Marcha do MPLA contra a corrupção e em apoio ao Presidente João Lourenço gerou críticas. Ativista Osvaldo Caholo diz que se está a regressar à "bajulação" que caraterizou a governação de José Eduardo dos Santos.
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No sábado (22.02), milhares de angolanos saíram à rua para marchar contra a corrupção. A marcha foi convocada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), para apoiar as reformas do Presidente João Lourenço contra a corrupção, a impunidade e o nepotismo.
Mas a marcha tem sido bastante criticada, sobretudo nas redes sociais. Muitos cidadãos consideram-na um regresso ao passado. Na antiga governação de José Eduardo dos Santos, era habitual o partido no poder e organizações próximas a ele organizarem atos para enaltecer o chefe de Estado.
Para o ativista angolano Osvaldo Caholo, a marcha de sábado revela que as coisas em Angola não mudaram como se faz crer: "Eu venho afirmando, desde o empossamento do Presidente João Lourenço, que é um 'remendo novo por cima de um pano velho'."
"O pano todo que está velho e está gasto é o MPLA. O problema de Angola é o MPLA. O MPLA traçou essa forma de colocar um remendo novo para enganar toda a sociedade, para se poder perpetuar no poder", afirma.
Marcha antecede "cultos de adoração"
O ativista diz que a marcha foi um regresso à "bajulação" do tempo de José Eduardo dos Santos. A seguir, deverão seguir-se "cultos de adoração a João Lourenço", comenta Caholo em entrevista à DW África.
"A bajulação nos órgãos públicos já é visível. Quem não alinha no pensamento de João Lourenço é considerado como sendo de outra ala", acrescenta.
Marcha do MPLA: Críticos queixam-se de "regresso ao passado"
MPLA salienta "capacidade organizativa"
Mas o MPLA, partido no poder desde a independência do país em 1975, não vê na marcha de sábado qualquer regresso ao passado. Para João Pinto, deputado pela bancada dos "camaradas", a marcha foi uma demonstração da "unidade do partido" em torno das reformas que visam melhorar o futuro do país.
"A marcha de sábado veio provar a capacidade organizativa do MPLA, a coesão que o MPLA manifestou no apoio à sua liderança, encabeçada pelo seu presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República, contrariamente ao que a oposição procurava manipular ou dar a entender, de falta de coesão", diz o parlamentar.
Para João Pinto, a marcha demonstrou que o MPLA está preocupado com o interesse público.
"Foi uma prova de que os militantes, amigos e simpatizantes do MPLA, para lá das suas empatias pessoais, têm noção de que há um programa, há um líder e há um interesse geral, contrariamente ao interesse particular ou privado", afirmou em declarações a DW África.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.