A capital moçambicana festeja este sábado 131 anos. Inauguração da maior ponte suspensa de África é o ponto alto dos festejos do Dia da Cidade, que tem um novo edil. Eneas Comiche volta a comandar os destinos de Maputo.
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Eleito há um mês, Eneas Comiche, o novo edil de Maputo, prepara-se para a inauguração da obra estatal mais cara depois da independência de Moçambique. Financiada com capital chinês, a ponte Maputo-Katembe, que passa a ligar as duas margens da baía da capital, é a maior ponte suspensa de África. Depois de vários adiamentos, a cerimónia está finalmente marcada para este sábado (10.11), após quatro anos de obras e um investimento de 785 milhões de dólares (cerca de 687 milhões de euros).
Aos 79 anos, dez anos depois de ter deixado o comando da principal autarquia de Moçambique, Eneas Comiche, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), volta a assumir o cargo que já tinha ocupado entre 2004 e 2008, depois da vitória com 56,95% dos votos nas eleições autárquicas de 10 de outubro.
População conta os dias para ponte Maputo-Katembe
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Para trás ficaram o general na reserva Hermínio Morais, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, e Augusto Mbazo, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o terceiro maior partido.
Eneas Comiche diz que quer fazer da capital uma das "melhores cidades de África". Agora, está na altura de começar a cumprir as promessas feitas durante a campanha eleitoral. "Vamos fazer de Maputo um município de referência a nível nacional, regional e internacional, uma cidade modernizada, desenvolvida e limpa", prometeu o cabeça de lista da FRELIMO nos subúrbios de Maputo.
Integridade e experiência
Eneas Comiche nasceu em 1939, em Moma, na província de Nampula, no norte do país. O experiente economista - que estudou Economia na Universidade do Porto, em Portugal - já foi ministro das Finanças e governador do Banco de Moçambique. Atualmente é presidente da Comissão Parlamentar do Plano e Orçamento e membro da Comissão Política da FRELIMO.
A sua gestão municipal deixou boas memórias. Eneas Comiche "melhorou visivelmente as estradas, a iluminação, o tráfego, a recolha de lixo, o saneamento, os esgotos e os mercados da capital durante o seu mandato", lê-se no site da Wikileaks, a organização sem fins lucrativos com sede na Suécia que se tornou famosa nos últimos anos por divulgar informações e documentos confidenciais.
"Ele é bastante conhecido pela sua integridade, pela sua verticalidade, pela sua seriedade e pelo compromisso contra a corrupção. E talvez essa tenha sido uma das razões pelas quais não lhe foi permitido concorrer nas eleições municipais de 2008", conclui o jornalista Fernando Gonçalves, do semanário Savana. Agora, o veterano está de volta e poderá ser a receita para a FRELIMO tentar recuperar a popularidade na capital.
"O melhor edil que Maputo já teve"
Segundo o editor Fernando Gonçalves, Comiche "parece ter sido o melhor presidente do município da cidade desde a independência." O sociólogo Carlos Serra concorda. "Comiche foi o melhor edil que Maputo já teve. Por isso, merece o nosso respeito", escrevia o investigador em 2008 no seu blogue "Diário de um sociólogo", onde tecia elogios ao edil e às mudanças de que a cidade beneficiou.
Também foi Eneas Comiche que lançou o projeto de reabilitação da marginal de Maputo, com fundos provenientes do Banco Mundial. "Ele tem essa capacidade de procurar fontes de financiamento. Tem muita experiência e conhece os locais onde se pode ir buscar fundos para o desenvolvimento da cidade", destaca Fernando Gonçalves.
O jornalista lembra que o grande problema da cidade de Maputo é a periferia, "uma zona sem arruamentos e que precisa de muito trabalho". Agora que é novamente edil, diz, todos esperam que Eneas Comiche "faça um trabalho muito importante nestas áreas." E que "trabalhe com o mesmo espírito que caracterizou o seu único mandato", concorda o analista Alexandre Chiure.
Os desafios dos edis de Maputo e Matola
Depois das autárquicas, é tempo de pôr mãos à obra. Desde a gestão do lixo aos problemas nos transportes públicos, passando pela construção desordenada, são inúmeros os desafios dos autarcas em Maputo e na Matola.
Foto: DW/Romeu da Silva
Um "amor" sem fim
As carrinhas de caixa aberta "mylove" (em português, meu amor) continuam a ser uma das soluções para o crónico problema da circulação ente as duas cidades. São visíveis nesta imagem, numa auto-estrada, os riscos deste meio de transporte. É um grande desafio para os dois municípios.
O problema do lixo
A gestão de resíduos sólidos é também uma dor de cabeça comum. Em Maputo, a lixeira de Hulene (na foto), onde 16 pessoas perderam a vida num desabamento, no início do ano, continua envolta em polémica. Apesar da promessa de encerramento, o local continua a receber muito lixo. Já na Matola, nas zonas suburbanas, o problema do lixo passa pela falta de contentores e viaturas de recolha.
Foto: DW/Romeu da Silva
Construção desordenada
A requalificação de alguns bairros de Maputo também deverá dar trabalho ao próximo edil. Em muitos, faltam mesmo vias para a entrada de viaturas para abrir canais de água e colocar postes de eletricidade. No passado, em Maputo e na Matola, o combate à ocupação ilegal e desordenada do espaço urbano incluiu a demolição de centenas de residências privadas, o que gerou muitas críticas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Desorganização do setor informal
Em várias zonas de Maputo e na Matola, o comércio informal ganhou muita força, mas os municípios têm dificuldades em regular esta atividade. À falta de espaços convencionais, o setor informal domina as bermas de estradas e instala-se junto a escolas e residências – de forma desorganizada.
Foto: DW/Romeu da Silva
Xilequeni e o drama de vender na beira da estrada
No maior mercado informal da capital, Maputo, é grande a procura de espaços para exercer a atividade. Muitos vendedores acabam nas bermas das rodovias e já se registaram casos de atropelamentos. Os vendedores não querem instalar-se nos mercados convencionais, afirmando que nestes locais não há clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Polana às moscas
Um exemplo é o mercado Polana, em Maputo. Na foto, vê-se que está praticamente vazio. O município de Maputo desdobra-se para construir ou melhorar as condições dos mercados com vista a retirar os vendedores das ruas. A guerra parece não ter fim à vista. Muitas vezes, a polícia municipal tem-se mobilizado, chegando a usar cães para retirar os vendedores dos passeios.
Foto: DW/Romeu da Silva
Pavimentar estradas
Ainda há muitas estradas por pavimentar no município da Matola. A cidade cresce e os bairros que vão surgindo clamam por vias de acesso para facilitar a mobilidade. Nos dias chuvosos, muitas rodovias ficam intransitáveis e as viaturas, incluindo as de transporte coletivo, não podem circular. Conseguirá o novo edil da Matola resolver o problema das vias de acesso?
Foto: DW/Romeu da Silva
O fim dos chapas?
Entre 2005 e 2009, o então edil de Maputo Eneas Comiche declarou "guerra" aos chapas. Queria autocarros mais espaçosos para acabar com o trânsito. Mas a gestão dos transportes ainda é uma dor de cabeça. Os munícipes chegam a fazer quatro ligações para chegarem ao trabalho. Os "mini-bus" são autênticos campeões de encurtar rotas. A polícia municipal é acusada de colaborar, em troca de dinheiro.
Foto: DW/Romeu da Silva
Um parque industrial criticado
A indústria é a maior fonte de receita para o Conselho Municipal da Matola. É um dos municípios que mais lucra no setor, dado que a maior parte das indústrias do país está aqui concentrada. Mas há muitas críticas à gestão das receitas. E as fábricas de alumínio na Matola contribuíram para o agravamento dos níveis de poluição. As partículas libertadas põem a saúde da população em risco.
Foto: DW/Romeu da Silva
Conflito de terras
É um problema interminável no município da Matola: o conflito entre camponeses e empresas que querem exercer a sua atividade nas terras de quem lá mora. São muitos os casos de disputa entre cidadãos e médias empresas para resolver no município.
Foto: DW/Romeu da Silva
Consequências das chuvas
Na periferia de Maputo, depois da chuva, as vias ficam intransitáveis. Esta é a saída de um dos bairros para a estrada principal, mas quando há chuva os moradores procuram outras soluções que os obrigam a fazer manobras que só criam congestionamento de trânsito. As inundações não afetam apenas a capital. Na Matola, tal como em Maputo, há bairros que ficam meses com água estagnada.
Foto: DW/Romeu da Silva
Faltam transportes públicos
Já se veem alguns autocarros, mas são poucos os transportes públicos coletivos nos bairros de expansão no município da Matola. O próximo edil terá a dura tarefa de encontrar uma solução para a deslocação dos munícipes.