulava em alta velocidade na marginal atingiu a referida viatura que mudava de direção. O carro capotou e o susto foi grande. Um dos observadores e os dois condutores foram hospitalizados.

Autores: Renate Krieger (com agências Lusa/afp) / Juvenal Rodrigues (São Tomé)

Edição: António Rocha
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