O país africano, aclamado como modelo de democracia, está a celebrar os 50 anos da sua independência. E após os festejos, Ameenah Gurib-Fakim vai demitir-se devido a escândalo financeiro.
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Ambiente de festa no paraíso de férias: cerca de 1,2 milhões de habitantes celebram oficialmente na próxima segunda-feira (12.03) os 50 anos da independência das Ilhas Maurícias. Os festejos já duram há vários dias, com festivais e exposições no país – considerado um exemplo de democracia e desenvolvimento por várias ONG internacionais.
Mas nem tudo são pontos positivos: a Presidente da República da Maurícia, Ameenah Gurib-Fakim, envolvida num escândalo financeiro, deve demitir-se após as cerimónias dos 50 anos da independência, anunciou na sexta-feira (09.03) o primeiro-ministro, Pravind Jugnauth.
Atualmente a única Presidente em África, Ameenah Gurib-Fakim terá desviado fundos públicos. Gurib-Fakim tem sido alvo de pressão, devido a acusações de que utilizou um cartão bancário fornecido por uma organização não-governamental para fazer compras pessoais.
O escândalo foi revelado pelo jornal local Express. Segundo o diário, a ONG em causa é o Planet Earth Institute, financiada pelo milionário angolano Álvaro Sobrinho, que está a ser investigado por suspeitas de irregularidades em Portugal.
"Caso de sucesso"
Entretanto, as Maurícias são um caso de sucesso. É o que diz Alex Vines, investigador no instituto britânico Chatham House. As Ilhas Maurícias ocupam há cinco anos o primeiro lugar no índice Mo Ibrahim de boa governação em África. Também a organização não governamental Freedom House dá boa nota ao país no que diz respeito à política e aos direitos civis.
Desde a independência, em 1968, as Maurícias têm registado um desenvolvimento positivo – contrastando com os países vizinhos, como Madagáscar, marcados por golpes militares, ditaduras e violência.
Para Alex Vines, "o Governo tem mudado regularmente e há convivência entre partidos e alianças, por isso o país não tem sido tão marcado pelas políticas centradas em grandes estadistas que temos visto no continente africano". O investigador da Chatham House diz também que "tem havido uma maior tradição de pluralismo político" no país.
País multicultural
As Maurícias são compostas por várias etnias. Antes da chegada dos navegadores portugueses, no século XVI, a ilha era desabitada. No século XIX, os colonizadores britânicos trouxeram escravos e trabalhadores de outros países e continentes para as Maurícias, principalmente para trabalhar nas plantações de cana de açúcar. Os descendentes ficaram no país. Os habitantes são, na maioria, hindus. Um terço, cristãos.
A académica Christina Meetoo, da Universidade das Maurícias, acredita que a diversidade é uma das chaves do desenvolvimento da ilha. Mas sublinha que pode também dar origem a conflitos: "Um problema que ainda temos de resolver é a nossa identidade nacional. O país tem uma característica única: é composto por vários grupos étnicos e religiosos e às vezes é difícil lidar com isto, garantir que todos têm um lugar na sociedade, de forma inclusiva, garantir que há igualdade entre os diferentes segmentos".
Divisões sociais
Maurícias: Presidente vai demitir-se após celebrações da independência
E a tensão entre a maioria hindu e a minoria muçulmana está a agravar-se, diz Alex Vines. Também na economia há uma divisão. Com um PIB per capita de 7 mil e 800 euros, as Maurícias estão no topo da lista do continente africano, onde muitos países ainda são classificados "em desenvolvimento". O dinheiro já não vem do açúcar, mas sim do turismo e dos serviços financeiros – o país é um popular paraíso fiscal. Porém, nem todos beneficiam disto.
Segundo Alex Vines, que ressalta que um dos problemas do país é o aumento do desemprego jovem e da desigualdade, "as taxas de crescimento da economia das Maurícias têm sido impressionantes e há alguns vencedores, mas também há muitos derrotados. A classe média sente-se sufocada".
E é cada vez mais difícil para o Estado ajudar as pessoas em dificuldades. Christina Meetoo lembra que a dívida pública é elevada – uma consequência dos problemas económicos de anos anteriores.
"Temos um sistema de segurança social que queremos manter, educação e saúde gratuitas, transporte escolar e de idosos gratuito. Como é que equilibramos isto com o facto de não termos receitas suficientes para o Estado suportar isto? O défice continua a aumentar".
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.