De regresso à RDC, candidato presidencial luta por consenso entre a oposição e apela ao apoio de Tshisekedi e Kamerhe. Fayulu diz que ficou surpreso quando os dois líderes recuaram do acordo assinado em Genebra.
Publicidade
Martin Fayulu está de regresso à República Democrática do Congo, onde arranca esta quinta-feira (22.11) a campanha eleitoral para as presidenciais.
Apresentou-se como candidato legítimo da oposição às presidenciais.
Fayulu, líder de um pequeno partido com fraca representação no Parlamento, foi apontado, a 11 de novembro, como o candidato conjunto da oposição às eleições de 23 de dezembro.
No entanto, menos de 24 horas após a votação dos vários partidos da oposição, em Genebra, Felix Tshisekedi, presidente da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), e Vital Kamerhe, presidente da União para a Nação Congolesa (UNC), retiraram as suas assinaturas do acordo.
Ainda assim, Martin Fayulu, regressou esta quarta-feira (21.11) a Kinshasa, onde lançou, no Palácio Presidencial, a sua campanha. À DW, Fayulu confessa que foi com surpresa que recebeu a notícia de que havia perdido o apoio de dois dos líderes da oposição.
"No início, pensei que fosse uma notícia falsa. Nós assumimos o compromisso de livre vontade, sem pressões. Nas reuniões, em Genebra e Pretória, todos concordamos que era necessário haver um candidato comum", revela.
Isso mesmo continua a defender Martin Fayulu que pede a Felix Tshisekedi e Vital Kamerhe que reconsiderem a sua decisão.
"Este acordo que assinamos é precioso para o povo congolês que nos pediu para não o trair. Na manifestação de 29 de setembro, prometemos ao povo a união da oposição e um candidato comum. Eu apelo a estes dos líderes da oposição que reconsiderem a sua posição e voltem ao acordo que assinamos em Genebra", diz Fayulu.
22.11 Entrevista Martin Fayulu RDC - MP3-Stereo
Corrida presidencial
Na corrida às presidenciais de dezembro, estão 21 candidatos. Entre eles, Emmanuel Shadary, ex-ministro do Interior, apoiado pelo Presidente Joseph Kabila, há 17 anos no poder.
Os candidatos têm agora cerca de um mês para convencer os cerca de 80 milhões de eleitores de que são merecedores do seu voto.
Para já, o nome de Martin Fayulu não reúne consenso. Há os que entendem que o candidato da oposição poderá vir a destronar o regime de Kabila, e consequentemente, o seu candidato, mas há também quem questione a sua experiência no campo da política.
A estes, Fayulu responde, garantindo que o seu percurso nesta área teve inicio antes do de qualquer um dos restantes candidatos.
"Não há ninguém entre os 21 candidatos que tenha feito tanto em política como eu. O povo congolês chama-me de 'soldado do povo', de 'guardião do templo'. Se não tenho peso político, porque haveria de merecer estes apelidos ?", questiona.
Apesar do arranque da campanha eleitoral, existem muitas dúvidas sobre se será possível a realização das eleições na data prevista. Questionado sobre a viabilidade do calendário, Martin Fayulu diz que "a instituição que organiza o [pleito] que é a Comissão Eleitoral Nacional Independente - que de independente só tem obviamente o nome, mas que elaborou um calendário".
"Devemos, a todo custo cumprir, esta data. Se a Comissão Eleitoral falhar, terá que assumir as consequências", conclui.
Presidentes a todo o custo
São derrotados nas eleições, mas contestam os resultados. Mesmo depois de esgotarem todos os recursos, estes candidatos à mais alta magistratura continuam a reivindicar a Presidência.
Maurice Kamto: o auto-proclamado "presidente"
O candidato da oposição às presidenciais de 7 de outubro nos Camarões, Maurice Kamto, reivindica a vitória frente a Paul Biya. "Convido o Presidente da República a criar as condições para uma transição pacífica para proteger os Camarões de uma crise eleitoral desnecessária", declarou o líder do MRC - Movimento para o Renascimento dos Camarões.
Foto: AFP/Getty Images
Nelson Chamisa, o "presidente legítimo" do Zimbabué
O líder da oposição zimbabueana contesta a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas eleições de 30 de julho de 2018. Considera-se vencedor e reclama a cadeira presidencial numa cerimónia simbólica de tomada de posse, a 15 de setembro.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Cissé rejeita a tomada de posse de Keïta
Soumaïla Cissé não marca presença na cerimónia e fala num vazio de poder no Mali depois da tomada de posse "nula e de efeito nulo" do seu rival, Ibrahim Boubacar Keïta, a 4 de setembro de 2018. A 20 de agosto, o Tribunal Constitucional do Mali declarou Keïta vencedor das presidenciais com 67,16% dos votos na segunda volta de 12 de agosto contra os 32,84% de Soumaïla Cissé.
Foto: DW/K. Gänsler
Raila Odinga, efémero "presidente do povo"
A 30 de janeiro de 2018, o opositor que tinha boicotado as presidenciais de outubro de 2017 contra Uhuru Kenyatta autoproclama-se "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O país é palco de violência pós-eleitoral, mas, a 9 de março, Odinga e Kenyatta surpreendem ao anunciar a sua reconciliação.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee
Jean Ping : "Exercerei o poder que me confiaram"
Dois anos após as presidenciais de agosto de 2016, o líder da oposição gabonesa continua determinado. A 31 de agosto, numa cerimónia de "homenagem aos mártires" da violência pós-eleitoral, em Libreville, diz que quer continuar a sua "luta" para "libertar" o Gabão. Jean Ping deposita esperanças nomeadamente no inquérito preliminar do Tribunal Penal Internacional sobre a crise pós-eleitoral no país.
Foto: DW/A. Kriesch
Kizza Besigye, o eterno rejeitado
Em fevereiro de 2016, o opositor histórico enfrenta Yoweri Museveni pela quarta vez no Uganda. Quando Museveni é declarado vencedor e se prepara para prestar juramento para um quinto mandato, Kizza Besigye toma posse como presidente numa cerimónia alternativa. Afirma "ter provas" da sua vitória. Detido e condenado por alta traição, é libertado algumas semanas depois.
Foto: DW/E.Lubega
André Mba Obame, o outro adversário de Ali Bongo
Inspirado pelos acontecimentos na Costa do Marfim, o antigo ministro "AMO" autoproclama-se presidente do Gabão, em janeiro de 2011, 17 meses depois de perder as presidenciais frente a Ali Bongo. Acusado de alta traição, refugia-se numa agência da ONU. Os problemas de saúde põem fim às suas ambições presidenciais. A sua morte, em abrir de 2015, aos 57 anos, leva a confrontos em Libreville.
Foto: cc-by-sa Ernest A. TEWELYO
Étienne Tshisekedi, duas vezes "presidente"
Em 2006 e 2011, o líder do principal partido da oposição congolesa (UDPS) declara-se vencedor frente a Joseph Kabila e "presidente eleito". Toma posse na sua residência em Limete, arredores de Kinshasa. O seu estado de saúde deteriora-se em 2014 e em 2017 morre com o eterno opositor o desejo de ocupar a cadeira presidencial.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge
Laurent Gbagbo, opositor histórico
No ano 2000, o líder do FPI declara-se vencedor frente a Robert Gueï e pede aos costa-marfinenses que saiam à rua para fazer cair o general. Os manifestantes atacam os agentes de segurança do chefe da junta militar. Os protestos continuam até que a polícia e, mais tarde, o exército, começam a passar para o lado de Laurent Gbagbo.
Foto: AP
John Fru Ndi às portas do palácio presidencial
John Fru Ndi autoproclama-se presidente a 21 de outubro de 1992. Dois dias depois, o Supremo Tribunal declara Paul Biya vencedor do escrutínio presidencial. O fundador do SDF contesta estes resultados nas ruas. É declarado o estado de emergência no nordeste do país e John Fru Ndi fica em prisão domiciliária.