Mauritânia vai às urnas nas eleições legislativas e locais
AFP | DPA | Lusa | tms
1 de setembro de 2018
Mais de um milhão de eleitores foram chamados às urnas este sábado (01.09). Oposição, que nas últimas eleições boicotou o pleito, participa e alerta para possível fraude eleitoral.
Eleições presidenciais de 2014Foto: SEYLLOU/AFP/Getty Images
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A Mauritânia vota este sábado (01.09) nas eleições legislativas, regionais e locais que testarão a influência do chefe de Estado Mohamed Ould Abdel Aziz, sete meses antes da votação presidencial.
Os militares votaram um dia antes para trabalhar na segurança durante as eleições deste sábado. Cerca de 1,4 milhões de eleitores foram chamados às urnas.
A votação começou às 7h da manhã locais. Na capital Nouakchott, vários eleitores foram enviados a diferentes assembleias de voto devido a mudanças de última hora, informou a agência de notícias France Press (AFP).
Presidente Mohamed Ould Abdel AzizFoto: AP
Depois de votar, o Presidente Mohamed Ould Abdel Aziz elogiou a "natureza pacífica e democrática" da votação. Mas uma figura da oposição, Mohamed Ould Moloud, denunciou obstáculos logísticos e insinua que o resultado eleitoral pode ser fraudado.
"Há eleitores que foram mal direcionados e não sabem onde votar", disse ele, acrescentando que "há sinais sérios de uma possível fraude".
A oposição boicotou as últimas eleições, em 2013, mas um recorde de 98 partidos está participando desta vez. A votação termina às 19h locais e os resultados não esperados até meados da próxima semana. Não há observadores internacionais. Uma possível segunda volta pode ocorrer a 15 de setembro.
Favoritos
Nestas eleições, a União para o Partido Republicano é a principal candidata, mas desta vez enfrentará o Fórum Nacional pela Democracia e Unidade, uma coligação de 11 partidos da oposição, e a União pelas Forças Democráticas, que boicotaram as eleições anteriores.
Espera-se que os partidos pró-governo conquistem a maioria dos assentos porque têm forte presença em todos os distritos eleitorais, ao contrário da oposição, que foi enfraquecida por anos de boicote. Os independentes não podem correr.
Este é a primeira vez que os conselhos regionais são eleitos no país. Eles substituem o Senado, que foi abolido em um referendo contestado no ano passado. As eleições deste sábado são vistas como uma janela para o desenrolar da eleição presidencial do ano que vem.
Presidenciais logo à frente
Aziz, 61 anos, que chegou ao poder em um golpe em 2008, venceu as eleições em 2009 e novamente em 2014 para um segundo mandato de cinco anos. E tem sido frequentemente acusado por figuras da oposição e organizações não governamentais de abusos de direitos, incluindo a prisão de um ex-senador e a detenção "secreta" de um ativista da internet.
Aziz diz que não tentará um terceiro mandato, o que seria contra a Constituição, mas declarações de ministros e apoiantes levantaram suspeitas de que o Presidente tentaria se perpetuar no poder.
Mauritânia, o último bastião da escravatura
Na Mauritânia, no noroeste da África, a escravidão é uma amarga realidade. Estima-se que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes do país vivem na escravatura, em um sistema de enraizada discriminação étnica.
Foto: Robert Asher
Nascidos na prisão
Na Mauritânia, no noroeste da África, a escravidão é uma amarga realidade. Estima-se que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes do país vivem na escravatura. Como seus irmãos, Schweda (na foto) nasceu na escravidão, a nordeste do Saara. Depois que seu irmão, Matallah, conseguiu libertar-se, ele a resgatou juntamente com seus filhos para a liberdade, em março de 2013.
Foto: Safa Faki
Situação de extrema pobreza
A seca ao longo de 25 anos transformou a sociedade nômade mauritana em acomodada. Mas a transição foi difícil e, com uma taxa de desemprego de 40%, muitas pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia no país.
Foto: Robert Asher
Sobreviver de qualquer jeito
Nos arredores da capital da Mauritânia, Nouakchott, surgiram favelas. Aqui, ex-escravos e a empobrecida população rural local vivem em um gueto de barracos com telhado de zinco.
Foto: Robert Asher
Repressão por todo o país
A escravidão não é a exceção na Mauritânia. Mbarka nasceu escrava e tinha de servir a uma família rica em Nouakchott. Em 2011, ela foi libertada com o apoio do ativista Biram Abeid e sua organização Iniciativa para o Ressurgimento do Movimento Abolicionista (IRA, na sigla em inglês).
Foto: Robert Asher
A luta pela liberdade
Boubacar Messaoud (à esquerda), da organização não-governamental SOS Escravos, ajudou na libertação de Matallah (à direita) e, mais tarde, também na libertação de sua irmã Schweda com seus nove filhos. Ambos pertencem à "casta de escravos" negros africanos de Hratine que é reprimida pelos berberes árabes brancos.
Foto: Robert Asher
'Casta de escravos'
Os Hratine ocupam o mais baixo nível social e econômico. Não há estatísticas confiáveis sobre a distribuição da população, mas grupos de direitos humanos estimam que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes da Mauritânia vivem na escravatura, em um sistema de enraizada discriminação étnica.
Foto: Robert Asher
Uma sociedade sem pais
"Na escravidão, os pais são irrelevantes", diz Boubacar Massaoud da SOS Escravos. "Não há o papel do pai, pois o senhor dos escravos possui as mulheres e, quando elas engravidam e têm filhos, ele pode vendê-los ou fazer o que quiser com eles."
Foto: Safa Faki
Justiça rara
Yarg (à direita), de 11 anos, é um dos poucos ex-escravos da Mauritânia que conseguiram, com sucesso, levar os seus senhores a um tribunal. O homem foi condenado a dois anos de prisão - por um crime que teoricamente tem uma pena mínima de 10 anos.
Foto: Robert Asher
Fosso entre ricos e pobres
A Mauritânia é um dos países mais ricos da África Ocidental. No entanto, os rendimentos da pesca e dos recursos naturais quase não beneficiam a maioria da população.
Foto: Robert Asher
Luta pela sobrevivência
A família de Matallah - aqui sua esposa e seus filhos - vivem em amarga pobreza. Apesar dos desafios, eles puderam manter a sua dignidade e a fé em um futuro melhor.