Moçambique: Marcha termina em detenções em Lichinga
Manuel David (Lichinga)
31 de agosto de 2019
Manifestantes exigiram providências sobre mortes de quatro mulheres ocorridas na maternidade do hospital da cidade esta semana. Polícia reprimiu com gás lacrimogéneo e deteve pelo menos 20 pessoas.
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Munidos de cartazes e faixas com dizeres de "Queremos parteiras e não assassinos", "Chega de mortes de mulheres e crianças na Maternidade de Lichinga", membros de diversas organizações da sociedade civil da capital provincial do Niassa saíram às ruas este sábado (31.08) para mostrar o seu desagrado com as mortes de mulheres grávidas na maior maternidade de referência da província.
Só nesta semana, quatro mulheres perderam a vida naquela enfermaria do Hospital Provincial de Lichinga. Alguns bebés também morreram. O facto que fez com que muitos saíssem às ruas para mostrar seu descontentamento ou dar o seu grito de socorro para que as autoridades possam pôr fim desta situação preocupante, segundo deu a conhecer Tino Daniel, ativista social e um dos mentores da marcha.
"A morte de uma docente universitária na cidade de Lichinga na terça-feira (27.08) e outras mulheres que vão naquela maternidade e voltam em caixões," teriam motivado o protesto, refere o ativista.
"Somos jovens, nos solidarizamos e achamos que é uma forma de chamarmos ou convidarmos a quem é de direito para poder mudar o cenário, porque estamos preocupados. Que se faça um inquérito porque essas mortes estão a tirar as vidas de muitas crianças e muitas famílias estão a perder os seus entes queridos," apela.
"Nós não queremos isso, razão pela qual nos juntamos para repudiar esses atos," acrescenta Tino Daniel.
Os casos relatados por Tito Daniel não são os primeiros casos de mortes de mulheres naquela unidade.
Para além da marcha deste sábado, já houve uma série de denúncias nas redes socais a reportar as situações desumanas naquela maternidade, sobretudo mau atendimento por parte dos profissionais da enfermaria, falta de oxigénio e de medicamentos, entre outros materiais.
Segundo informações de fonte do Hospital Provincial de Lichinga, a ministra do pelouro teria solicitado uma inspeção para averiguar a situação. Até o momento, não foram divulgadas as causas reais das reais mortes. As autoridades apenas dizem tratar-se de "complicações de parto".
Repressão policial
Entretanto, o protesto pacífico terminou em detenções. A polícia entrou em cena para impedir que a marcha continuasse nalgumas avenidas da urbe e usado gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
Pelo menos vinte pessoas foram detidas e encaminhadas à primeira esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Lichinga. Duas horas mais tarde, todos viriam a ser soltos.
No entanto, os manifestantes criticaram o modo como a polícia atuou. Segundo estes, a marcha era legal porque já tinham comunicado às autoridades sobre a sua realização.
"Estamos a fazer uma manifestação pacífica. Quando chegamos aqui na rotunda, nos lançaram gás lacrimogéneo. Não sabemos os porquês e outros tinham que fugir para dentro da igreja e, mesmo assim, a polícia foi lhes levar," descreve Silvina João, uma participante da marcha.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir as autoridades policiais em torno das detenções dos manifestantes da marcha.
Moçambique: As novas estradas do Niassa
Com a reabilitação das duas principais estradas do Niassa, a N13 e N14, vitais para o desenvolvimento da província, a ligação da região com o resto de Moçambique e países vizinhos torna-se mais rápida e segura.
Foto: DW/M. David
Mãos à obra
A província de Niassa, a mais extensa de Moçambique, é potencialmente rica em agropecuária, turismo, conservação, extração mineira, entre outras atividades. No entanto, o estado das vias de acesso constitui o principal entrave no desenvolvimento económico da província. Mas esse cenário já começou a mudar com as obras de reabilitação de várias vias.
Foto: DW/M. David
Estrada N13
Finalmente arrancou a construção da N13, estrada nacional que liga as províncias de Nampula e Zambézia, através da via do Cuamba. Também tem ligação com o vizinho Malawi, passando pelo distrito de Mandimba. A reabilitação está dividida em três partes: nas ligações de Lichinga-Massangulo, Massangulo-Muita e Muita-Cuamba. Estes são troços mais complexos devido às pontes que devem ser construídas.
Foto: DW/M. David
De Moçambique ao Malawi
Devido a relação de proximidade entre os dois povos, a estrada Mandimba-Malawi foi igualmente contemplada pelo projeto de asfaltagem. Neste momento, a estrada esta totalmente planada, faltando apenas o seu revestimento para permitir uma ligação mais efetiva entre os dois países vizinhos. O antigo troço dificultava a circulação de pessoas e bens praticamente em todas as épocas do ano.
Foto: DW/M. David
Estrada Montepuez-Balama
As obras de reabilitação e asfaltagem de cerca de 130 km de estradas decorrem a todo gás para que este troço esteja pronto até fevereiro de 2020. Trata-se de uma via que liga a cidade de Montepeuez, em Cabo Delgado, até Balama, no Niassa. O objetivo é assegurar a ligação entre as duas províncias nortenhas, sobretudo do Niassa ao porto de Pemba, dinamizando as trocas comerciais.
Foto: DW/M. David
Limite entre o Niassa e Cabo Delgado
Marrupa é o distrito do Niassa que faz fronteira com a província de Cabo Delgado através do distrito de Balama, separadao pelo rio Ruança. Do lado do Niassa a estrada está totalmente asfaltada. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a estrada em Balama, como mostra a foto.
Foto: DW/M. David
Vias alternativas com problemas
No intuito de acelerar as obras de reabilitação da estrada N13 sem criar grandes transtornos na mobilidade das pessoas e bens, as empresas encarregues do projeto de asfaltagem criaram desvios através de vias alternativas. Mas estas vias não estão em condições de transitabilidade e dificultam, principalmente, a circulação de viaturas de grande porte.
Foto: DW/M. David
Travessia mais segura
A ponte inaugurada em dezembro de 2018 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sobre o rio Lunho, no distrito turístico do Lago Niassa, é um alívio para a população local. Antes todos atravessavam o rio através de pirogas com risco de serem atacados por crocodilos. A ponte liga as zonas de Chuanga e Messumba, no distrito do Lago.
Foto: DW/M. David
Estrada N14 reabilitada
Com 455 km, a N14 liga a província do Niassa com a vizinha Cabo Delgado. Trata-se de uma estrada totalmente asfaltada e sinalizada e já aliviou muitos niassenses que passam por aquela via diariamente. A estrada conta com duas faixas de rodagem.
Foto: DW/M. David
"Desenvolvimento acelerado"
A reabilitação das estradas no Niassa já anima a população local. Euclides Tavares, que mora na capital provincial, acredita que estas obras poderão trazer um "desenvolvimento acelerado" para a região. "Acho que o Niassa vai mudar, porque o a província só está mais atrasada devido à degradação das estradas", diz o residente, que comemora o fim das obras na N14 - que liga Lichinga a Cabo Delgado.
Foto: DW/M. David
Impacto no futuro
Maria Orlando, também residente no Niassa, também comemora a conclusão das obras em algumas estradas. Para ela, estas vias "estão a trazer uma nova cara ao Niassa" e os seus impactos poderão se refletir no futuro da vida dos niassenses.