Mariano Bartolomeu quer mostrar Angola no cinema internacional
11 de julho de 2014 Angola é um território rico em matérias-primas, com muitas histórias para se explorar e contar através do cinema. O realizador angolano, a viver mais tempo nos Estados Unidos, quer trilhar os caminhos da terra natal e dar a conhecer um país ainda desconhecido.
Para isso, Mariano Bartolomeu está a trabalhar no novo projeto, que será a sua primeira longa-metragem, na qual pretende deixar a marca da sua longa experiência pessoal.
“Trata-se da história de um jovem urbano que, pela primeira vez, faz uma viagem pelo resto do país por terra e vai conhecendo as idiossincrasias culturais próprias do mundo rural, que ele não conhecia. Portanto, é uma descoberta da realidade angolana mais profunda que, em termos metafóricos, é também uma descoberta dele próprio”, conta o realizador da obra em género de filme de estrada ou “roadmovie”.
No segundo projeto, Mariano Bartolomeu aparece como coordenador e argumentista.
Este é um filme com contornos diferentes, “baseado em eventos históricos e numa figura histórica, mais especificamente baseado na missão do embaixador do Congo para Roma, no século XVII: o embaixador António Emanuele Ne Vunda que o rei Álvaro II decidiu enviar para ser seu representante junto do Papa e que acaba por ficar, durante a viagem, três anos retido na corte de Espanha do rei Filipe III”, detalha o realizador angolano.
O filme de aventura, assumido como um contributo para o conhecimento profundo da história de Angola, está nas mãos do produtor angolano Rui Costa Reis, que tem um estúdio em Hollywood, nos Estados Unidos.
Dar o salto para as salas de cinema
Mariano Bartolomeu, um dos pioneiros do cinema angolano, trabalha na sétima arte desde os 15 anos. Tem uma obra reconhecida, que mereceu homenagem na 3ª Mostra de Cinema de Angola, realizada a 2 e 3 de julho em Lisboa.
Terminado este ciclo da sua carreira dominado por curtas-metragens, o realizador quer dar o salto com um “filme de ficção a pensar nos grandes festivais, inclusive nas salas de cinema, para que seja visto não somente em festivais”, justifica Mariano Bartolomeu.
Entre estes, ambiciona chegar, possivelmente em 2015, a Cannes, Veneza e à Berlinale – festival internacional de cinema de Berlim. Nesta fase, a batalha é mobilizar apoios financeiros.
“Neste momento não tenho nenhum apoio nacional. Estou em conversações de uma maneira geral com fundos externos, de fundações de países ocidentais, como da Alemanha, quem sabe também da França e Portugal. Estamos a pensar, por exemplo, na Berlinale que tem um fundo ao qual estamos a concorrer e vamos ver se conseguimos”, afirma o realizador angolano.
Cinema é também liberdade
Um dos fundadores do Festival Internacional de Cinema de Luanda, Mariano Bartolomeu, reconhece que o cinema angolano tem conhecido evolução, com o contributo da jovem geração de realizadores.
Mas apela à criação de um fundo global de apoio à produção cinematográfica. Produção que deve acontecer em ambiente de total liberdade.
O cineasta angolano disse que nunca sofreu qualquer espécie de censura ou pressão, mas é de opinião que ainda é problemático o direito à liberdade de expressão e de manifestação em Angola.
“Deve haver mais” liberdades, sublinhou. “Angola é um país que está a evoluir para a democracia. E há involuções e evoluções. Mas de uma maneira geral tem-se a perceção de que as pessoas, muitas vezes, não conseguem dizer o que realmente querem dizer. Acho que tem de haver mais abertura, mais liberdade de expressão”, reiterou Mariano Bartolomeu.