Uma pessoa morreu e 200 famílias ficaram desalojadas depois das chuvas e ventos fortes dos últimos dias na província de Manica, centro de Moçambique. No meio do caos, há habitantes que elogiam o trabalho do Governo.
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Há estradas cortadas e escolas fechadas. Em situação mais crítica encontram-se Báruè, Gondola e Machaze, três dos 12 distritos da província de Manica onde as chuvas e os ventos fortes sentidos nos últimos dias causaram grandes prejuízos materiais. Há estradas completamente intransitáveis.
Algumas famílias ouvidas pela DW África mostram-se satisfeitas com o apoio dado pelo governo através do Instituto Nacional de Gestão e Calamidades (INGC), que tem estado a oferecer tendas, plástico para cobertura, alimentação e cobertores.
Mau tempo deixa rasto de destruição em Manica
"Estamos felizes por vermos o que está a fazer o governo, que está a vir socorrer-nos", diz Alberto Pedro, um dos afetados pelo vendaval no distrito de Báruè. "A escola também acabou por ser destruída e temos crianças que estudam aí, da primeira à sétima classe", conta.
Moisés Thole, outro residente no distrito, viu a sua casa ser destruída pela intempérie. "Eu perdi muitas coisas, milho, pratos e toda a roupa. Estamos ao relento, mas as crianças não sofreram", relata.
Dezenas de alunos sem aulas
Uma escola de Báruè também ficou completamente destruída, deixando perto de 500 alunos sem aulas. "Neste momento estamos prejudicados, as aulas terminaram e para o reinício das aulas estaremos com dificuldades", afirma o diretor da escola, Manuel Victor Chacuamb, que pede apoios para a reconstrução das salas de aula.
Segundo o delegado do INGC em Manica, Teixeira Almeida, os técnicos já estão espalhados pelos distritos mais críticos para fazer o levantamento das necessidades, de forma a que os apoios sejam concretizados o mais rapidamente possível.
"Para além de montarmos tendas, distribuímos alimentação e também tivemos de apoiar em mantas. Doravante o trabalho continua no terreno e os colegas estão já a trabalhar ao longo da província", explica Teixeira Almeida.
Reserva Florestal de Mecuburi está a desaparecer
Uma das maiores reservas de Moçambique, em Nampula, norte do país, sofre com invasões e o desflorestamento. População que habita há décadas na área de conservação ambiental e vive da agricultura recusa-se a sair.
Foto: DW/S. Lutxeque
Área de conservação
A Reserva Florestal de Mecuburi, uma das maiores de Moçambique, está a desaparecer gradualmente. Medidas urgentes são necessárias na área de conservação localizada na província de Nampula, norte do país. Além de restauro, é preciso que mais de 40 mil habitantes, residentes no interior da floresta, abandonem aquela zona. Há também muitos furtivos no interior da mesma.
Foto: DW/S. Lutxeque
Invasão da floresta
Declarada como reserva em 1950 pelo então regime colonial, a Floresta de Mecuburi possui uma área de 250 mil hectares. Destes, 20 mil hectares são atribuídos à Sociedade Algodoeira de Namialo (SANAM). Grande parte da reserva já foi ocupada pela população, que procura na floresta por terras férteis.
Foto: DW/S. Lutxeque
Abate de árvores
A cada dia que passa, muitas espécies de árvores são abatidas, tanto pelos furtivos quanto pelas populações locais. A madeira é utilizada na construção de novas moradias e nas machambas (terrenos agrícolas). As autoridades não têm muita capacidade de fiscalização dada à insuficiência de fiscais florestais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Furtivos devastam a reserva
De 2009 e até finais de 2017, a Reserva Florestal de Mecuburi conheceu uma acentuada devastação por parte dos furtivos. A população local conta que os mesmos extraíam espécies madeireiras no período noturno. As madeiras na imagem estão na posse das autoridades governamentais do distrito de Mecuburi e foram apreendidas dentro da reserva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Ganhar a vida destruindo a floresta
Ligório José vive na vila-sede do distrito de Mecuburi, mas possui machambas dentro da reserva, onde produz diversos produtos agrícolas. Ele aproveita a extração dos recursos lá existentes para vender e sustentar a família. "Consigo paus, bambus e capim para vender, além das minhas machambas que aqui tenho", conta.
Foto: DW/S. Lutxeque
Fiscais sem subsídios
Mais de cem fiscais comunitários estão a abandonar a fiscalização da reserva devido à falta de pagamento de subsídios por parte das autoridades. Dinis Albino é chefe do povoado de Nametil e vice-presidente do Comité de Fauna Florestal. "Não há vantagem em trabalhar numa floresta maior como esta, quase todos os dias e sem sequer incentivos", diz.
Foto: DW/S. Lutxeque
Floresta cada vez mais ardente
As queimadas descontroladas e o desflorestamento são problemas que concorrem na destruição da floresta. Muitas vezes, são queimadas provocadas pela própria população para caçar animais de pequeno porte, como coelhos e ratazanas, e para praticar a agricultura.
Foto: DW/S. Lutxeque
Restauração
O reflorestamento total da Reserva de Mecuburi pode não ser fácil, devido às grandes áreas destruídas por queimadas, erosões e o abate de árvores. Entretanto, há um esforço visível de restauração. O Governo tem distribuído mudas às lideranças locais e aos habitantes para a substituição das árvores abatidas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Uma vida na floresta
Osvaldo João e Fátima António, de 21 e 19 anos respetivamente, vivem maritalmente dentro da reserva, onde nasceram. São pais de um recém-nascido. É na floresta onde se conheceram e fazem a sua vida. Osvaldo é desempregado, mas graças à produção agrícola consegue garantir o sustento da sua pequena família. "Não temos motivos de muita queixa, somos um casal feliz", diz.
Foto: DW/S. Lutxeque
População se recusa a sair
Estima-se que pouco mais de 40 mil habitantes residem na floresta. Além de rica em recursos florestais e minerais, a reserva possui uma terra fértil para a produção agrícola. "Sem indemnização, não abandonaremos a reserva. Nós fizemos a nossa vida neste local. Como é que ficarão os nossos pertences? O Governo tem de garantir as mínimas condições", afirma um morador.
Foto: DW/S. Lutxeque
Água imprópria para consumo
A população residente consome água imprópria, em parte, devido à insuficiência de furos mecânicos e aos preços da água tratada. Na zona de Nametil, dentro da reserva, existe apenas um único poço, que foi construído em 2010 como fruto da contribuição das populações. Como alternativa, os moradores consomem a água por vezes turva dos poços tradicionais, sem sequer cuidados.
Foto: DW/S. Lutxeque
Governo faz um apelo
A estrada na imagem separa a floresta e a zona tampão. Do lado esquerdo, é a área florestal restrita e, do lado direito, a zona onde a população está autorizada a viver. Entretanto, as pessoas recusam-se a marcar um só passo para fora da floresta. "O Governo vai continuar a sensibilizar as populações para o abandono da reserva", sublinha o fiscal Vasco Martinho.