Moçambicanos vão às ruas pedir preservação do meio ambiente
Lusa
4 de outubro de 2016
Mais de 200 manifestantes reivindicaram maior rigor na aplicação das leis e a consciencialização da sociedade em geral para a proteção de espécies em risco de extinção.
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A Marcha Nacional Pela Proteção da Vida Selvagem reuniu na manhã desta terça-feira (04.10) mais de 200 pessoas nas ruas de Maputo, capital de Moçambique. Segundo informação da agência de notícias Lusa, o movimento pela conservação do meio ambiente reivindicou a aplicação das leis e a consciencialização dos cidadãos para a proteção das espécies em risco de extinção no país.
Esta é a terceira vez que o movimento vai às ruas de Maputo em prol do meio ambiente. De acordo com a organização do evento, "é necessário que a legislação seja respeitada, só assim podemos garantir a conservação das espécies”.
Os participantes da marcha percorreram cerca de três quilómetros, passando pelas principais avenidas de Maputo. Eles levavam consigo cartazes com mensagens de exaltação da vida selvagem e entoavam cânticos de repúdio à ação de caçadores furtivos.
"Somos todos chamados a lutar por esta causa", declarou Patrícia Guerra, uma das organizadoras da marcha, destacando a importância da consciencialização para a proteção de espécies em risco de extinção em Moçambique.
Consciencialização da sociedade
Segundo dados oficiais, Moçambique perdeu 48 por cento da população de elefantes nos últimos cinco anos. Diante destes dados, os organizadores da terceira edição da marcha pela conservação da vida selvagem afirmam que a consciência dos moçambicanos começa a despertar, destacando a importância da adoção de medidas punitivas mais pesadas para a responsabilização de pessoas envolvidas na caça furtiva no país.
"Precisamos agora de fazer uma boa gestão do que existe", observou, assinalando que o envolvimento de instituições governamentais em iniciativas como estas é motivador e mostra que as autoridades moçambicanas começam a assumir com seriedade o problema da conservação da biodiversidade no país.
Caça furtiva aos elefantes
Um novo estudo divulgado em maio deste ano pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), que gere a base de dados da população do elefante africano em todo o continente, aponta que atualmente haja em Moçambique 10.800 animais, quando em 2006 haveria 14 mil elefantes no país, uma redução de 25% em 10 anos.
"A caça furtiva em Moçambique é uma realidade difícil de controlar", disse então à imprensa Carlos Lopes Pereira, chefe de Departamento de Fiscalização e Combate à Caça Furtiva na Administração de Áreas de Conservação.
No global, lamentou o chefe do departamento tutelado pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, "Moçambique perde dois mil animais por ano", observando que este dado revela um rácio de seis elefantes abatidos por dia.
A pobreza das populações e o crescimento do mercado internacional de venda de marfim são apontadas como as principais causas da matança de animais e a localização de Moçambique nas proximidades dos países considerados como centros da caça furtiva tem contribuído para a generalização deste crime.
Conservação do meio ambiente
Iniciada em 2013, a marcha moçambicana pela proteção da vida selvagem juntou na segunda edição, em 2014 (em 2015 não se realizou), cerca de 2.500 participantes, um número que a responsável considerou "fenomenal", mas que não impediu que o número de elefantes no país continuasse a cair.
Até esta quarta-feira, 5 de outubro, em Joanesburgo, África do Sul, Moçambique é um dos temas de discussão na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagens (CITES). Ambientalistas e governantes estão reunidos para debater o combate à caça furtiva destas espécies, assim como avaliar o caso moçambicano. O país, que é acusado de não cumprir com normas internacionais,poderá ser penalizado pela convenção.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.