Município de Maputo adiou para 2 de janeiro o aumento dos preços dos transportes semicoletivos, vulgo "chapas", mas as críticas já se fazem ouvir. Munícipes lembram salários "magros". Para operadores, aumento não chega.
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Andar de transporte semicoletivo de passageiros, conhecido como "chapa", na capital moçambicana e na cidade da Matola deveria ficar mais caro já esta quarta-feira, 1 de dezembro. No entanto, a medida foi adiada para 2 de janeiro, uma vez que a nova tarifa ainda ainda tem de ser analisada na Assembleia Municipal de Maputo, em meados de dezembro, segundo um comunicado do município de Maputo.
A proposta de aumento indica que para as distâncias mais curtas, até 10 quilómetros dentro da capital, a tarifa passa de 10 para 12 meticais, o equivalente a 17 cêntimos de euro.
A tarifa para as distâncias mais longas, de 25 quilómetros, também vai aumentar: "Quem está a sair para o Zimpeto e tem que fazer um percurso longo, cerca de 23 quilómetros, passará a pagar não 12 mas 15 meticais [cerca de 21 cêntimos de euro]", explica o vereador para a área da Mobilidade, Transporte e Trânsito na capital, José Nichols.
As opiniões dos munícipes ouvidos pela DW divergem quanto ao aumento da tarifa. Uns estão contra, mas outros até concordam, desde que as rotas não sejam encurtadas, uma vez que "[os operadores] têm estado a defender os encurtamentos de rotas para maximizar as suas receitas, tendo em conta a tarifa que é baixa".
Para muitos, "não é possível aumentar o chapa quando o salário é magro, está complicado mesmo".
Crise dos transportes em Maputo aproxima estranhos
08:31
E há também críticas ao sistema caótico de transportes na cidade de Maputo: "Temos que fazer ligações, temos que gastar muito, mesmo, e cobram muito", queixa-se um dos entrevistados.
Aumento não chega, dizem operadores
O aumento da tarifa é justificado pelos transportadores com a subida do preço dos combustíveis, a 21 de outubro. Mesmo assim, os "chapeiros" dizem que o preço não compensará os custos.
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"Gastamos muito combustível e não temos recompensa", lamenta um dos motoristas.
"A estrada não permite, os carros avariam, as estradas enchem-se de água e a situação está muito complicada", afirma outro "chapeiro".
Para outro operador, o aumento "é justo, mas têm que subsidiar os transportadores e manter o preço do chapa". De qualquer forma, ressalva, "o munícipe será muito sacrificado".
Segundo Castigo Nhamane, presidente da Federação Moçambicana dos Transportadores (FEMATRO), este é o aumento possível.
"Nós achamos que já é oportuno há muito tempo. Apresentámos no ano passado o pedido de aumento da tarifa ao Ministério dos Transportes. E, com este último reajuste dos preços de combustíveis, aí os operadores já não suportam, não aguentam mais, não dá para andar", justifica.
Desde o "chapa" ao "my love", passando pelo autocarro: andar de transportes em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, significa correr riscos. Viaturas em péssimo estado e falta de fiscalização são rotina.
Foto: DW/B. Jequete
Latas em trânsito
É uma visão comum nas ruas da cidade de Chimoio: os dedos das mãos não chegam para contar as viaturas de transporte de passageiros que deveriam estar fora de circulação há muitas inspeções atrás. Mas os residentes não têm grande escolha e vêem-se forçados a andar em mini-autocarros como o da imagem - conhecidos por "chapas" - com portas que não fecham bem, pneus em mau estado e luzes avariadas.
Foto: DW/B. Jequete
Sentar é arriscado
No interior dos veículos, o cenário é idêntico. Os assentos em grande parte dos chapas já viram melhores dias. Além do desconforto, a situação chega a colocar os passageiros em risco: há mini-autocarros em que vão sentados em ferros, mesmo em viagens mais longas. E subir e descer dos transportes é muitas vezes sinónimo de chegar ao destino com a roupa rasgada devido às más condições dos bancos.
Foto: DW/B. Jequete
Famoso...e empoeirado
Além do risco de acidentes, há também ameaças à saúde dos passageiros. Em muitos chapas, as janelas deixaram de ser de vidro há vários quilómetros. A fita-cola usada para "remediar" não é suficiente para travar a poeira e a poluição. E as viagens são feitas a respirar este ar impuro.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos também nos transportes públicos
Os autocarros geridos pela autarquia também precisam de manutenção. O material escolhido para substituir este vidro foi a fita-cola, que serve também para remendar tejadilhos. Andar de autocarro público em época de chuva pode significar chegar molhado ao destino. E os passageiros questionam o trabalho de inspeção das autoridades, numa altura em que aumenta o licenciamento de viaturas obsoletas.
Foto: DW/B. Jequete
Uma frota degradada
Na paragem de transportes urbanos que fazem a rota Cidade-Bairro 5 e vice-versa, nenhum carro está em condições para o efeito. E todos passaram e passam de seis em seis meses a inspeção de viaturas e circulam sob o olhar dos agentes reguladores de trânsito. Alguns passageiros preferem andar a pé em vez de correrem riscos a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Verificar condições antes de arrancar
Os passageiros que continuam a arriscar viajar nos chapas degradados verificam as condições dos veículos antes de subirem a bordo. Se não oferecerem condições mínimas - especialmente no caso dos assentos - desistem e esperam pela próxima viatura.
Foto: DW/B. Jequete
Viagens de risco nos "my love"
Por falta de transportes em algumas rotas na cidade e na província, as viaturas de caixa aberta também fazem transporte de passageiros - uma atividade ilegal. Os chamados "my love" foram concebidos para o transporte de mercadorias. Não há qualquer tipo de segurança para as pessoas a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Sem condições? Sem problema
Engane-se quem pensa que não há fiscalização. Nenhuma viatura que faz o serviço de transporte de passageiros escapa às rondas dos agentes reguladores de trânsito. Mas a polícia fecha os olhos às más condições dos veículos e deixa passar os chapas, gerando muitas críticas entre a população, que questiona os critérios das autoridades. Em vez de sanções, só há extorsão, dizem os residentes.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos para todos os gostos
São inúmeras as soluções encontradas pelos proprietários para manterem os chapas em funcionamento: se os fechos já não funcionam, usam-se cordas, arames ou correntes - mas há casos em que as portas caem nas vias, impedindo a circulação. Se o veículo já não tem ignição, faz-se uma ligação direta, contrata-se alguém para empurrar ou estaciona-se numa rampa - colocando os passageiros em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Novos autocarros são gota no oceano
O Ministério dos Transportes acaba de alocar para a província de Manica dez autocarros para o transporte público. Destes, apenas três vão para Chimoio, uma cidade com 33 bairros e mais de 300 mil habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Ministro promete mais
O Ministro dos Transportes, Carlos Mesquita, viaja com o governador de Manica, à direita, e o presidente da autarquia de Chimoio, à esquerda, momentos depois de fazer a entrega dos autocarros às empresas privadas que gerem os transportes. Mas não há lugares para todos nesta viatura com capacidade para 88 passageiros. O ministro promete mais autocarros para a província de Manica.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de novas viaturas e novas regras
Além de mais veículos, o Governo promete outras medidas para regular o setor. Até lá, os "my love", os chapas e os (poucos) autocarros - mesmo degradados - são a solução possível para os residentes de Chimoio e da província de Manica.